22.05
2009
2:32 pm
Até que ponto vai a minha - e a sua - honestidade?
Postado em Brasil, Crônicas, Entretenimento, TecnologiaEssa semana aconteceu uma dessas coisas que deixou a comunidade em polvorosa.
Quando me refiro à comunidade, infelizmente não estou falando do meu bairro e do grupo que o compõe, visto que aqui a gente não forma uma comunidade - eu mal sei a cara dos meus vizinhos de porta, quanto mais quem são as pessoas que moram na mesma rua, o que é triste. ‘Comunidade’ é a galera do Twitter. É que já tá me dando no saco ter que comentar algo dizendo que foi assunto do Twitter essa semana. Me deu preguiça de ficar falando nele. Como o Caio Blat me dá preguiça na novela das 8.
Enfim. A Fnac, a loja online, deu um pau numa madrugada essa semana e começou a vender tudo por R$ 9,90 + frete.
Daí, óbvio, maluco começou a comprar adoidado. Teve gente que colocou no carrinho Macbook de R$ 9,90 e TV de Plasma de 52′ pelo mesmo valor. Ah, mais o frete, sem esquecer disso.
Óbvio que no dia seguinte a carruagem virou abóbora e era tudo um erro do site, que cancelou as compras, apoiado pelo Procon, que sabiamente alegou que o consumidor que tentou adquirir o produto por um preço claramente irreal e, depois de saber que era um erro, ainda tenta recebê-lo, está agindo de má-fé.
Eu concordo.
Quando você entra no site da Fnac e vê que um Macbook está custando R$ 9,90, você sabe que algo está errado. Você adquire mais de um, avisa seus amigos. Você faz isso porque sabe que, tecnicamente, está amparado pela lei do consumidor, que diz que a partir do momento em que o produto está anunciado por um preço e você o adquire, a loja é obrigada a entregá-la. E você faz isso tudo sabendo que aquilo é, com toda a certeza, um erro, porque isso é 1000 vezes menos o preço de um Macbook.
Daí, quando a loja anuncia o erro, como era de se esperar, você quer se valer da lei pra continuar tirando vantagem de algo que claramente não faz sentido.
Pra mim, equivale a querer tirar vantagem em cima do erro dos outros, e é tão desonesto quanto soa. E foi isso que eu disse na comunidade pras pessoas - é agir de má-fé, ponto.
Só que eu imaginei que se eu tivesse de madrugada online, fazendo nada, e soubesse do #Fnacfail, eu com certeza teria comprado algo. Com certeza. Pelo menos um Macbookzinho, ah, eu teria. Suspeitaria, contudo, do erro. E quando ele fosse anunciado, aceitaria de bom grado a devolução do dinheiro na fatura do meu cartão.
E isso faz de mim uma hipócrita das grandes.
E é a pior das hipocrisias, porque não parece uma (ao menos pra mim, não me sinto mal). Veja bem, posso me defender dizendo que a oferta gera uma expectativa. Por mais irreal que o preço pareça, e se deu a louca na Fnac? Pô, o preço tá lá. Tentar não custa - se anunciarem o erro, ok, fico na minha, recebo meu dinheiro de volta. Na minha cabeça, ser sacana é usar a legislação pra tentar receber o produto. Tentar comprá-lo pelo preço que está lá e torcer pra que entreguem não tem nada de errado.
Só que se eu sei que existe algum erro na história - porque isso eu sei - e torço pra que esse erro persista até que eu tire benefício dele, então isso está errado. Tão errado quanto estão as pessoas que tentaram recorrer judicialmente pra receber Macbooks de R$ 8,90 e tal. E é nessas horas que eu me pergunto - até que ponto vai a minha honestidade?
Você se consideraria desonesto se tentasse adquirir um produto por um preço claramente irreal, ainda que não se manifestasse contra caso a loja informasse o erro posteriormente? E se o erro persistisse e o produto chegasse até você, você fingiria que nunca houve erro? De quem é o erro maior - da loja, cujo sistema falhou, ou das pessoas que se aproveitaram dessa falha?
Sério, me ajuda aí porque minha cabeça tá em parafuso.
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Tags: caráter, Fnac, honestidade, Internet, pessoal e cotidiano, teste de honestidade
Camila Reply:
May 24th, 2009 at 12:02 am
quanto radicalismo e revolta!
Concordo que pagamos caro por alguns produtos que em outros países é muito mais barato.
Mas discordo quando vc fala que a culpa é do sistema capitalista e das instiuições e empresas que visam lucro.
As empresas tem como objetivo inicial o lucro, ninguém trabalha de graça certo?! mas em contraponto, elas que geram os nossos empregos.
Estude bem as aliquotas absurdas dos impostos cobradas pelo governo (estadual, federal e municipal) chamados PIS, COFINS, ICMS e IPI para vc ver a carga tributária que incide sobre os produtos que consumimos, desde o simples arroz com feijão desde um carro, celular ou notebook.
Empresas como FNAC são movidas por “funcionários humanos” e não robôs, ou seja, estão suscetiveis a erros como vc e como eu!
Não podemos agir de má fé e condená-los a pagar caro por isso, aposto que já foi muito sacrificante voltar atrás nas vendas e pedir desculpas a milhares de consumidores, estornar todos os pagamentos, etc.
Ou vc nunca errou no seu ambiente de trabalho e depois correu atrás para consertá-lo?!
pense nisso!
bjos
Responder