O dia em que eu quase conheci os caras do Muse
Eu já falei uma vez sobre a energia em um show de rock. Um show de rock é sempre intenso se a banda e platéia estiverem na mesma sintonia. Mesmo pra aqueles que estão ali meio perdidos, sem saber direito o que está tocando e porquê, o show pode ser memorável porque a egrégora - o coletivo dos pensamentos compartilhados por muitas pessoas, em sintonia - do show acaba por influenciar mesmo quem não estava exatamente pensando a mesma coisa.
O show do Muse em São Paulo na última quinta, dia 31, foi um exemplo rico dessa situação. No começo do show, tinha bastante gente parada, perdida, sem cantar (mesmo com a letra aparecendo no telão, o que pra mim merece ser motivo de estudo antropológico). No fim do show, elas pareciam ter se encontrado.
(Se você quer uma resenha redondinha-jornalística-informativa do show, leia meu texto pro portal do Estadão)
Existem pessoas estúpidas em todos os lugares. Na igreja. Na praia. No campo. Na AACD. Na televisão. Nas favelas. No Morumbi. Na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê. Não importa onde você vá, do que as pessoas neste lugar gostam, como elas são: uma parcela delas sempre será estúpida. É estatística.
Os estúpidos do show do Muse estavam lá no meio, pouco atrás de mim, e acharam que seria divertido começar a empurrar de maneira deliberada, desmotivada e proposital quem estava na frente. Logo depois do empolgante bocejo show do Jay Vaquer.
(Parênteses: sobre o Jay Vaquer, só digo que foi uma escolha infeliz da produção. E também digo que é necessário respeitar o cara que tá ali fazendo o trabalho dele, seja chato ou não.)
Devido a porcentagem estatística de idiotas presentes no show do Muse, fiquei absolutamente sem ar bem, bem antes do show começar. Aí desisti e fui lá pra trás.
Láááá atrás tinha uma espécie de balcão. Era um espaço aberto, mais alto que o nível do chão e do qual era possível assistir o show de maneira extremamente satisfatória.
Os ets chegaram pouco antes do bis
Duas coisas que me surpreenderam: ao vivo, as músicas deles poderiam muito bem ser dos Deftones ou coisa assim. É um peso absurdo, coisa que a gente não imagina que três caras consigam fazer. Além disso, eles têm uma porção de canções muito boas de cantar, porque têm falsetes e ‘Ôô’s e isso é tipo isca pra quem tá lá embaixo, assistindo. E são canções que funcionam ao vivo, porque utilizam a dinâmica ‘crescente’ de verso-e-refrão com muita, muita [créu] habilidadji [/créu]
É desses ‘Ôôs’ que eu tô falando. Arrepiô!
E o show foi indo de maneira bem satisfatória. Você sabe que um show tá legal quando as pessoas ao seu redor cantam todas as músicas e você está no fundo do lugar. Até que um cara cutucou minha amiga e entregou a ela um papel:
Ops, papel errado. Foi esse aqui:
MUSE S. PAOLO AFTER SHOW PASS
E de repente nos demos contra que tínhamos nas mãos um convite para a festa pós-show com os caras da banda. Tipo filme, sabe.
Tentei aproveitar o show até o final, mas a partir da oitava música não foi mais a mesma coisa. Ainda assim, aproveitei tudo e tal. Quando acabpu, depois de enfrentar descrença por parte da segurança (’Você é de onde? Isso não serve pra nada’), insisti pra falar com a produção. Eles trataram bem, mas explicaram com certa impaciência que era realmente uma festa fechada com os caras da banda, que podíamos ir, mas ninguém mais poderia entrar com a gente (e estávamos com mais três pessoas). E estavam um pouco incrédulos com o fato de termos aquilo.
Ok, tínhamos contra nós o seguinte:
1 - Era a primeira vez na vida que eu dirigia em SP sozinha. Não sabia sequer voltar pra casa direito;
2 - Eu não sabia chegar até o local da festa (O Cafè de la Musique);
3 - Eu não tinha certeza, mas talvez tivéssemos que pagar pra entrar - e o Cafè é caro. Muito caro. Especialmente se o Muse estiver dentro dele, sabe;
4 - Eu tinha comigo, dentro do carro, três pessoas sem convites;
5 - Era noite e, se eu me perdesse, seria realmente difícil pedir informações;
6 - Eu estava de calça jeans e All-Star, sabe. Eu não poderia ir ao Cafè de la Musique de calça jeans e All-Star.
Beleza, seis coisas. Mas eu tentei, sabe. Eu até tentei. Só que perdi a entrada da avenida onde ficava o lugar e, na boa, estava chegando na Raposo Tavares e precisava voltar pra Santo André.
Consegui fazer o retorno e fui pra casa, triste por ter perdido uma oportunidade única nessa vida, mas crente que quando não é pra ser, não é.
Além disso, o show já valeu a pena por si só porque:
1 - Foi um bom show;
2 - Encontramos sósias do Macauley Culkin e do Christian Sheperd;
3 - Me confundiram com a Mallu Magalhães. Não vou comentar isso;
4 - Tenho em meu poder um papelzinho azul exclusivo do Muse, rabiscado por alguém do staff da banda, e dizendo que SE EU QUISESSE EU PODERIA IR A UMA FESTA COM ELES. Eu tinha a opção, sabe. O importante é ter a opção;
5 - Graças ao show, escrevi meu primeiro texto assinado no portal do Estadão.
Considero o saldo positivo. Pô, fui num puta show, de longe um dos melhores da minha vida. Vou ficar me queixando por causa de uma festa?
*Primeiras duas fotos por Ênio, o maluco loco de Curitiba. Veja os vídeos dele aqui.
**Se você não viu nenhum dos links, aqui tem minha resenha sobre o show no estadao.com.br e os vídeos que eu fiz do show no Youtube.
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