Síndrome do sábado à noite

É como eu batizo a depressão que me atinge se eu não sair de casa nesse fatídico dia da semana. Quero dizer, à noite.

Explico. Quando eu costumava trabalhar, a noite de sábado era a única da semana que antecedia uma manhã sem a necessidade de acordar cedo. Era óbvio que, como todas as pessoas normais, eu reservaria o período de horas compreendendo o fim da noite de sábado e o ínicio da noite de domingo para fazer o que eu não podia fazer a semana inteira: me divertir com meus bons amiguinhos.

A depressão de sábado à noite se manifesta quando essas pessoas não te ligam no sábado à noite - e quando você mesmo liga pra ver o que houve, descobre que elas tem outro programa e que ele não te inclui. Absolutamente. Tipo, com outros amigos.

E beleza, claro que você não é uma criança estúpida e mimada (?), e então você compreende porque seus amigos não são exclusivos, e você simplesmente desliga e liga pra outro amigo.

Que também vai sair com outras pessoas.

Mas não!, você é bravo. E maduro. Você sorri e respira fundo. Busca outro telefone, afinal, você tem muitos amigos. E liga. Pra descobrir que a terceira pessoa também tem outro programa.

Beleza, beleza. Então essa noite de sábado foi regada à terceira temporada de Lost, Lavanderia MTV e A Shot at Love, o programa da MTV cuja protagonista é uma mulher desinibida, bissexual e com nome de tequila. E bem, eu me diverti, e tentei não ficar paranóica, porque afinal, eu não posso desmonstrar cíumes e possessividade insatisfação com meus amigos - eles não têm culpa de nada.

Tipo, se você for parar pra pensar, isso é só uma tentativa minha de ser a amiguinha legal, madura e politicamente correta, mas está óbvio que na hora eu fiquei muito puta da vida com todos eles, que pensei todas as coisas horríveis, que jurei que ia ficar indiferente no próximo sábado… tudo isso é sintoma da síndrome. Sério. E, claro, todo mundo é meio que normal e se sente assim. E tem que assumir que ficou puto. Acho.

Só que um sonho relacionado, que eu prefiro não descrever o conteúdo, fudeu tudo. Agora, estou de mau-humor. Uma extensão, tipo um efeito colateral da síndrome de ontem à noite. Isso não tinha acontecido antes - se bem que meus domingos normalmente são uma droga se eu não saio de sábado…

Estou digredindo, óbvio, afinal estou meio com sangue nos olhos (porque sim, o domingo está sendo uma merda). Mas olha, acho que o único jeito é, por hora, mandar todos meus amigos insensíveis tomarem no cu. Vão tomar no cu! Sério, muito.

Outra saída é descolar um remédio pra TPM. Porque, vamos combinar, ficar pensando “ninguém gosta de mim” não é normal. Sério.

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March 16th, 2008 | 2 Comentários

Interpolando

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Um dia, anos atrás talvez, ouvindo “NYC”, do Interpol, cuja parte final da letra diz “It’s up to me now turn on the bright lights”, eu imaginei que seria a música ideal pra fechar um show, porque seria o momento de acender as luzes.

Ontem, no Via Funchal, o Interpol não terminou o show com NYC - mas nesse trecho da canção, as luzes foram acendidas sim. E deu pra ver as milhares de pessoas de mãos erguidas e gritando a letra a plenos pulmões.

Não existe espetáculo de entretenimento mais impressionante e apoteótico do que um bom show de rock. Alguns dirão que jogos de futebol são muito mais emocionantes. Talvez sejam, mas eles guardam uma peculiaridade com a qual os shows de rock não precisam se preocupar: num jogo de futebol, nem todo mundo ali tá unido pelo mesmo sentimento. Se você olhar pro outro lado da arquibancada, vai ver outros milhares de pessoas, e o mais triste - da tristeza delas depnde sua felicidade, e vice-versa. No show de rock nunca é assim. No show de rock todas as pessoas estão ali porque aquela banda significa algo pra ela; todas querem um show excelente, inclusive a banda. São milhares de pessoas, num mesmo lugar, querendo algo ao mesmo tempo. Às vezes, dizem, isso basta.

Quem gosta de rock’n'roll sabe o que eu digo. Um bom show lava a alma. Anula todas as preocupações do dia-a-dia, tira o peso do ombro, todas essas coisas. E ninguém espera que uma bandinha como o Interpol seja capaz de fazer um show tão fantástico.

Explico o “bandinha”. Eu acho que o Interpol é uma dessas bandas que vão passar. Como todas essas coisas novas que a gente ouve. Poucas delas, de fato, vão ficar. O Interpol não é grande, não é popular, sua música não é assimilada facilmente, e apesar de ser ótima, não é revolucionária nem tão apaixonante - ao menos, não para a maioria.

Mas a vida e o teor dela é toda definida por expectativas, e em certos casos, baixá-las pode ser um bom negócio. Ontem, o Interpol, a bandinha, os cinco caras blasè e impecavelmente vestidos, fizeram um show fantástico, longo e intenso, para oito mil pessoas que cantaram a plenos pulmões quase todas as músicas. E, por causa disso, eles passam de “esquecíveis” para memoráveis, só porque naquela noite toda a sintonia foi perfeita e quem esteve lá soube que aquele foi um momento pra lembrar.

Claro que nada disso seria possível se não estivéssemos na era do download musical e se o dólar nção estivesse caindo e caindo. Mas não quero falar disso.

Agradecimentos ao meu pai, que comprou o ingresso; a um dos meus melhores amigos, que foi comigo (do contrário, teria tido que achar uma das várias pessoas [pouco] conhecidas, ou ver o show sozinha); ao Interpol; às pessoas legais, indies e fashionistas que foram ao Via Funchal ontem, e que sabiam todas as letras; a Sasha e principalmente pra você (piada vééééia).

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March 12th, 2008 | 3 Comentários

Paciência é uma virtude…

….e a vingança é um prato que se come frio. Além disso, quem tem boca vai à Roma, e mais vale um pássaro na mão do que dois voando. Por isso, volto depois que a turbulência passar - lembrando, sempre, que depois da tempestade vem a bonança.

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March 11th, 2008 | Comente

Age of Understatement é a nova canção de Alex Turner com Miles Kane do Rascals

O Alex Turner, do Arctic Monkeys, mora (ou morou) com Miles Kane, um cara de outra banda, The Rascals. Digamos assim que há tempos tá rolando o boato de um projeto paralelo, o Last Shadow Puppets. Pois é, o projeto fechou com a Domino pra lançar CD logo e o primeiro single, homônimo do CD, Age of Understatement, caiu na rede.

Achei demais.

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March 6th, 2008 | 1 Comentário

Avril Lavigne compra botas brasileiras

Da Folha Online:

A cantora canadense Avril Lavigne, 23, encomendou um par de botas ao estilista brasileiro Fernando Pires, informa a colunista da Folha Mônica Bergamo. Avril pediu um modelo de couro, número 37, de cano alto, bico fino, salto de 9,5 cm e com listras brancas e pretas. O conteúdo da Coluna Mônica Bergamo é exclusivo para assinantes UOL ou Folha.

Avril Ramona Lavigne Whibley nasceu em Belleville, Ontário, em 27 de setembro de 1984. (…)

Eu não faço faculdade de jornalismo pra isso. Por favor.

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March 4th, 2008 | 4 Comentários

A saga da artesã

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Daí eu tava esperando o ônibus que me levaria à faculdade e noto um menino esquisito atrás de mim na fila. Nesse preciso momento, uma simpática tiazinha se aproximou vendendo pulseirinhas de palha e seguiu-se o diálogo que reproduzo abaixo:

Tia: Compra uma pulseira pra me ajudar. É só 1 real.

Menino esquisito: Aaah. Uma pulsiera. Uma pulseira?

Tia: É, pra me ajudar. Custa só um real, ai você já me ajuda.

(Eles sempre usam esse argumento do “pra me ajudar”. É óbvio que é pra ajudar, mas é uma coisa tão estúpida dizer “é pra me ajudar”, porque parece que eles estão assumindo o quão indesejável é o produto deles. Tipo, “compra essa pulseirinha pra me ajudar, afinal, por ela mesmo que não vai ser, porque é feia pra caralho”)

Menino esquisito: Ah! Quanto é?

(Repare que nesse momento ela já havia dito - não uma, mas duas vezes - o valor do regalo.)

Tia: É um real.

Menino esquisito: Hum. Você tem troco?

Aí, eu notei que o menino esquisito era do segundo tipo de pessoas que eu mais odeio na terra: aquelas que vão comprar itens de 0,30 R$ e entregam uma nota de 20 R$. Já o vi tirando 50 paus da carteira e esperando que a tia, que vendia pulseirinhas a um real - e portanto teria, além das moedas e das notas de um, no máximo umas duas de cinco - tivesse troco. Mas eu estava profundamente enganada.

Tia: Pra quanto?

Menino esquisito: Pra R$ 2,00.

É!

E não acaba aí. Ela disse que tinha troco sim, e ele continuou. Aqui, uma pequena observação: não sei vocês, mas eu quase sempre reconheço uma pulseira e suas principais funções quando vejo uma - aliás, a taxa de reconhecimento é de praticamente 100% quando a pessoa que me mostra a pulseira diz que está vendendo uma pulseira. Ainda mais no caso de pulseirinhas de palha com conchinhas, hit do verão de 84 que tem sido, desde então, reproduzido incessantemente por artesãos ao redor dos trópicos. I mean - é um teco de palha. Você só pode usá-lo amarrando em algum lugar, naturalmente.

Menino esquisito: E… como é que se usa isso?

Tia (entrando no jogo e se esforçando pelo 1 real mais suado de sua vida de vendedora de tranqueiras): Você pode usar no pulso, como uma pulseira, ou no tornozelo, como tornozeleira.

:O

O menino ficou olhando com uma expressão surpresa para o incrível acessório que tinha acabado de adquirir. Era, afinal, uma pulseira que podia ainda servir como tornozeleira e tinha custado apenas um real. A tia percebeu que ele ainda estava confuso e resolveu amarrar o pedaço de palha no pulso dele.

Tia: Olha, amarra assim, bem forte, e aí depois você corta-

Menino esquisito interreompendo a tia brucamente: Não! Não precisa amarar forte…

Ela deu um sorriso amarelo diante da intervenção inesperada, mas terminou de amarrar, sorriu, agradeceu e foi embora*. Assim que ela virou as costas, o menino tirou a pulseira e enfiou no bolso.

*A conversa durou muito mais. Ele inclusive chegou a perguntar se era difícil de fazer a pulseirinha. Ele também perguntou pra mim umas 15 vezes (sem exagero, a mulher que tava atrás na fila até olhou pra minha cara) se eu já tinha pegado aquele ônibus antes. Mas a tia foi ficando impaciente, e vocês também, então eu resumi a estória.

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March 3rd, 2008 | 3 Comentários
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