Eu sou uma daquelas pessoas antigas que não consegue falar com máquinas. Nunca deixo recado em secretária eletrônica (e se deixo, em casos nos quais não tem outro jeito, minha voz sai bem triste, desolada) e fico extremamente irritada quando ligo para centrais de atendimento que me obrigam a falar com o telefone. É ridículo.
Qual não foi minha surpresa ontem, contudo, quando resolvi entrar em contato com a “operadora” de internet e TV à cabo Net e seu novo e descontraído sistema de reconhecimento de voz.
Alguém deve ter avisado eles que as pessoas se sentiam intimidadas a falar com uma voz cuja origem humana inexiste, e seguindo tendências do mercado da robótica, a Net humanizou a mulherzinha-máquina que fala com você no atendimento.
O texto: “Eu posso te ajudar com várias coisas, (…), ou até comprar coisas, tipo filmes e canais.”
E daí, você fala as coisas pra máquina e ela te diz: “Uhm, entendi.” Sim, com aquela entonação de entendimento e comprensão tão calorosa. “Espera um minuto pra eu localizar o seu cadastro.”
“Então… sua área está com um problema no serviço de telefone. O problema é que a gente não tem previsão de retorno do serviço. Mas saiba que estamos fazendo o possível para que seu telefone volte a funcionar.”
Gostaria de frisar que o “Então” proferido pela gravação vem acompanhado do tom reticente, característico do “veja bem, amigo” e das falas coloquiais. Impressionante. Caloroso. Humano.
E extremamente assustador.
Fico pensando se, num futuro próximo e amedrontador, a gente iria na loja comprar a secretária eletrônica e poderia escolher, no catálogo, entre os diversos perfis, o mais adequado pra sua situação familiar (baseado sei lá em quê, mas enfim):
- Homem, 65, aposentado. Meio gordo, problemas cardíacos e de pressão. Meio folgado.
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Tags: isaac azimov, reconhecimento de voz, secretária eletrônica, telemarketing