A justiça quase foi feita, um título óbvio para um texto sobre o Justice

Se um dia alguém me dissesse que eu seria fã de música eletrônica eu não acreditaria. Sempre fui uma adolescente-rebelde-do-rock-n-roll, até poucos anos atrás. Ainda sou, de certa forma. A maior prova é que eu sai do show de ontem do Justice, no Skol Beats, em São Paulo, desperada por ouvir uma guitarrinha. Um riffzinho, que seja.

Eu sempre sinto essa necessidade depois dessas overdoses de sintetizadores e BPMs. Aconteceu da outra vez que eu fiz algo assim, numa rave que fui há mais de um ano. Música eletrônica pra mim é assim: legal, ótimo, até me divirto, mas no fundo é algo que só vai me dar dor de cabeça depois de 3 horas ouvindo. Além disso, é algo muito novo pra mim, e confunde meus gostos musicais. Eu não tenho um parâmetro para o que eu gosto ou não em música eletrônica. Parece tudo igual, mas não é, porque de algumas coisas eu gosto e outras não, só não sei como é que essa minha seleção funciona, de fato.

De qualquer forma, tenho certeza que gosto do Justice, a dupla francesa subversiva que tem quase os dois pés no rocknroll, e acabei ganhando ingressos para o Skol Beats numa super promoção do blog da Close-up, o Eles3.

Eu esperava um show mais pesado, pra ser sincera, mas no geral foi legal, empolgante e tal, e acabou antes do que eu gostaria, ou seja, estava divertido. Mas os destaques ficam com outros elementos do show e do festival.

Nunca tinha ido no Skol Beats e fiquei surpresa com a excelente organização.

Nunca tinha ido no Skol Beats e fiquei surpresa com o número de gente que dança o famigerado ‘rebolation’. Rebolation é uma dancinha ridícula engraçada, algo como isso aqui:

Nunca tinha ido ao Skol Beats e fiquei surpresa com algumas pessoas vestidas assim:

Imaginem o show do Klaxons. Vai ser supercolorido.

Nunca tinha ido no Skol Beats e achei legal os seguranças ficarem rindo do pessoal dançando engraçado.

E o mais curioso: nunca tinha ido a show no qual milhares de jovens dançavam ao som de música pesada, claramente subversiva (dos valores familiares, digo), usando drogas de todo tipo, todos reverenciando uma… cruz. O símbolo máximo de você-sabe-o-quê.

Se a genialidade do Justice não reside na música, reside sem dúvida na capacidade de fazer com que um paradoxo desse seja possível - e mais, seja até ignorado pela maioria das pessoas que assiste ao show deles.

O Padre Marcelo, ou a rave evangélica, até conseguem fazer milhares de jovens dançarem reverenciando uma cruz, mas duvido que você consiga incluir aí gente usando wayfarers coloridos sem lentes, cerveja e jaquetas de couro.

A outra possibilidade é que Jesus está de volta, seu nome é Xavier de Rosnay e ele quer arrebatar multidões de jovens. Para isso, sendo Jesus, soube que o melhor jeito seria fazer música eletrônica.

Só acho que ele deveria fumar menos.

Vídeos no canal do You Tube da Flávia Durante. Eu até ia gravar algo, mas decidi por um momento parar de pensar no post que faria depois do show.

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September 29th, 2008 | 1 Comentário

Top 5: bandas mais legais da ficção

Nos filmes, nos livros, na TV: tem centenas de bandas que foram criadas na ficção. Em muitos casos, os autores se dão ao trabalho de compôr até músicas de verdade. Simular shows. O RBD surgiu mais ou menos assim. A Vagabanda também. Mas esses são exemplos ruins. Existem as bandas realmente legais que surgiram na ficção - ou por terem uma história divertida, uma letra ou visual engraçado e em alguns casos por terem músicas realmente boas. Eu mergulhei em algumas coisas realmente nostálgicas a escolhi as minha cinco preferidas bandas que só existem na ficção:

5. Disaster Area

A Wikipedia explica que o nome do vocalista foi tirado desse lugar aí, na Inglaterra

É a banda mais incrivelmente barulhenta do universo. Como se isso não bastasse, a Disaster Area produz também o barulho mais alto dos barulhos. Do universo. Em O Guia do Mochileiro das Galáxias, Douglas Adams explica que a Disaster Area é tão alta, mas tão alta, que os músicos tocam os instrumentos a distância. E o público também assiste aos shows de muito longe: “o melhor lugar para se ouvir um bom som é dentro de grandes bunkers de concreto a uns 60km do palco, quanto os músicos em si tocam os instrumentos por controle remoto de uma espaçonave altamente isolada que fica em órbita em torno do planeta - ou mais freqüentemente, em torno de um planeta completamente diferente.”

Os hits do Disaster Area, variados, no geral versam sobre o velho homem-encontra-mulher sob uma lua prateada, ainda segundo o livro. Claro que eu nunca ouvi nenhum, pois isso seria impossível.

Alguns planetas baniram as apresentações do Disaster Area, pois os instrumentos da banda, em alguns casos, violam os tratados de armas estratégicas. É o preço a se pagar.

Como o Disaster só aparece no segundo livro da série, ‘O restaurante no fim do universo’, e nós só temos o filme do primeiro livro, vou ficar devendo uma apresentação da banda no Youtube. Mas é melhor assim: suas caixas de som estourariam. A sua janela trincaria, e sua tela LCD de 17” recentemente adquirida acabaria em pedaços.

4. Driveshaft

O Driveshaft é uma ‘one hit wonder’, que ficou conhecida na Inglaterra pela grudenta You all, everybody.

Você poderia dizer isso com tranqüilidade se seu nome fosse, sei lá, Jeremy Bentham. Mas não é, então você precisa dizer que o Driveshaft é a banda do Charlie, de Lost. O Charlie se foi, mas do Driveshaft ninguém esqueceu, até porque é impossível, com essa música cujo refrão passa dias na sua cabeça. Lembrando que a gente só conhece o refrão da música…

Infelizmente, o Driveshaft acabou e o Charlie mesmo nunca conseguiu compôr outra música que fizesse tanto sucesso. Ficamos só com You All Everybody - ah, e Good Vibrations tocada num teclado de bloqueio de uma estação de comando. Um triste fim.

3. Weird Sisters

A maior banda de rock do mundo bruxo. Cultuada por 10 entre 10 adolescentes em Hogwarts, a Weird Sisters (ou Esquisitonas, na versão brasileira do livro e do filme) é formada por rapazes com instrumentos muitos loucos, inclusive uma gaita de fole, como deve ser num mundo mágico bretão. O nome vem de outras três irmãs bruxas que Shakespeare criou em Macbeth.

A banda apareceu no quarto filme da série Harry Potter, ‘Harry Potter e o Cálice de Fogo’, e BOTOU PARA QUEBRAR no Baile de Inverno. FOI IRADO. No longa, os membros da banda eram nada mais nada menos que Jarvis Cocker e Steve Mackey, do Pulp, nos vocais, John Greenwood e Phil Selway, do Radiohead, e mais dois caras desconhecidos que eu não vou mencionar afinal ninguém conhece, e todo mundo sabe que a referência importante é a dos caras conhecidos.

As Weird Sister têm dois grandes hits: Do The Hippogriff (que tá lá em cima), um rock’nroll feito para balançar as multidões, e Believe That Magic Works, uma balada para dançar coladinho. Além delas, rola uma terceira música, This is the night (ignorem as fanfotos dos filmes rolando com a música), que é a melhor das três. Eles têm até perfil no last.fm: http://www.lastfm.com.br/music/Weird+Sisters

2. Big Bad Boys

Ele é tipo o Justin dos Big Bad Boys: o único que deu certo depois da banda

Essa fantástica Boy Band, composta por CAIO BLAT (SIM!) mais três anônimos, era o grupo preferido de Juliana, a irmã de Lucas Silva e Silva. A Juliana era maluca pelos gatinhos da Big Bad Boys, Caio Blat incluso, e o Lucas morria de ciúmes. Eles apareceram em dois episódios de O Mundo da Lua.

O grande hit dos Big Bad Boys, que deve se chamar Somos os Big Bad Boys (auto-afirmação detected), tinha a letra mais ou menos assim:

Somo os Big Bad Boys, todas as minas gostam de nós
Meu nome é Caio, eu super bom atleta
Eu só dou carona de motoca ou bicicleta
Meu nome é Pedro Luz e eu gosto de cantar
Tenho pinta de ator, venham todas me beijar
Ruly, ruly, galy, galy, samba, rock, funk, jazz
Eu sou Cristian, o sapateiro, olhe só para os meus pés
Sou José olho de gato, gato é pouco, eu sou gatão
Não que eu seja convencido, mas cheguei a perfeição

Os nomes descritos por eles nas músicas são os nomes dos próprios atores, de maneira que fica fácil deduzir, portanto, que o Caio Blat só dá carona de motoca ou bicicleta, o que faz dele um ecochato desde aquela época.

Vamos evitar comentar o fato de o Christian, o terceiro homem dos Big Bad Boys afirmar, na letra, ser sapateiro.

Gostaria imensamente de ter achado o vídeo dos garotos se apresentando em O Mundo da Lua, mas o You Tube tem pouquíssimos episódios do seriado que, para muitos (eu inclusa) foi o mais legal da infância de todo mundo. A TV Cultura podia pensar em digitalizar o arquivo… serviço de utilidade pública. Enquanto isso, use a letra para assobiar a música. Aposto que você não esqueceu a melodia.

1. The Beets

Surpreendentemente, os vídeos originais das duas músicas do The Beets não estão no You Tube, mas por sorte temos gente desocupada no mundo

Dá para dizer que o criador do Doug Funny era fã de rock’n'roll. A irmã esquisita dele se chamava Jude. E a banda-sensação entre a galera se chamada The Beets. O último álbum deles é o Let It Beet. O visual dos Beets fazia referência aos Ramones, e algumas músicas também.

E se Doug foi um dos desenhos mais legais que já houve, em parte foi por causa de sacadas como essas. O maior sucesso dos Beets era o clássico Killer Tofu, ou em português, como vocês devem se lembrar a essa altura, Mingau Matador. Estão assobiando?

Foi o Skeeter, aquele camarada esverdeado, quem apresentou os Beets ao Doug e fez com que ele se apaixonasse pela banda. O próprio vizinho dele, o Sr. Jenkins, era superfã, também. E vale lembrar que o pai do Doug tocou com os Beets em um dos episódios, o que deve ser superlegal de contar para os amigos. Se você for o Doug, digo.

Os Beets tinham quatro músicas, no desenho: Killer Tofu, I Need Mo’ Allowance (as duas do vídeo), Where’s My Sock?, que eu não encontrei, and You Gotta Shout Your Lungs Out, que eu também achei num vídeo de usuário no You Tube, aqui, mas não no original.

Eu nunca vou descobrir quem compôs essas músicas, mas cara, elas são realmente boas. Dá para desejar que a banda fosse de verdade. As versões em português estão indisponíveis na internet, aparentemente, mas no imeem tem Killer Tofu. E dá para achar os Beets no Blip.fm, também.

Bônus atualizado: Como bem observou o @robson, nos comentários, eu deixei de fora o The Wonders. O motivo é que eu sou de 88 - o filme, de 96, de maneira que eu não peguei a febre da coisa, apesar de conhecer a música. Ou seja - não me marcou como essas cinco que eu mencionei. Para quem não sabe, The Wonders passou horrores na seção da tarde e conta a história de uns garotos que fizeram muito sucesso nos EUA com uma bandinha bonitinha tipo Beatles. E todo mundo sabe cantar o sucesso deles - That thing you do. Muita gente nem sabe que essa música é de uma banda que na verdade não exisitu - por isso, merecem, claro, menção honrosa aqui na lista:

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September 26th, 2008 | 20 Comentários

Emo Day: tô fora, o negócio é ser collmin

A figura engana, mas eu não vou participar do Emo Day, que é hoje, 24 de setembro, simplesmente porque ser emo já saiu de moda, ok? E o negócio nem é mais ser From UK. Você tem que conhecer os collmin:

Eu ainda não descobri que diabos é isso, mas eles são “totalmente diferentes, modernos e estilosos” (ok que a gente sabe que eles são emos mesmo, mas eu queria ver o que têm a dizer), porque não consegui ser aceita na comunidade deles, o que desencadeou em mim uma depressão profunda. De qualquer forma, esses collmin parecem ser uma digievolução mais astuta dos emos – afinal, bloquearam a comunidade para não serem zuados e só aceitam quem tiver franja lambida e calça skinny por dentro do Nike cano alto. Justo.

Collmin, a palavra, não quer dizer nada. É um nome próprio da língua inglesa, só. Peculiar. Não desperta nenhum julgamento a partir do nome, como ‘emo’ ou ‘From UK’, que por si só já têm um significado.

Outra prova da astúcia dessa linhagem é que eles seguem criando novas denominações que os livram da condição de emo, e conseqüentemente, de ser passível de zuação. Primeiro, era o From UK. Mas logo em seguida surgiu esse negócio de collmin. Na verdade, é uma estratégia para despistar.

Afinal, quando perguntados se são emos, eles podem dizer ‘não, sou collmin’, e aí o interlocutor ficará com cara de tacho, pois desconhecerá essa nova tribo. Dessa maneira, o emuxo-collmin-from -uk sairá da discussão se sentindo moderno e vanguardista, e não mais terá que sofrer humilhações públicas.

Eu disse que eles eram mais espertos. É darwinismo, meus caros. Não se surpreenda se no mês que vem aparecerem uns emos que se auto-denominam ’smuffles’.

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September 24th, 2008 | 6 Comentários

As letras de música que não querem dizer nada

De acordo com a grande mestra Wikipedia, licença poética se define assim:

…é a permissão para extrapolar o uso da norma culta da língua, tomando a liberdade necessária para utilizar recursos como o uso de palavras de baixo-calão, desvios da norma ortográfica que se aproximam mais da linguagem falada ou a utilização de figuras de estilo como a hipérbole ou outras que assumem o carácter “fingidor” da poesia, de acordo com a conhecida fórmula de Fernando Pessoa (”O poeta é um fingidor”).

A matéria-prima do poeta é a palavra e, assim como o escultor extraí a forma de um bloco, o escritor tem toda a liberdade para manipular as palavras, mesmo que isso implique em romper com as normas tradicionais da gramática. Limitar a poética às tradições de uma língua é não reconhecer, também, a volatilidade da fala.

De acordo comigo, licença poética é uma puta sacanagem. Porque sob o manto protetor e tolerante da ‘licença poética’ se cometem grandes atrocidades, não só com a língua portuguesa: o problema mesmo é quando alguém escreve uma música que não quer dizer nada.

As músicas que não querem dizer nada estão por aí, aos montes. As assobiamos com entusiasmo no caminho do trabalho, na volta do clube, indo para a academia. Elas são tão parte do dia-a-dia que nós não mais nos damos conta que algumas letras não fazem de fato sentido nenhum.

A música que não quer dizer nada é democrática. Ela está em todos os lugares, em todas as classes sociais e em todos os gêneros. Não escolhe tipo de instrumento, número de integrantes da banda ou idade do compositor. Quer um exemplo? Tente entender como alguém consegue formular tantas frases e não dizer categoricamente nada:

Em muitas vezes procurei tentar achar
Onde eu errei em coisas que nem têm porquê
Naquela vez perguntei
Você não soube responder
O que eu tinha feito pra você

Agora como eu vou saber
Tem hora que é melhor esquecer
Espera o dia amanhecer
Pra ver o que a gente vai fazer

CPM 22 é um dos grandes nomes adeptos das letras que não querem dizer nada

Para os desavisados, essa foi a música com a qual o CPM 22 estourou, lá por 2001, e se chama ‘Regina, Let’s Go’. Outro grande exemplo é de um trecho de uma letra que eu nunca compreendi e talvez nunca compreenderei, a não ser que o próprio compositor me esclareça (se é que ele sabe). ‘Temporal‘, do Art Popular (deve ser de algo como 1996 ou 1997, mas não tenho certeza), recita a máxima da música que não quer dizer… nada:

Eh!
Até parece que o amor não deu
Até parece que não soube amar
Você reclama do meu apogeu
Do meu apogeu!

E todo o céu vai desabar
Ah ah ah ah ah ah ah!
Ai! Desabou!…(2x)

Ok, amor acabou, fim, desgraça, inconformação. Até aí a gente pega. Mas eu nunca encontrei uma frase tão bizarra, jogada no meio de uma música para fazer rima, que fosse capaz de estragar todo o resto da letra.

Art Popular posa junto de seu Apogeu modelo 65

Não que o resto da letra seja um primor. Mas você tá lá, sambando suavemente durante o show do Art Popular e entoando com alegria um dos hits do grupo, ‘Temporal’. Ironicamente, o sol está alto no céu. Bom, você canta e se lembra da sua última decepção amorosa, se identifica e tal, mas aí você chega nessa parte do apogeu, e aí complica. Porque o pagode não pode ter complicação na letra, entende? Precisa fluir, cara, porque as pessoas precisam sambar e o show tem que continuar. Não dá para questionar a letra, não. Só que ‘você reclama do meu apogeu’ demanda um alto processamento de CPU. Você tá cantando e de repente vem uma frase dessa - não é algo que você está esperando.

Infelizmente, não consegui formular nenhuma teoria plausível para o que seria um ‘apogeu’, nesse contexto, e porque a mulher em questão estaria tão insatisfeita com ele. Sugestões nos comentários.

Claro que existem outros mestres, mais sofisticados, do nonsense letrista no cenário nacional. Não dá para esquecer do Djavan. E Tom Zé sempre foi um nome com muito potencial. Só que esse post tem como objetivo fazer justiça a Leandro Lehart, do Art Popular, como outra fera do cenário nacional de músicas que não fazem sentido. Afinal, não dá para esquecer do ‘Pagode da Amarelinha’ e do grande hino do Art Popular, que não diz naaaaada: ‘Agamamou’. Clássicos.

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September 22nd, 2008 | 30 Comentários

Cultura pop: cabe tudo num balaio só?

Quando eu falo que escrevo sobre cultura pop aqui, é um eufemismo para dizer que eu escrevo sobre tudo que me dá na telha. Mas eu nunca, de fato, parei para definir precisamente que cazzo é a cultura pop.

Nesse momento difícil, recorremos à Wikipedia:

Cultura popular, cultura de massa ou cultura pop é a cultura vernacular - isto é, do povo - que existe numa sociedade moderna. O conteúdo da cultura popular é determinado em grande parte pelas indústrias que disseminam o material cultural, como por exemplo as indústrias do cinema, televisão, música e editorais, bem como os veículos de divulgação de notícias. No entanto, a cultura popular não pode ser descrita como o produto conjunto dessas indústrias; pelo contrário, é o resultado de uma interação contínua entre aquelas e as pessoas pertencentes à sociedade que consome os seus produtos.

Blá, blá, blá. Não é surpreendente que a Wikipedia, um veículo que é produto direto do fenômeno da Web 2.0, não mencione logo de cara a Internet como principal personagem na definição do que é cultura pop nos dias de hoje?

Coringa é cultura pop. Morte de Heath Ledger também, especialmente por causa do mistério

O principal movimento de informação e de opinião que hoje determina o que é cultura pop ocorre na internet. Os outros veículos - jornais, televisões, editoriais - muitas vezes detectam as mesmas tendências com um atraso revoltante. Ou seja: a Internet é muito mais eficiente em detectar e definir os rumos da cultura pop do que os meios que costumavam fazer isso (por razões óbvias, não vou discutir aqui a relevância da internet como meio de comunicação. Não estou falando para idiotas).

Ok, mas e na prática? O que se define como cultura pop? Se for música, cinema, TV e literatura, a internet não é incrivelmente capaz de unificar as quatro mídias em um meio só? A internet vai concentrar e disseminar tudo o que é cultura pop? Mas… política, ou episódios políticos, também não podem ser cultura pop? (Vide dancinha da impunidade)

Nessa sociedade da Cauda Longa, formada por nichos de interesses, a cultura pop assume um significado novo. Porque antes a cultura popular era ditada por meia dúzias de meios que eram os únicos aos quais 100% da população tinha acesso. Então, era mais fácil definir precisamente os elementos de mídia que faziam parte do imaginário popular. Mas hoje a cultura pop também é específica de cada nicho… ou não é? A cultura pop ainda cria elementos absolutos na sociedade? Ainda são feitos filmes, séries ou música que sejam referência unânime? Recorramos novamente à Wikipedia, pra ver se agora ela não pode nos ser mais útil:

A cultura popular está constantemente mudando e é específica quanto ao local e ao tempo. Dentro da cultura popular, formam-se correntes, na medida em que um pequeno grupo de indivíduos terá maior interesse numa área da qual a cultura popular mais generalizada se apercebe apenas parcialmente a existencia.

Os ícones da cultura popular tipicamente atraem uma maior quantidade e variedade de público; ocasionalmente, têm um cunho esotérico, como no caso da maçonaria. Existem duas razões porque os itens que atraem as massas dominam a cultura popular. Por um lado, as companhias que produzem e vendem os seus itens de cultura popular tentam maximizar os seus lucros, enfatizando itens que agradem a todos. Por outro lado, aparentemente, a cultura popular é governada pelo efeito meme de Richard Dawkins, o qual é uma forma de seleção natural - os itens da cultura popular com maior probabilidade de sobreviver são aqueles que atraem maior quantidade e variedade de público, propagando-se mais eficazmente.

Ok… se a internet é a aldeia global, e é capaz de reunir grupos de pessoas distantes em torno de um tema específico, é possível concluir que nessa era, os ícones da cultura pop são fixados com mais eficácia em grupos mais espalhados geograficamente. O volume de informações também colabora para um npumero muito maior de ícones fixados todos os dias.


Eu não sei o que é pop, mas o Ting Tings mostrou que sabe nessa música

Ainda assim… não conheço a fórmula. E ninguém sabe o que vai virar hit. Mais ainda: ninguém sabe definir com certeza todas as coisas que caracterizam a cultura pop, já que inclusive por causa da internet, os elementos dela variam. Na maioria das vezes é faro e bom senso, mas acaba sendo 100% no… achismo (eu ia dizer Olhômetro, mas achismo é mais adequado, não?)

A conclusão final é que, dizer aqui que eu escrevo sobre cultura pop é um eufemismo para:

  • Gostar de cultura pop, hoje, é o que a gente pode chamar de gostar de internet.
  • Poder falar de qualquer coisa, mesmo, e sob o pretexto de que estou falando de Cultura Pop…

O que você acha é cultura pop na era da internet?

*Falando em cultura pop, confira amanhã um TOP5 em homenagem ao maior mestre em referências pop da literatura contemporânea (e um dos meus autores preferidos): Nick Hornby. Agradecumentos ao César.

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August 14th, 2008 | 7 Comentários

Ser eclético é não gostar de música

Tem um mal assolando a humanidade nos últimos tempos. É a tolerância ao mau-gosto.

O discurso do politicamente correto, do ‘não gosto, mas devo respeitar’, se alastrou de forma assustadora. O resultado é que você não gosta de sertanejo, mas deve respeitar pessoas que usam chapéu de caubói, fivela gigante dourada e botas country no dia-a-dia. Tudo em nome do respeito ao próximo. Pfff.

O chapéu, botas com esporas, colete, calça com franjas e fivelas inspiram respeito

Mesma coisa pra música. Ser ‘eclético’ tá na moda, e todo mundo deve aceitar isso sem questionar. Acabaram com as incompatibilidades de gênero. O pessoal vai na micareta, gosta de psytrance e sobra tempo pra ouvir um Detonautas supimpa. Tudo na maior harmonia.

Sou só eu ou alguém não pode simplesmente sair por aí dizendo que gosta de coisas tão diferentes, ao mesmo tempo, e fingir que tá tudo bem? Essas coisas são incompatíveis, cara. Não dá pra ir no show da Ivete e voltar ouvindo Rage Against The Machine no carro (acredite, sei de gente que faz isso). Tem algo errado em algum lugar dessa história. E se você não enxerga isso, vou te dar um exemplo gráfico (o famoso ‘quer que eu desenhe?’ adaptado para a web) pra ver se fica mais fácil perceber que há algo… hum, um pouco deslocado:


Encontre o elemento que não faz parte da cena (Mi, essa é pra você)

E ai de nós, pessoas perceptoras do desvio de comportamento, se questionarmos a disparidade de conteúdos. Não há mal nenhum em ser eclético, eu costumo ouvir.

Uma vez eu perguntei pra uma pessoa se ela gostava de música. Ela me respondeu ‘e quem não gosta’?

Ué, até onde eu sei, a maioria das pessoas não gosta de música. A maioria das pessoas senta lá e escuta o que tá tocando. Baixa o que tocou na festa de sábado. É o gado musical. É o ‘em cima do muro’. Pior do que um fundamentalista pra um lado ou pro outro é não saber pra que lado ir.

Ser eclético, então, adquiriu essa maldita conotação pejorativa. Porque na nossa era, dizer que é eclético se traduz em não gostar de música. Num niilismo ligeiramente subvertido, a nossa sociedade transformou o gostar de tudo em gostar de nada. E a gente aceita isso como se fosse algo legal.


Ok, esse é o único caso em que você pode misturar as duas coisas sem parecer… hum, eclético

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July 8th, 2008 | 26 Comentários

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