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Meus desenhos secretos

Minha mãe sempre desenhou pra gente (ela tem umas noções boas, mas nunca foi profissional nem nada), e por algum motivo genético ou desconhecido eu e meu irmão crescemos com noções boas de desenho. Ninguém é gênio, longe disso, mas nossas idéias de espaço, formas e até de observação e reprodução são um pouco mais aguçadas por natureza.

Quando era menor, até uns 13 anos, meu grande sonho era fazer aulas de desenho. Nunca quis ser desenhista, mas eu sempre adorei desenhar e sabia que, se pudessem me ensinar um pouco mais de técnica, eu poderia até ser considerada alguém que desenha bem.

Nunca aconteceu. Desde então, fiquei empregada durante um tempo numa daquelas empresas toscas que pintam muros e depois fui pro Guarujá, desenhar em azulejo e vender na beira da praia desencanei da porra toda e virei mais uma rabiscadora sem compromisso. É uma espécie de compulsão: eu não posso ter papel e caneta na mão, não importa onde eu estiver, e uma ou mais folhas saem inteira rabiscadas. São desenhos, frases engraçadas pescadas na ocasião (normalmente durante a aula) e ilustrações perturbadoras.

Duas gravuras me assombram desde os 10 anos. Elas são recorrentes nesses rabiscos - a maioria deles é inconsciente, a caneta corre pelo papel automaticamente, e normalmente no final eu percebo que influente é aquele que de repente não deixa de lutar pela sua gente.

Essa foi uma rima Marcelo D2 meets Netinho. Voltando, o lance é que normalmente eu só percebo o que saiu no final. Pois bem. A primeira figura que sempre sai do meu inconsciente é um número 45.

O 45 se manifesta em diferentes tipologias, grafismos, até por extenso (assim mesmo, quarenta e cinco). Escrevo o 45 no papel desde muito tempo. Desde então especulo sobre o motivo do algarismo estar tão impregnado no meu inconsciente. Já cogitei ser a idade com que eu vou morrer. Já cogitei ser meu número da sorte. Já cogitei até, embora muito brevemente, ser uma PSDBista enrustida, idéia que rapidamente foi recusada.

Depois de anos fui saber a resposta. Li O Guia do Mochileiro das Galáxias, e então soube que a resposta para a questão da vida, do universo e de todas as coisas é 42. E bem, eu nunca fui muito boa de conta, então devo ter arredondado errado ou algo assim.

O outro desenho que sempre apareceu é um coqueirinho numa ilha. Mar azul ao redor, gaivotas voando e gritando por liberdade (?), cocôs côcos maduros (eu realmente escrevi cocô da primeira vez) ameaçando atingir a areia e longas e fluídas folhas verdes balançando ao sabor do vento. Ah, o bucolismo. O coqueiro (como eu chamo minha obra máxima) está em todos meus cadernos, blocos de notas e folhas soltas desde que eu tinha 9 anos. Já na faculdade, aprendi que a reprodução da obra faz com ela perca sua aura e se desvalorize, mas a reprodução d’O Coqueiro, pra mim, só agrega valor à criação. Já fiz O Coqueiro preto e branco; estilizado; em carvão; fiz de cera, pastel, canetinha e em todos os tipos de técnica que aprendi no Art Attack. Durante a sexta série, cheguei inclusive a desenhar algumas cópias encomendadas. O Coqueiro fez muito sucesso naquela turminha e eu inclusive escutava uns ‘olha, você desenha bem!’ Tudo por causa d’O Coqueiro.

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February 13th, 2008 | 3 Comentários

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