03.12

2007
9:21 am

Escapando das balas

Postado em Brasil, Crônicas

Eu sempre quis estar no meio de um cenário de conflito. Desde que comecei a me interessar por Jornalismo e lia as estórias daqueles caras que estavam na hora certa, no lugar certo, sempre desejei ter a ‘sorte’ de estar eu, ali, vítima e testemunha ocular de algo grande, algo sobre o que eu pudesse dar o testemunho.

Claro que eu não imaginei que aconteceria. Tampouco imaginei que, quando acontecesse, eu ia me esquecer que era jornalista e agiria como todas as outras pessoas: running for my life.

Ah, digamos que nem é tanta coisa assim. Eu tava no metrô Sé na hora do tiroteio, na última sexta. Sumi do blog porquê estou tendo um começo de mês complicado, dezenas de recuperações, mudança de vida, sensações de coisas acontecendo, mas principalmente porque eu tava sem cabeça pra falar desse negócio do tiroteio.

A ficha meio que caiu só depois que tudo aconteceu. Eu estava na plataforma da linha azul, sentido Tucuruvi; vi uns trinta policiais correndo em direção ao andar de cima, e muitas pessoas alvoroçadas. A primeira coisa que me veio na cabeça: simulação da polícia. Afinal, não consegui pensar num motivo pra trinta PMs estarem correndo dentro da estação Sé do metrô. Eram muitos policiais. Se fosse algo de verdade, pensei, algo que exigisse tantos oficiais envolvidos, a estação estaria evacuada.

E, de repente, as pessoas começaram a correr. Sem direção, assim. Eu não consegui identificar o motivo do susto repentino. As pessoas estavam correndo de algo que se encontrava, no mapa da minha cabeça, no lado contrário àquele para qual os policiais tinham corrido - ou seja, não fazia sentido. Entendi que estavam assustados com os policiais.

Nessa hora, ouvi o tiro. Veio do andar debaixo. A sensação foi estranha, e até então eu não fazia idéia do que estava acontecendo. Com o disparo, me abaixei, como boa parte das pessoas na plataforma. Algumas corriam, desesperadas, sem saber muito bem pra onde; outras choravam, desesperadas, também sem saber muito bem porquê, imagino. Tinha gente com o celular na mão, xingando baixo quando o sinal não vinha, e olhando assustados pros policiais que passavam correndo, revólveres em punho, gritando para que todos se abaixassem.

O grande problema, nessa hora, foi não saber o que estava acontecendo. Nenhuma mensagem naquele sistema de avisos do metrô, exceto alguns chamando funcionários com voz de desespero.

Do meu lado, um senhor de uns 45 anos rezava alto e invocava todos os santos de que ele já tinha ouvido falar. Do outro, uma menina deficiente, que usava andador, olhava pra mão tremendo e respirava com dificuldade. Ela não conseguiria correr, se tentasse, por motivos óbvios.

Na escada rolante, uma senhora descia sentada - provavelmente tinha caído na confusão. Um senhor era carregado, de maca, para fora da estação. Não sei se era o homem baleado no ombro. Outro senhor, na confusão, havia se chocado contra uns dos postes de concreto, e seu nariz e testa sangravam muito.

Ah, essas coisas. Eventualmente, um policial disse para descermos. Quero dizer, eu e a menina ao meu lado. Lá embaixo a situação estava mais complicada. Muito mais gente no chão, machucada, grávidas chorando, e um menino muito bonito contando de como ele havia salvado a mãe dele na hora exata do tiro, e que a bala então teria atingido o ombro de um senhor.

Vi as pessoas descendo nos trilhos pra pegar o trem que milagrosamente tinha chegado, do outro lado, e os levaria dali. Muita gente comentou que pegaria aquele metrô por pegar, mesmo. Eu fui, também. Lá dentro, um bombeiro acompanhava um menininho de uns 10 anos, que estava sozinho na estação e tinha se assustado muito.

Aí, ouvi do bombeiro que não pegaram o cara.

Então eu me pergunto: como é que TRINTA POLICIAIS, mais a equipe de guardas do metrô, mais alguns bombeiros, não são capazes de pegar um assaltante desarmado e que já tinha tomado um tiro na mão?

Mal a pretensão, mas precisava escrever sobre essa bagaça. Tentei tirar foto com o celular, mas minha mão tremia tanto que não saiu nada. Vou voltar a andar com a câmera digital na bolsa. Na saída, do outro lado da plataforma onde eu estava, deu pra ver o sangue e um pedaço de alguma parte do corpo de alguém que foi atingido. Teria chegado perto pra ver e tirar foto, que eu tenho estômago forte, mas fiquei com medo e preguiça de dar a volta pelas escadarias.

De tarde escrevo um post legal. Ouvi umas bandas novas interessantes no fim-de-semana.

Agentes literarios interessados, tô querendo publicar meu projeto “Sobrevivi: um dia de tiroteio no metrô de São Paulo”. Favor entrar em contato.

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01.12

2007
5:35 pm

Jogando Sujo

Postado em Crônicas, Outros

Na hora de combater um adversário político, as táticas usadas são sempre repugnantes. Mas nenhuma da qual eu já tenha ouvido falar (tudo bem, não sou especialista no assunto) chegou a ser de nível tão baixo quanto essa.

 

Segundo uma reportagem da Reuters, o governo da Venezuela afirma que seus opositores estão escondendo o papel higiênico para criar uma sensação de desabastecimento.

 

Parece que o produto não dura nas prateleiras, e o governo de Hugo Chávez acredita que é tudo intriga da oposição. “Há setores que ocultaram papel higiênico”, teria dito o ministro das Finanças do país. Por causa dos rumores não confirmados de que o papel higiênico estaria acabando, os consumidores estão comprando o produto desesperadamente, o que pode fazer com que o boato se torne realidade.

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