17.11

2008
6:00 am

Juventude perdida

Postado em Crônicas

Na minha época, a gente chamava de ‘pestinha’ aquelas crianças mal-comportadas. Mas naquela longínquia época, ser travesso era colocar um papel escrito ‘me chute’ na blusa do inspetor. Aquelas crianças seriam pequenos e doces anjos comparados aos monstrinhos de hoje.

Isso sim é saber lidar com valores desde cedo. Sacou? Ahn?

Eu tenho aversão a crianças mal-educadas – e a seus pais. Adoro crianças gentis, inteligentes, que não gritam e não se jogam no chão e não são o Pedro Lourenço, mas elas são cada vez mais raras hoje em dia.

É claro que os pais são responsáveis por um criança chata, mas ainda assim eu acho complicado culpar alguém por isso, porque criar uma criança deve ser algo muito difícil. Se diz ’sim’, ela fica mimada e não sabe lidar com derrota; se diz ‘não’, frustra a criança. Penso que não é como um bichinho virtual, que só precisa de comidinha e brincadeiras, mas também não é como o bebezinho que a gente cria no The Sims, que impossibilita que você mantenha qualquer outra atividade, tipo ir ao banheiro e se alimentar, já que ele demanda 102% do seu tempo. Acho que eles exageram, nunca ouvi falar de mães que façam xixi nas calças na vida real por falta de tempo de ir ao banheiro, e no The Sims isso já aconteceu umas 5 vezes comigo.

Acontece que a criança é o mimetizador mais eficiente do universo. Todas as coisas que ela faz, aparentemente, são produzidas por repetição daquilo que vê os adultos fazendo. E isso é algo muito ruim. Imagine que, se você tiver um filho, terá que se policiar todo o tempo com as coisas que diz e com a maneira como se porta em relação aos outros.

E daí explica-se por que existe tanta criança babaca no mundo: os pais babacas, provavelmente sem se darem conta disso, se portam como babacas o tempo todo, inclusive na frente dos filhos, que se tornam pequenas cópias fofas (até certo ponto) e insuportáveis deles.

Claro que isso resulta um mercado fantástico para as psicólogas por aí, e é por isso que eu acredito que nesse mundo de deus tudo tem seu papel. A Supernanny que o diga.

Tô rica rsrsrsrs

Os buffets infantis, por exemplo, se aproveitam da existência desses pais babacas no lindo ecossistema que é o capitalismo. Esse lugares oferecem um rol de atrações cada vez mais excêntrico, sob o prisma de ‘original’, ‘divertido’ e ‘entretenimento’, e os pais acham isso fantástico, claro, pois festa infantil para crianças até uns 3 anos é para pais e familiares exibirem o herdeiro e ganharem presentes, que a criança mesmo nem sabe o que tá havendo. Entre essas novas features de festas de crianças, já vi slideshow com retrospectiva da VIDA de uma criança de DOIS ANOS, show de mágico, tirolesa e mini-balada, e o mais recente e mais escroto, que é uma foto do busto da criança de uns dois metros de altura na frente do buffet, que é para os convidados identificarem o lugar já da rua (e os seqüestradores saberem direitinho quem devem levar).

Isso é algo que eu não faria em nenhuma hipótese, já que eu correria o risco de fazer meu filho pensar que ele é mais importante do que é. E veja bem, o problema nem seria frustração de quando ele descobrisse que não é tão importante, anos depois, mas sim a possibilidade de que ele jamais descubra – isso realmente me assusta.

Se eu tiver um filho, o que eu queria é que ele fosse tão astuto quanto uma menininha de uns 9 anos que vi hoje na livraria do shopping. Apontando para a capa da biografia da Amy Winehouse, ela disse: “olha, mãe. Essa é aquela mulher louca. A cantora louca, sabe?”

Tão nova e já por dentro das nuances da cultura pop.

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4 comentários (Comente! Trackback)

  1. alina
    17/11/08 | 7:44 pm | #

    uma vez, uma mulher perguntou para freud sobre como deveria criar seus filhos…

    freud: “não importa o que faça, será mal feito.”

    ééé. acho que ele tem um POUCO de razão. hsuahsaushua

    [me identifiquei com a história de as mães das minhas famílias do the sims... (Y)]

    Responder

  1. Rubens
    19/11/08 | 11:46 am | #

    É nisso que dá ficar mimando os filhos. Alguns “NÃO” acompanhados Uns tapas de vez em quando não vão fazer mal a ninguém.

    Responder

  1. Lannes
    19/11/08 | 4:31 pm | #

    Duas observações:

    1? Não seja Au Pair NUNCA na sua vida. Eu sei bem do que digo. Principalmente de crianças americanas. Ouié baby, tenha piedade de mim.

    2? Não vou ter filhos.
    Isso vem do lance de colocar criança no mundo pra sofrer, responsabilidades stuffs eeeeee, agora na experiência magnifica! [pffff] de ser baby sitter.

    E tenho dito.

    Responder

  1. Caroline
    08/01/09 | 8:53 pm | #

    Cheguei no teu blog porque eu to aqui de Isaura nos estados unidos cuidando de uma crianca que meu deus… se eu te contar.. “senta q la vem historia” ainda bem, AINDA bem que eu to indo pra casa… ta foda viu. mas bom saber que o modo com o que eu penso faz sentido e eu não sou a louca mimada da historia.

    Responder

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