O assassinato de Isabella Nardoni e a falta de vergonha na cara
Não costumo falar de coisas sérias aqui, porque de seriedade já basta a necessária na profissão e tudo o mais. Mas é que esse assunto é diferente.
É impressionante como todo mundo parece ter uma opinião sobre o assunto. O dia inteiro, em qualquer lugar que você vá, as pessoas estarão falando disso. O mais curioso é que todo mundo já tem condenação e sentença certa pro pai e pra madrasta. Que grande absurdo é ver aquele bando de vagabundo na frente da casa dos avós, esperando só uma chance pra jogar uma pedrinha. Uma só.
A questão é que dezenas de crianças morrem diariamente de maneiras iguais ou bem mais cruéis do que a pobre Isabella. É um sem-número de Isabellas pretas e pobres se fudendo todos os dias, no Brasil e no mundo. E ninguém dá a mínima pra elas. Não mesmo. Aliás, segundo esse blog, uma criança é assassinada a cada 10 horas no Brasil. São, tipo, doze Isabellas por semana. Nos dias úteis, né, que é quando o país funciona.
Crianças morrem o tempo todo e ninguém tá nem aí pra isso. Pior: crianças são violentadas, apanham, se prostituem, passam fome o tempo todo. No Brasil e no mundo. Todo o caso Isabella é uma puta hipocrisia. Odeio essa palavra, mas não existe outra.
Digite “criança morre” no Google. Crianças morrem atropeladas, sufocadas, por envenenamento, esquecidas em casa, em acidentes de carro, de fome, com marcas de violência e inclusive por quedas de janelas de apartamento (isso, aliás, acontece o tempo todo). Crianças morrem até imitando o Naruto.
E ninguém quer apedrejar ninguém por causa disso. Então, trate de tomar vergonha na cara e continuar vivendo sua vida. Assuma você não se importa, como não se importa com as outras crianças menos favorecidas economicamente que morrem de maneira pior, com as crianças que morem um pouquinho todo dia, e que vai esquecer a Isabella daqui uma semana, assim como esquecu o João Hélio.
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