Não sei vocês, mas para mim tem se tornado cada vez mais clara a importância das piadas no nosso dia-a-dia. Não falo de piadas-estorinhas, daquelas que a gente lê no Humortadela e conta pro amigo (de loira, de português, essas coisas). Falo das piadas do cotidiano. Aquelas coisas não tão óbvias mas engraçadas que acontecem o tempo todo em todo lugar, que fazem a nossa vida mais divertida e para as quais o único requisito é um olhar e um ouvido bem treinados.
O meu problema, e é bem particular, é que meu humor é peculiar e um pouco extremo. Eu sou a favor da piada acima de tudo, de rir de si mesma. Sou contra humor depreciativo (apesar de gostar do Pânico…), mas de resto, acho que tudo vale, porque rir com os outros é muito bom.
Ok, daí parece que eu empurro velhinhas no vão entre o trem e a plataforma pra rir da cara delas. Não é o caso, vejam bem. Eu apenas apóio a máxima de rir de si mesmo (e, a partir daí, rir dos outros). Não no sentido “sem orgulho-próprio” da coisa, no sentido auto-crítico, divertido. Não foram poucas as vezes em que boas risadas me salvaram de um dia péssimo ou de uma TPM brava.
Pois bem. Além de tudo isso, eu tenho um problema que não consigo identificar, ainda, se é vantajoso ou não. As pessoas riem naturalmente de mim, sem que eu fale coisas necessariamente engraçadas. Na sala de aula acontece o tempo todo - e eu, que era muito de falar, às vezes fico meio acanhada (alguns vão contestar, mas juro que falo sério). Já fui vítima do fenômeno em dinâmicas de grupo para empregos, também. Eventualmente, eu consigo identificar o termo ou expressão facil que originou as risadas. Na maioria das vezes, entretanto, eu acho que é franco exagero.
Ok, legal. Ou eu sou engraçada pra cacete ou tenho cara de idiota. Não tem problema, eu não quero descobrir qual das duas é a certa e tudo bem. Acontece que as consequências desse problema são diversas:
1 - As pessoas riem quando falo alguma coisa séria, e a certa altura (mesmo depois de muita convivência), chegam a me perguntar se estou brincando ou não quando falo alguma coisa que gere dúvida;
2 - Eu acabo me achando muito engraçada, algumas vezes, e isso pode acarretar certos constrangimentos, já que minha principal arma para me entrosar em grupos novos são as piadinhas eventuais, e estudos (meus) comprovam que as pessoas riem muito mais de você se elas já te conhecem. Do contrário, você parece… uma estúpida tentando se entrosar com piadas.
3 - Acontece menos hoje em dia, mas eventualmente eu faço piada com o que não devo. Novamente, friso que sou uma pessoa repleta de conceitos de noções (nada de piadas sobre doenças e incapacidades físicas, por favor), mas é que como eu levo as coisas mais na brincadeira do que os outros, sem querer acabo perdendo noção do que pode ofender os terceiros.
As vantagens é que estou quase sempre de muito bom-humor e sempre muito sorridente, o que me faz parecer super-simpática. Eu acho. Se bem que depois eu estrago com as piadas, então dá na mesma.
De qualquer maneira, foi só um desabafo, catalizado por cenas engraçadas (para mim) vistas no metrô hoje e a minha tentativa de me enturmar ontem, num evento onde eu não conhecia nin-guém. Nah. Aí eu conjecturei sobre a importância do humor na minha vida e tal.
Me lembrei, agora no final, de uma cena engraçada do sábado. Minha mãe que me perdoe, mas lá vai: ela (a minha mãe) é dançarina de Flamenco. Sábado, ela se apresentou em um espetáculo da escola dela (parece que tô falando da minha filhinha, né?), que misturava danças árabes com a dança flamenca, tradicionalmente espanhola. Pra quem não sabe, as duas são muito parecidas, por causa da invasão árabe na península ibérica, quando rolaram umas influências mútuas nas culturas dos dois povos.
Bom, aí a primeira dança são umas 30 (mais, talvez) mulheres de burca, fazendo uma dancinha primitiva (parecia aquelas brincadeiras de roda misturadas à dança de festa junina), uma coisa deveras curiosa. Engraçada, porque não? Mas eu olhei para trás, e nenhuma daquelas pessoas sérias estava sorrindo. Clao que dar uma gargalhada ali seria interpretado como falta de respeito. Mas um sorriso é permitido, ainda mais com as luzes apagadas. E era claramente algo engraçado. Até aí, eu relevei.
Aí, veio a gota d’água. Surge no palco uma cantora de música árabe-flamenca. Trata-se, para os desavisados, daqueles gritos árabes místicos e desafinados, encontrados também nas melodias espanholas. Não chegam a ser desagradáveis, não, e a mulher cantava bem. Mas…
Ela fazia caretas na hora de cantar. Horríveis. Contorcia o rosto como se… me desculpem, mas eu tive a clara impressão de que estavam enfiando algo no cu dela. Porque eu tinha certeza que ela estava sentindo a pior dor. Do mundo.
Aquilo era engraçado. Não havia dúvida, po. Era muito engraçado. Eu tava na frente do palco, fotografando, e fiquei pensando no meu irmão, lá atrás, que com certeza riria comigo e compreenderia a graça da coisa. E olhei para trás, em busca de alguém que compreendesse minha necessidade de rir.
Ninguém. Aí tem uma mistura de necessidade de manter uma postura + falta de olhar e percepção pro que é engraçado nas pequenas coisas do cotidiano. Mas… que posso fazer? Só dou risada.
Editado: Apesar das coisas engraçadas na apresentação, no geral ela foi muito bonita e a minha mãe dançou muito bem. E, afinal, se tem uma coreografia de dança de roda… minha mãe não é a coreógrafa.
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December 18th, 2007 |