Como vocês notaram, o design mudou, mas por enquanto só funciona no Chrome. Peço paciência: meu programador prometeu que arruma até hoje (sexta, 28) e eu tô confiante.
O Panamá é um lugar legal e quente pra caramba, quente demais. É tipo uma sauna a céu aberto: todo lugar tem um ar condicionado muito, muito frio, e quando você sai parece que entrou em um carro que ficou 8 horas no sol, sabe? Aí, você tem choque térmico e fica doente. Eu fiquei quando cheguei, mas agora já tô boa. Parei de suar, também. Você chega e fica suando que nem um porco, o tempo todo. Depois de uns 3 dias passa, acho que o corpo se acostuma ao calor. O lado bom: tô bebendo litros de água todo dia.
Tô aqui na casa do meu pai, um apartamento de três quartos no 18º andar de um bairro que é tipo uma Vila Mariana, por assim dizer. Se chama El Cangrejo. É um bairro bom, e dá pra fazer bastante coisa a pé, que é o que eu tenho feito.
Aqui na Cidade do Panamá nao tem misééééria, assim. Não tem gente que mora na rua. Rolam alguns poucos pedintes, que geralmente se focam nos turistas, e tem uns cortiços. Mas também não tem classe média: é tipo classe AAA, classe A e classe C, uma classe C que aliás tem acesso a bens de consumo porque aqui tudo é muito barato - roupas, comida, eletrônicos. Então não tem mendigos maltrapilhos, porque uma calça jeans em um oulet custa entre 5 e 10 dolares, e uma camiseta, 1,50 dolar. Ah, sim: a moeda oficial se chama Balboa, mas eu só vi Balboas de um centavo. A moeda que circula é o dólar. Mas digresso: dá pra comprar camisa da Lacoste com pequenos defeitos - sabe, uma costura rasgada, uma manchinha - por 8, 6 dolares. Entao fica todo mundo NA ESTICA. Não tem gente passando fome, não tem analfabetismo, a educação é barata e todo mundo que quiser fazer faculdade de graça faz, porque tem vaga pra todo mundo.
Geralmente, nos dias de semana, eu saio pra dar rolê em algum dos lugares interessantes na cidade - um parque, um ponto turístico, uma avenida com lojas baratas - ou vou ao shopping garimpar roupas em promoção. Já fiz compras suficientes pro meu dinheiro acabar, o que provavelmente significa que não vou conhecer as ilhas paradisíacas na costa do Panamá, mas isso não me incomoda muito a essa altura. Há muito para se ver na Cidade do Panamá e nos arredores, e por pouco dinheiro.
Já fui a Panamá La Vieja, que é o local onde a primeira cidade do Panamá foi construída - quer dizer, uma vila medieval, em 1530, e a região ainda tem um monte de ruínas. E só são ruínas porque um pirata-bucaneiro sacana chamado Henry Morgan (que não é pouca merda, tem até verbete na Wikipedia) passou aqui em 1650 e qualquer coisa e botou fogo na porra toda. Só sobraram umas pedras, mas são pedras bonitas, de todo modo. Também fui a um lugar chamado Causeway, uma via tipo avenida-da-praia, mas com mar dos dois lados. Liga a costa a uma ilha próxima e foi construída com areia que tiraram do Canal. É um lugar lindo, com ciclovia e coqueiros margeando o espaço todo, um porto com barcos, lojas e coisas pra turista ver na ilha e uma paisagem estonteante.
Conheci poucos panamenhos - só o sócio do meu pai, o Ernesto, um baixinho atarracado gente fina, a faxineira aqui de casa e umas amigas da mulher do meu pai. Da minha idade, ninguém. Para os padrões de beleza brasileiros, o panamenho ou panamenha média podem ser considerados feios, o que nos torna - a mim e ao meu irmão - muito lindos ou muito exóticos. E eu presumo isso porque todo mundo fica olhando pra gente quando passamos em um lugar muito panamenho.
Aqui tem uma cultura à estética forte, maior do que no Brasil. Tem um salão de beleza a cada esquina, e as mulheres agendam horários pela manhã pra fazer escova todo dia antes de ir pro trabalho. Na rua, os homens mexem com qualquer ser do sexo feminino que esteja de shorts, de taxistas a funcionários da prefeitura em carros oficiais. A altura média de um homem panamenho é a minha, meio que 1,65, o que tira um pouco do impacto das cantadas.
Na média, nos estabelecimentos comerciais, os panamenhos atendem mal, porque ganham mal e porque não têm simplesmente uma cultura de ‘gentileza’ com o próximo. Mas há exceções, especialmente nas regiões com muitos estrangeiros. E muita gente é bem simpática, atenciosa e receptiva com turistas. Reparam que você precisa de informação e se oferecem pra ajudar, dão toques sobre onde e como ir e onde e como não ir, perguntam de onde você é e se está sendo bem tratados e até arranham umas palavras em português. São um povo muito HOSPITALAR, como diria o Zanata.
Aqui come-se muito, muito bem e por muito pouco. Os fast foods, que têm de monte, e os supermercados têm todos padrão americano, das porções exageradas às marcas. Mas há restaurantes de todos os tipos a preços ridículos - o próprio preço do McDonalds, que vende um número de Big Tasty, que aliás é maior do que no Brasil, com batata grande e refrigerante grande pro 4 dólares, já é um bom termômetro. E todo lugar tem brownies - alguns melhores, outros piores, mas eles estão por todo lugar.
O trânsito daqui é maluco, só tem SUVs, aqueles carros americanos grandes, tipo TUCSON, porque eles são ultra baratos: custam tipo 7 ou 8 mil dólares. E todo mundo dirige que nem retardado, como naqueles vídeos de trânsito na Índia, onde não há regras. Nego fecha cruzamento, buzina pra tudo, costura no trânsito, passa a 15 centímetros de você quando você atravessa a rua e tudo isso é muito comum. Atravessar a rua aqui exige, inclusive, uma inteligência que não é nata pra nós, acostumados a outro tipo de lógica de trânsito. É kamikase: bote o pé na rua, mesmo que o carro esteja vindo, calcule se será possível correr e corra. Ele não vai diminuir a velocidade e é possível que acelere. Mas se você for esperar ‘dar tempo’, vai ficar 10 minutos parado na calçada. E é permitido passar no farol vermelho se, por exemplo, você estiver na pista da direita e for entrar a direita em uma via cujo fluxo corre nessa direção.
Ah. Tem uma avenida chamada VIA PORRAS, e uma cidade próxima chamada BOQUETE.
Não tem poluição, nem violência, e a cidade é pequena - o país inteiro tem 3 milhões de habitantes, e a Cidade do Panamá tem 1,5 milhão. Vive-se com muito, muito mais qualidade de vida do que em SP. O pôr do sol é lindo, todos os dias. E apesar de ser uma grande metrópole e ter muitos prédios, não é o suficiente para impedir uma vista foda do pôr-do-sol todos os dias.
Os panamenhos são como portugueses perdidos na América Latina - digamos que eles entendem as coisas um pouco ao pé da letra demais. Tem um bandejão servindo frango com batatas, e você quer só batatas: não pode, leve o frango junto e joga fora se quiser. No meu primeiro dia, eu precisava de um benjamim (gente, que nome estranho que isso tem em português. É um nome próprio. É tipo chegar na Rússia e descobrir que CABO USB chama, sei lá, Roberto. E aí?), e fui arranhar meu portuñol numa loja cheia de trecos elétricos.
- Yo queria algo así como un… adaptador. Si, un adaptador - diante da cara de confuso do tio, eu completei - para plugs…?
- Hum… no, no tenemos. Lo que tenemos és solo esto - disse o tiozinho de óculos, me mostrando um benjamim.
- Por supuesto, era isto que yo buscava. Todavía, como se llama esto?
- Adaptador.
TRUE STORY.
Eu batizei de Panamense o espanhol falado no Panamá, que é um pouco fanho, suprime consoantes e principalmente os S das palavras, além de misturar inglês com sotaque latino no meio: bonito é PRITI, com aquele T da Moóca, se o mar tá sem onda ele tá FLÁT, um gato feliz é um RÁPICAT. E eu sofro pra entender a YAMI (pronuncia-se JAMIL, mais ou menos), a diarista aqui de casa. Outro dia ela chegou e começou:
- Ana DIATUPAPA QUESEABOELSUAITEL - é, foi assim mesmo.
- AHN - essa fui eu, chocada. Ela repetiu, ficou igual. Pedi - Habla mas de espacio, por favor. No te entiendo.
- DIRRATU PAPA QUE SE AGABO EL SUABITEL.
- Humm… que és SUAVITEL?, perguntei. Pelo menos tinha entendido a lógica da frase.
- NOSABE QUE ÉS SUAITEL?, continuou YAMI, um pouco esnobe.
- No.
- EPA ENAUÁLAROPA.Outro desafio. Respirei fundo.
- QUÊ? (por incrível que pareça, eles entendem um ‘QUÊ?’)
- ENAUÁ.
- AHHHNNN???
- E-NA-UÁ!
E num golpe de sagacidade extrema, consegui deduzir que ela estava dizendo ENJUAGAR, panamense para o nosso bom e velho ENXAGUAR. Ah, Suavitel é amaciante.
Esse texto, ou quase ele, é o que escrevi aos meus amigos mais próximos ontem a noite sobre o lugar onde estarei pelo próximo mês e onde passei as últimas duas semanas. Todo mundo gostou tanto que resolvi editar e publicar aqui - e pensando bem, é um bom guia da Cidade do Panamá pra quem não faz ideia de como é esse lugar, ou seja, todo mundo que não mora na Colômbia ou na Costa Rica ou no máximo no Peru.
Volto ao Brasil no dia 28 de fevereiro e no dia 15 de março embarco para a Holanda, onde fico por um ano, e onde terei (suponho) outras impressões como essas pra dividir. Não que eu não vá publicar mais nada sobre o Panamá, já tenho mais posts no gatilho. Um deles é sobre compras: aqui é tão legal pra fazer compras que eu comprei até uma lâmpada do gênio.
Ah, se você gostou da amostra grátis no post, dá pra ver todas as fotos que eu tirei no meu Flickr.
Fellipe says:
Bem legal o guia.
Eu, como todo mundo provavelmente, achava que o Panamá era um país bem miserável. Mas deu pra perceber pelas fotos que não é.
Na verdade fiquei espantado pelas belezas do lugar.
Não deixa de postar quando você for pra Holanda! Morar durante 1 ano num país com uma língua estranha como o holandês também vai gerar boas histórias!
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Ana Freitas says:
Cidade do Panamá for Dummies: não dá pra dizer que é tudo o que vc sempre quis saber sobre o Panamá pq NÉ http://bit.ly/hOeXTC
Marco says:
Desde quando ‘designer’ é ‘programador’? E ainda por cima é de meia-tigela, já que o layout novo só funciona direito no Chrome…
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Ana Freitas Reply:
January 28th, 2011 at 4:48 pm
Desde quando ele não desenhou nada, só programou. O design eu comprei pronto, modifiquei e ele adaptou as partes referentes ao código.
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Jonas Sousa says:
Passei pelo Panamá duas vezes, mas somente pelo aeroporto… pois estava viajando para o México via Copa Air Lines, empresa “panamenha” (não sei como escreve) que faz do Panamá o que eles chamam de “Hub das Américas” de tal maneira que todos seus vôos fazem escala ali.
O avião taxiando em cima do oceano, passando por pequenas ilhas e vários návios já é uma visão que rende muitas fotos legais (os japas que o digam). O litoral visto do alto é muito bonito e a região do aeroporto contrasta uma litoral bem urbanizado com outro pouco explorado pelo homem.
Sua descrição do Panamá bate com a de amigos que tenho no trabalho que já passaram um tempo no Panamá, seja a trabalho, seja numa escala de 10 horas. É com certeza um lugar que vale a pena conhecer! E seu post só aumentou a minha vontade de conhece-lo.
Parabéns pelo post e boa estada por aí!
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Ronaud says:
¿sabes qué DIATUPAPA QUESEABOELSUAITEL? http://bit.ly/gNMka2 Cidade do Panamá for dummies, texto muito engraçado, foda!
Ronaud Pereira says:
Esse texto ficou tão foda que desejo que você possa viajar o resto da vida pra trazer impressões assim para nós. Ri muito com o espanhol da diarista. Muito bom!!!
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Ana Freitas Reply:
January 28th, 2011 at 6:12 pm
Brigada, cara! Espero que eu possa viajar pro resto da vida!
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cecilia lara says:
fiquei com vontade de visitar o panamá.
já morei um ano na holanda, trabalhando de au pair. tô ansiosa pra ler suas impressões sobre a vida lá…
bjs
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Ana Freitas Reply:
January 28th, 2011 at 10:54 pm
É exatamente isso que eu vou fazer. Onde vc ficou, Cecilia? Me adiciona no MSN, se der. É anabsf (arroba) gmail (ponto) com.
Bj!
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Carolita says:
RT @ana_freitas: Cidade do Panamá for dummies http://bit.ly/hOeXTC
Izabel says:
Haha, baixei o Chrome só pra ver o layout novo :p Ótimo texto e ótimas impressões. Espero que você se divirta e aprenda muito na Holanda. A Europa é tudo de bom e você não vai querer voltar tão cedo
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Sandra Regia says:
"É tipo chegar na Rússia e descobrir que CABO USB chama, sei lá, Roberto" http://bit.ly/ftK2mI
Leandro M. R. Silva says:
RT @ana_freitas: Cidade do Panamá for dummies http://bit.ly/hOeXTC
Isla Mamey, no Panamá, é o lugar mais lindo em que eu já fui | Olhômetro says:
[...] Espanha. O forte não foi forte o suficiente (HEH) para impedir que o pirata safado Henry Morgan, o mesmo que arruinou toda a Cidade do Panamá no séc. XXI, botasse fogo, saqueasse e matasse todo mundo também em Portobelo, em 1668. Daí depois os [...]