Viajando de graça (e comendo comida do lixo)

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Postado em 17 de Aug de 2011

Nesse tempo na Europa, percebi que dá pra viajar baratinho por aqui - e em qualquer lugar - se planejando com alguma antecedência e sendo uma pessoa, hum, simples. Com as companhias aéreas low cost e as passagens de ônibus, dá pra cruzar distâncias longas com 30, 50 euros. As passagens noturnas de trem te economizam na hospedagem. Tem os hostels, que no leste oferecem uma cama honesta e, às vezes, café da manhã tipo hotel, por uns 15 euros. E se você não for comer naqueles lugares que são claramente pra turistas e procurar os restaurantes e cantinas em que os locais fazem as refeições, bom, dá pra passar o dia com 25, 20 euros numa boa em alguns países.

Claro que você vai passar por coisas tipo ninguém falar inglês no restaurante e não ter um menu em inglês, ou você chegar de noite e ter alguém na sua cama no dormitório, ou dormir em um cubículo chacoalhante de 6 metros quadrados num trem de 15 horas onde se acomodam 6 pessoas em bancos que viram leitos. Mas foi por isso que eu mencionei o termo ‘pessoa simples’ lá em cima: é que precisa estar disposto a algum nível de aventura. Quem não tá, e pode pagar a mais pelo conforto, contrata uma agência de viagem. Mas também viaja sem surpresa.

Esse só tem três leitos, mas coloque mais três do lado direito pra ter uma ideia

E bem, é duplamente divertido viajar sozinha e em baixo custo. As coisas são bem mais espontâneas, apesar de um planejamento inicial ser necessário pra manter o budget baixo. Você conhece bem mais gente sozinho, e não precisa entrar em uma discussão só porque metade do grupo quer ir ver o museu e a outra metade quer ir ver a estátua. Não corre o risco de brigar com seu melhor amigo, o que é frequente, já que os melhores amigos na terra natal podem se tornar as piores companhias do mundo pra viajar se os dois não estiverem no mesmo ritmo. E com menos bagagem e menos roupa, você viaja mais confortável, carregando menos peso e fica mais livre. Principalmente, se questiona sobre o que é realmente essencial pra viver bem.

Mas esses clichês existencialistas não são a questão aqui. A questão é que eu fiquei sabendo, durante meu último mochilão, que tem gente que viaja o mundo de graça. Eu passei pela Grécia, pela Romênia, pela Hungria e terminei na República Tcheca. Também a propósito, Budapeste foi minha preferida, de longe, mas isso fica em outro post.

Não se trata daquela história BE A TRAVEL WRITER AND TRAVEL THE WORLD FOR FREE, que né, isso aí não funciona exatamente assim. As técnicas pra quem viaja de graça não são nada sofisticadas, e embora não sejam o créu, exigem disposição e habilidade.

Desculpe. Meu humor piorou muito aqui na Holanda.

De todo modo, na Romênia surfamos no mesmo couch eu e um espanhol chamado Guillermo, um professor de matemática barbudo e de cabelo comprido, com uns dentinhos bem brancos, que não devia ter 30 anos. No fim, passamos só uma noite no mesmo apartamento: cheguei e ele se foi na manhã seguinte. Mas conversamos bastante. Os papos de couchsurfers são sempre os mesmos, na verdade - idiomas, costumes, comida, viagens. Geralmente é isso, ao menos no começo. E eu não tô reclamando.

Daí que os hosts tão querendo fazer uma viagem de volta ao mundo daqui um ano ou dois, e perguntaram ao Guillermo, que já tá na estrada há um tempo, quanto ele gasta por mês viajando. Guillermo disse que geralmente gasta de 150 a 200 euros por mês, o que já é bem pouco. Mas que poderia chegar a 50 euros. E que conhece gente que viaja a zero.

Não duvidei, porque ele não é o tipo de pessoa de quem a gente duvida. Mas perguntei como, claro, porque qualquer um perguntaria.

Ele explicou.

“Eu acampo, faço couchsurfing, pego carona. Se vejo uma árvore cheia de frutas, encho os bolsos e a mochila. Acabo gastando só com comida, e no supermercado.”

É, mais isso não explica quem viaja de graça. Ele terminou. “E quem chega a zero, faz tudo isso, e também procura o que comer no lixo.”

"Você se surpreenderia com o que encontraria no lixo"

Ele explicou que fez isso uma vez e que a gente se surpreenderia se visse o que as pessoas jogam fora. E que os melhores lixos são os de supermercado, porque eles dispensam embalagens fechadas que passaram da validade recentemente, mas que segundo o bom senso, ainda podem ser consumidas.

Ah, além disso, quem opta por esse ESTILO DE VIDA também fica rondando turistas marotos em restaurantes e se apossa dos restos que nego deixa no prato. Justo.

Procurar coisa no lixo tem um nome em inglês, e chama Dumpster Diving, ou Skipping, na Inglaterra. O NYT tem uma matéria legal sobre o assunto. Eu tenho muitos amigos que moraram nos EUA, na Inglaterra e na Austrália, e lembro que todos eles vasculhavam o lixo em busca de eletrônicos e móveis: encontravam de bicicleta a sofá e iMac funcionando. Tinha gente que mobiliava a casa nessa onda aí.

Mas nunca tinha ouvido falar de quem faz isso pra procurar comida, quer dizer, por opção. Porque Dumpster Diving pra viajantes é uma opção, afinal, você sempre pode pegar uma carona de volta pra casa se não tiver mais dinheiro pra comprar comida. O mais perto que eu cheguei disso foi aos 13 anos, quando alguém no prédio jogou fora uma raquete de tênis bem pesada, e quando eu fui lá jogar o lixo vi a raquete. E peguei pra mim, só porque achei legal. Nunca joguei tênis.

Sei de gente (muita, muita) que passa a vida inteira reclamando que não tem dinheiro pra viajar e tal, mas depois dessa temporada eu descobri que dá pra fazer muita coisa com pouco dinheiro. Não necessariamente precisa ir pra longe de casa, né, que o Brasil tá cheio de coisa pra ver. Eu mesma nunca fui pra Paranapiacaba, por exemplo, que fica perto de casa. Esse post da Helô é um exemplo legal de que dá pra sair por aí sem gastar muito, e veja você, ela nem pegou comida no lixo.

Sim, essa refeição é composta apenas de itens que foram encontrados exatamente como você está pensando que foram

Percebi que Dumpster Diving é mesmo um estilo de vida porque tem todo um conceito acoplado. Primeiro o nome chique - magina que aqueles mendigos que pegam coisa do lixo aí no Brasil sabem que tem um nome tão legal pro que eles provavelmente consideram bem ruim de fazer? Depois, tem um conceito de sustentabilidade, reaproveitar e tal. A gente sabe que normalmente se desperdiça muito, e essas pessoas estão só se aproveitando disso. Todos os outros pilares da ideia de viajar de graça se baseiam em conceitos que envolvem reciclar, dividir, reaproveitar - Couchsurfing, caronas, acampar. No fim, você vai precisar de uma mochila com umas trocas de roupas e uma toalha leve, um computador, uma barraca e só pra sair no mundo.

A pessoa que eu sou hoje não comeria comida do lixo por opção. Mas não tenho nada contra, até porque sou contra pouca coisa nessa vida. A pergunta que eu te faço, caro leitor leite com pêra, é: você faria? E antes de responder, analise o blog desses caras e as fotos das refeições que eles fizeram durante uma viagem em que só comeram coisas que acharam do lixo. A foto aqui em cima é de um dos banquetes deles.

E se você curtir a ideia, o WikiHOW tem até um guia pra você são sair catando coisa errada nos lixos por aí. Vai lá

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