O início do fim do capitalismo
Eu sou ‘de esquerda’ desde antes de saber o que isso queria dizer. Sempre fui a favor dos direitos das minorias, bem antes de eu saber que isso significaria uma posição política.
Não acho que existe contradição entre ser socialista e, sei lá, comer no McDonalds de vez em quando. Uma coisa não tem nada a ver com a outra. Eu não concordo com as condições do sistema estabelecido, mas ele é o sistema estabelecido e eu vivo sob essas condições. E também não enxergo contradição nenhuma entre querer ganhar dinheiro e ser a favor de um regime de esquerda. Eu gosto de conforto. E para adquirir conforto, preciso de dinheiro. É bem simples. Se eu precisasse de palitinhos, ficaria empenhada em ganhar palitinhos.
Não existe nada de errado com o capitalismo, exceto o fato de que tem muita gente ganhando muito pouco dinheiro, o que não lhes permite ter condições básicas de vida, e pouca gente ganhando mais do que o necessário para ter uma vida confortável. Para mim, isso é o suficiente para dizer que é um sistema que não funciona.
Depois que entrei na faculdade, estudei (muito pouco) sobre os sistemas econômicos, seu início, meio, fim e substituição. E dois professores nos fizeram entender que todo sistema econômico já implantado teve contradições, e ruiu sob suas próprias contradições, dando lugar a outro sistema - esse, que corrigiria as contradições do anterior, mas apresentaria novas contraidções, eventualmente, e seria substituído por outro… e assim sucessivamente.
A primeira contradição do capitalismo se apresenta de maneira bem simples. Como é um sistema baseado na acumulação de capital e no lucro, ele gera a redução do poder de compra da população, que vê seu salário reduzido para aumentar os lucros dos donos das empresas. Com salário baixo, não há consumo; se não há consumo, não há lucro.
A outra contradição do capitalismo reside no consumo desenfreado de recursos. A matéria prima para a maioria das coisas é esgotável. E se não há mais petróleo, não se produz plástico; se não há mais ferro, não se fazem mais latinhas. E quanto maior o consumo, maior a produção e maior o consumo etc.
E as coisas estão ficando complicadas para o capitalismo.
A verdade é que o capitalismo é tão frágil quanto qualquer outro sistema. ‘Livre-mercado’ é papo furado - só é defendido quando a intervenção do Estado acaba prejudicando os investidores. Agora, que eles precisam de ajuda financeira do povo - o pacote americano custa 700 bilhões de dólares, o suficiente para comprar, tipo, duas Dinamarcas - a intervenção do Estado não é só bem vinda. É fundamental.
Não me lembro dos investidores de Wall Street recorrendo ao Estado interessados em dividir com a população os lucros astrônomicos conquistados em épocas de vacas gordas. Ironicamente, há sim algo que os capitalistas ficam felizes em socializar - o prejuízo.
Não costumo falar dessas coisas aqui, mas para começar, é um assunto simples - embora pareça complicado - e que diz respeito a todo mundo. Em segundo, eu esperei muito tempo por esse momento para deixar que ele passe em branco.
Os especialistas dizem que esse é só o primeiro dominó caindo. As conseqüências podem ser gritantes. Mas é a grande chance de tentarmos alguma outra coisa. E aqui não falo de um sistema Marxista propriamente, mas alguma outra coisa, se é que existe um sistema 100% justo.
Enquanto isso, estoure a pipoca, acomode-se em sua poltrona e assista ao espetáculo da queda do capitalismo. Vai ser memorável.
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