“Cuméquichama… viquiliques lácumé”
Todo mundo mantém em segredo alguma parcela da opinião que tem sobre os outros. Às vezes, porque os defeitos não importam muito quando a gente gosta do outro. Às vezes, porque sinceridade demais é indelicado e, às vezes, porque sua opinião simplesmente não foi requisitada.
Imagina só se, de repente, todas as nossas opiniões desimportantes e um pouco críticas sobre os outros, aquelas que a gente diplomaticamente mantém em segredo pra garantir bom convívio social e sobrevivência, de alguma maneira viessem a tona? Consegue imaginar o casos? Provavelmente não sobraria ninguém gostando de ninguém. Seria um mundo repleto de rancor, fofocas, despeito e vingança.
O mundo diplomático está passando por uma crise parecida com essa aí por causa de um maluco chamado Julian Assange, um cara que criou um site - o Wikileaks, para quem ainda não fez a ligação, o Viquiliques, para o presidente - para onde qualquer um pode mandar documentos confidenciais, aqueles segredos de estado top secret. Pela primeira vez na história, as pessoas que definem como são as relações entre os países, e portanto, definem se estaremos vivos ou se seremos atingidos por um míssil nuclear na semana que vem, precisam tomar cuidado com o que dizem.
Elas não estão acostumadas a isso, e eu não as culpo; ninguém está. No lugar delas, eu também gostaria de ver o responsável por isso morto. No meu lugar, eu acho tudo muito engraçado e revolucionário (desde que não chegue na parte que envolve os mísseis nucleares).
A parte ruim é que estão querendo encurralar o pobre do Julian Assange (é o cara que criou o site, gente).
Acusaram-no de estupro lá na Suécia. Acabou que o crime foi não usar camisinha com duas mulheres com quem ele se relacionou em uma semana (a maior prova que ter um site famoso faz você comer mais gente), e isso pode ser considerado uma espécie de assédio sexual de menor intensidade lá na Suécia. Pra começar, se vira moda isso ser crime, eu não quero nem pensar no que aconteceria. Em segundo, a moça que o acusou tem ligações com a CIA e não é a primeira vez que trabalha para a organização nessa história de incriminar alguém sexualmente. Em terceiro, colocar a INTERPOL atrás de um cara porque ele transou sem camisinha, novamente, abre uma jurisprudência perigosa.
Julian não cometeu crime nenhum. Ele divulga documentos liberados por informantes - não é que ele invade os escritórios e rouba papéis das pastas -, trabalha em conjunto com grandes jornais como o El País e o The New York Times, que o ajudam a checar a veracidade das informações que recebe e divulgou, na metade do ano, crimes de guerra importantes cometidos pelos EUA no Iraque.
E a cruzada contra ele é GERAL. Da Amazon à Visa, todos estão tentando impedir que o cara continue fazendo o que faz, e ele já se entregou pelos crimes dos quais é acusado na Suécia (RISOS, CRIME, RISOS). E como mencionou o copanhêro lá em cima, são todas formas de mascarar violações severas da liberdade de expressão.
Ainda bem que podemos contar com o submundo da internet para garantir que nossos direitos não sejam cerceados. Há uma CYBERGUERRA em andamento, agora: um grupo organizado de ativistas hackers está focando as organizações que boicotaram deliberadamente o Wikileaks e provocando ataques organizados contra os sites dessas empresas. Mastercard e Visa já caíram; Paypal é o próximo alvo.
Julian Assange não é ingênuo - provavelmente, em algum momento nas últimas semanas depois do cablegate, ele soube que DEU MERDA. Por isso, se eu (que sou menos inteligente) estivesse no lugar dele, a essa hora já teria criado centenas de mirrors (cópias online) do Wikileaks, (QUER DIZER, http://213.251.145.96/mirrors.html, obrigada @felds) além de orientar algumas outras pessoas para que elas continuassem recebendo os documentos enviados pelos informantes. Se eu estiver certa, a treta felizmente está longe de acabar.
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