Uma crônica sobre situações chatas de passar
Poucas coisas são mais constrangedoras nesse mundo do que as várias situações que envolvem encontrar na rua pessoas conhecidas ou quase conhecidas.
As possibilidades de constrangimento são inúmeras. Falo, hoje, de uma situação em especial: quando alguém te cutuca e você não se lembra da pessoa.
Ontem, porque a vida é uma caixinha de surpresas e isso nunca acontece, rolou um stress na estação de trem Tamanduateí. Enquanto eu corria de uma plataforma para a outra tentando pegar o trem certo, senti um toque (uh!) no meu ombro.
Me virei lentamente, e me deparei com a expressão sorridente e estranhamente familiar de uma menina que tinha mais ou menos a minha idade. Acontece que a familiaridade dela, na hora, me pareceu daquele tipo de ‘expressão que todo mundo acha familiar’. Sabe aquele fulano que, todo mundo que vê, diz que conhece de algum lugar? Então. Existem umas pessoas assim, de fisionomia familiar. Essa moça era uma delas. E eu sou boa de fisionomias… da dela, não me lembrava. Nada. Um tiquinho.
Na hora, desesperada com o sorriso de puro reconhecimento e contentamento da moça, minha mente entrou em parafuso. Tudo isso, gostaria de salientar, aconteceu em fração de segundos. O que você faria se alguém absolutamente desconhecido sorrisse para você de maneira simpática, claramente dizendo - ainda que sem pronunciar uma palavra - “olá minha grande amiga, é maravilhoso te reencontrar por acaso!”
Como ela não disse nada, só sorriu, eu tinha algumas opções. A primeira era dizer… “Oi?”, com um tom claro de dúvida, o que a faria dizer quem ela era. A segunda era corresponder alegremente e sorrir tanto quanto ela, mas essa nunca dá certo, a não ser nos filmes. A terceira… a terceira não existe, oficialmente, mas eu inventei-a na hora.
Eu disse, com toda segurança e auto-confiança adquirida em anos de terapia jungiana:
“Eu não te conheço.”
Não foi de maneira dura, ou ofensiva, contudo. Meus lábios até se curvavam num meio sorriso. Eu apenas afirmei, com toda a certeza, que nunca tinha visto aquela louca na minha frente.
Notei uma breve, mas quase imperceptível, mudança de expressão. Ela se virou para a amiga que a acompanhava e gargalhou. Voltou-se para mim, de novo, e disse: “você não é amiga do giu?”
E bem, aí fudeu tudo, porquê eu realmente sou, lembrei vagamente de onde a conhecia e a cena, que antes tinha TUDO ao meu favor, deu um rodopio. Pra caralho. Ela sorria, triunfante.
Gaguejando, eu disse que era, sim, amiga do Giu. A estranha começou a balbuciar coisas sobre outra amiga em comum nossa, eu fiquei sem graça e arrematei, claro, porque eu não consigo deixar de falar merda um segundo sequer da minha adorável vida: “ah, então eu te conheço. Quer dizer, eu não te conheço, porque não lembro de você, mas você me conhece…”
Antes que ela me estapeasse, perguntei seu nome - que, cazzo, não lembro, ou seja, foi só pra ganhar tempo -, e aquele silêncio palpável de tão denso se estabeleceu. Aí, antes que eu pudesse dizer tchau, ela foi mais rápida e rumou em direção ao lado oposto da plataforma. Sabiamente.
Moral da estória: da próxima vez, vou tentar ir só pelo “Oi?”, mesmo.
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February 21st, 2008 at 10:58 pm
Isso é a pior coisa que existe. E normalmente quem lembra de você é a pessoa mais obscura que ficou menos tempo falando contigo.
mas durante o texto todo eu fiquei com uma dúvida… qq houve com o seu template bonitinho?
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February 21st, 2008 at 11:18 pm
Hahahaha. Eu sempre sou a pessoa que lembra das outras, mas eu nunca demonstro isso, afinal a pessoa pode não se lembrar de mim. E tem mais, se você realmente fosse amigona dela (e obviamente vc se lembraria dela se fosse) vocês teriam assunto, mas como você para alguém numa estação de trem num lugar qualquer porque reconheceu alguém que viu algumas vezes? Não faz o menor sentido.
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February 22nd, 2008 at 12:37 am
Nigel,
Qdo vc fez a pergunta, vim olhar do que vc estava falando. E, acredite, me surpreendi tanto quanto você. Aparentemente, foi só colocar o ‘template bonitinho’ de volta. Ufa, pq ele deu um trabalhão…
Eric, normalmente eu tbm sou a pessoa que lembra das outras… mas não as cutuco, tbm, pq nunca acho que elas vão lembrar. Bom, essa vez foi exceção.
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February 22nd, 2008 at 8:41 pm
Eu acho que se uma pessoa é suficientemente esquecível para que você se esqueça dela, não tem pq se sentir culpado(a) por ter esquecido quem ela é. Talvez a pessoa seja muito legal, mas nunca chamou sua atenção.
Outro dia vi minha mãe sustentar 15 minutos de conversa com uma mulher que ela nem lembrava quem era. E a conversa terminou sem que a mulher soubesse que minha mãe não lembrava dela. Isso que é talento!
Acho que não sou muito cutucável… Nunca ninguém que eu não lembrasse se deu ao trabalho de falar comigo. Não sei como reagiria. Talvez eu pulasse na linha do trem sei lá.
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February 23rd, 2008 at 3:46 am
Casos e acasos, porque a vida é arte do encontro embora seja feita totalmente de desencontros como o seu!
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January 29th, 2009 at 6:51 pm
Puxa, eu sou daquelas que se lembra de todo mundo por fisionomia, ou até o nome, mas acabo não lembrando de onde conheço as figuras… Faço uma geral na minha vida, faculdade, trabalho, praia, etc…
Mas o inverso também acontece, como foi o seu caso… Se eu não conhecer realmente, digo “Desculpa, mas eu não lembro de onde…” é melhor do que dizer “Eu não te conheço”. Já caí em muita saia justa com isso e aprendi a pedir pra me refrescarem a memória…
abs
Anne
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