A saga da artesã
Daí eu tava esperando o ônibus que me levaria à faculdade e noto um menino esquisito atrás de mim na fila. Nesse preciso momento, uma simpática tiazinha se aproximou vendendo pulseirinhas de palha e seguiu-se o diálogo que reproduzo abaixo:
Tia: Compra uma pulseira pra me ajudar. É só 1 real.
Menino esquisito: Aaah. Uma pulsiera. Uma pulseira?
Tia: É, pra me ajudar. Custa só um real, ai você já me ajuda.
(Eles sempre usam esse argumento do “pra me ajudar”. É óbvio que é pra ajudar, mas é uma coisa tão estúpida dizer “é pra me ajudar”, porque parece que eles estão assumindo o quão indesejável é o produto deles. Tipo, “compra essa pulseirinha pra me ajudar, afinal, por ela mesmo que não vai ser, porque é feia pra caralho”)
Menino esquisito: Ah! Quanto é?
(Repare que nesse momento ela já havia dito - não uma, mas duas vezes - o valor do regalo.)
Tia: É um real.
Menino esquisito: Hum. Você tem troco?
Aí, eu notei que o menino esquisito era do segundo tipo de pessoas que eu mais odeio na terra: aquelas que vão comprar itens de 0,30 R$ e entregam uma nota de 20 R$. Já o vi tirando 50 paus da carteira e esperando que a tia, que vendia pulseirinhas a um real - e portanto teria, além das moedas e das notas de um, no máximo umas duas de cinco - tivesse troco. Mas eu estava profundamente enganada.
Tia: Pra quanto?
Menino esquisito: Pra R$ 2,00.
É!
E não acaba aí. Ela disse que tinha troco sim, e ele continuou. Aqui, uma pequena observação: não sei vocês, mas eu quase sempre reconheço uma pulseira e suas principais funções quando vejo uma - aliás, a taxa de reconhecimento é de praticamente 100% quando a pessoa que me mostra a pulseira diz que está vendendo uma pulseira. Ainda mais no caso de pulseirinhas de palha com conchinhas, hit do verão de 84 que tem sido, desde então, reproduzido incessantemente por artesãos ao redor dos trópicos. I mean - é um teco de palha. Você só pode usá-lo amarrando em algum lugar, naturalmente.
Menino esquisito: E… como é que se usa isso?
Tia (entrando no jogo e se esforçando pelo 1 real mais suado de sua vida de vendedora de tranqueiras): Você pode usar no pulso, como uma pulseira, ou no tornozelo, como tornozeleira.
:O
O menino ficou olhando com uma expressão surpresa para o incrível acessório que tinha acabado de adquirir. Era, afinal, uma pulseira que podia ainda servir como tornozeleira e tinha custado apenas um real. A tia percebeu que ele ainda estava confuso e resolveu amarrar o pedaço de palha no pulso dele.
Tia: Olha, amarra assim, bem forte, e aí depois você corta-
Menino esquisito interreompendo a tia brucamente: Não! Não precisa amarar forte…
Ela deu um sorriso amarelo diante da intervenção inesperada, mas terminou de amarrar, sorriu, agradeceu e foi embora*. Assim que ela virou as costas, o menino tirou a pulseira e enfiou no bolso.
*A conversa durou muito mais. Ele inclusive chegou a perguntar se era difícil de fazer a pulseirinha. Ele também perguntou pra mim umas 15 vezes (sem exagero, a mulher que tava atrás na fila até olhou pra minha cara) se eu já tinha pegado aquele ônibus antes. Mas a tia foi ficando impaciente, e vocês também, então eu resumi a estória.
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