Aula de geografia hoje, pessoal.
Eu moro no Grande ABC. O Grande ABC é um pólo industrial formado, segundo a Wikipedia, por sete municípios. Os principais são Santo André, São Bernardo e São Caetano. Podemos agregar levemente Diadema, Mauá e Ribeirão Pires. Logo, falta um. Eu (na minha perspicácia) diria que é Suzano, que eu descobri há pouco tempo ser ‘perto’ (quando fui numa rave). Mas, segundo a Wikipedia, é Rio Grande da Serra, que eu não sei exatamente onde fica.
No ABC, nós temos alguns ícones de reconhecimento no país. Vejamos. Temos a Lucélia Santos, que é de Santo André. Temos o assassinato do prefeito Celso Daniel, que desencadeou a crise no PT. Tem o presidente Lula, que era metalúrgico em São Bernardo. Temos as montadoras de carros, que as pessoas sabem que é aqui. Temos a Estância Alto da Serra, reduto de caubóis e festeiros desocupados e encubadora para um político safado (o dono virou vereador em SBC e logo corre pra prefeito, claro). Sim, e ele é safado, porque sei de estórias dele. Temos também…
Ok.
Morar no ABC é foda. Eu gosto da minha cidade (moro em Santo André). É bonitinha, singela e dá pra ver a prefeitura da minha casa. Mas encontro dificuldade pra sair dela. Ir pra São Paulo é difícil se você não tem um carro, mesmo sendo bem perto. porquê dá trabalho fazer mil baldeações. Fora quê tem lugares em SP que você pode DESISTIR de chegar se não tem carro. A região de Pinheiros, por exemplo, é uma delas.
Também tem outro probleminha. Tem coisas que não dá pra comprar por lá, por mais que você queira, que não vai achar. Sei que vocês devem estar pensando que ‘é assim mesmo, interior’. Não é! É MUITO PERTO DE SÃO PAULO. Sério. De trem, tô na Luz em 25 minutos. De carro, pro Ipiranga dá pra fazer em 40 minutos, sem trânsito, só por trecho urbano. O que significa, na prática, que você não percebe a transição de uma cidade pra outra. É tudo um bloco só! E como explicar que do lado de cá tenha um monte de caipiras e do lado de lá um monte de gente descolada?
Esqueçam o descolada, é brincadeira, mas deu pra entender o sentido, acho. No ABC tem três grandes ruas onde a moçada vai para se divertir.
- Em Santo André, a Rua das Figueiras, que concentra dezenas de bares, discotecas (como eu odeio a palavra ‘balada’) e idiotas na rua, com os capôs de seus Gols abertos tocando a última coletânea da Nativa bem alto. Uma Vila Olímpia low-fi, mais humilde, mais caipira.
- A Av. Kennedy, em São Bernardo, que tem um volume menor de bares e algumas discotecas. Essa é a ‘Figueiras low-fi’, eu diria. Como é uma avenida, mais larga, o trânsito flui um pouco melhor e se pá rolam uns rachas, também.
- A Av. Goiás, em São Caetano. Essa é mais larga ainda, porque é via de acesso ABC - São Paulo. Tem uma meia dúzia de bares e restaurantes, na mesma vibe Jeito Muleke. Rachas também são semsassaum.
Se você gosta de algum outro gênero musical que não seja funk, psytrance ou pagode, amigo, não adianta tentar se divertir no sábado à noite no ABC.
Não podemos ignorar, também, o infortúnio da pequeneza. Quer dizer, é uma cidade grande. Mas o espaço urbano dos incluídos (gente, aprendi isso na faculdade) é restrito, freqüentado sempre pelos mesmos grupos. Ou seja: todo mundo se conhece. Não quer dizer que a cidade é pequena, porque tem um monte de gente que não faz parte disso, mas como não tem muitos lugares pra ir, a gente sempre conhece todo mundo nos lugares em que vai. O resultado era muito simples: sempre, SEMPRE que você conhecia alguém, essa pessoa era amiga de alguém que era seu amigo. Se não, no máximo em duas pessoas você já achava ligação. Não dava pra fazer nada sem que todo mundo ficasse sabendo. Não que aos 15 anos eu fizesse muitas coisas secretas. Só estou conjecturando.
“e daí?”
Primeiro, que eu tô com raiva de morar tão longe e ao mesmo tempo tão perto. É o ‘longe’ mais perto possível da capital. Mas não é a capital, e isso é claro em todos os aspectos: nos lugares que as pessoas freqüentam, nas maneiras como elas se portam e se vestem, nos olhares indignados diante de um casal homossexual, no jornalzinho provinciano e marrom que noticia a região. Ah, também diante da quantidade de emos. Tem muito emo no ABC. Um lugar assim não poderia ser uma cidade grande, nunca.
Segundo, não aguento mais uma pergunta muito, muito chata, e esse post todo é pra esclarecer só isso. Gente, o ABC é (11). Nem precisa discar 11, como em certas cidades do interior. Você geralmente disca direto o número de telefone. Não é fantástico?
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Tags: figueiras, Grande ABC, kennedy, Lucélia Santos, santo andré, são bernardo, são caetano