07.01

2008
11:41 am

Uma ou duas coisas sobre o Grande ABC

Postado em Brasil, Crônicas

Aula de geografia hoje, pessoal.

Eu moro no Grande ABC. O Grande ABC é um pólo industrial formado, segundo a Wikipedia, por sete municípios. Os principais são Santo André, São Bernardo e São Caetano. Podemos agregar levemente Diadema, Mauá e Ribeirão Pires. Logo, falta um. Eu (na minha perspicácia) diria que é Suzano, que eu descobri há pouco tempo ser ‘perto’ (quando fui numa rave). Mas, segundo a Wikipedia, é Rio Grande da Serra, que eu não sei exatamente onde fica.

No ABC, nós temos alguns ícones de reconhecimento no país. Vejamos. Temos a Lucélia Santos, que é de Santo André. Temos o assassinato do prefeito Celso Daniel, que desencadeou a crise no PT. Tem o presidente Lula, que era metalúrgico em São Bernardo. Temos as montadoras de carros, que as pessoas sabem que é aqui. Temos a Estância Alto da Serra, reduto de caubóis e festeiros desocupados e encubadora para um político safado (o dono virou vereador em SBC e logo corre pra prefeito, claro). Sim, e ele é safado, porque sei de estórias dele. Temos também…

Ok.

Morar no ABC é foda. Eu gosto da minha cidade (moro em Santo André). É bonitinha, singela e dá pra ver a prefeitura da minha casa. Mas encontro dificuldade pra sair dela. Ir pra São Paulo é difícil se você não tem um carro, mesmo sendo bem perto. porquê dá trabalho fazer mil baldeações. Fora quê tem lugares em SP que você pode DESISTIR de chegar se não tem carro. A região de Pinheiros, por exemplo, é uma delas.

Também tem outro probleminha. Tem coisas que não dá pra comprar por lá, por mais que você queira, que não vai achar. Sei que vocês devem estar pensando que ‘é assim mesmo, interior’. Não é! É MUITO PERTO DE SÃO PAULO. Sério. De trem, tô na Luz em 25 minutos. De carro, pro Ipiranga dá pra fazer em 40 minutos, sem trânsito, só por trecho urbano. O que significa, na prática, que você não percebe a transição de uma cidade pra outra. É tudo um bloco só! E como explicar que do lado de cá tenha um monte de caipiras e do lado de lá um monte de gente descolada?

Esqueçam o descolada, é brincadeira, mas deu pra entender o sentido, acho. No ABC tem três grandes ruas onde a moçada vai para se divertir.

- Em Santo André, a Rua das Figueiras, que concentra dezenas de bares, discotecas (como eu odeio a palavra ‘balada’) e idiotas na rua, com os capôs de seus Gols abertos tocando a última coletânea da Nativa bem alto. Uma Vila Olímpia low-fi, mais humilde, mais caipira.

- A Av. Kennedy, em São Bernardo, que tem um volume menor de bares e algumas discotecas. Essa é a ‘Figueiras low-fi’, eu diria. Como é uma avenida, mais larga, o trânsito flui um pouco melhor e se pá rolam uns rachas, também.

- A Av. Goiás, em São Caetano. Essa é mais larga ainda, porque é via de acesso ABC - São Paulo. Tem uma meia dúzia de bares e restaurantes, na mesma vibe Jeito Muleke. Rachas também são semsassaum.

Se você gosta de algum outro gênero musical que não seja funk, psytrance ou pagode, amigo, não adianta tentar se divertir no sábado à noite no ABC.

Não podemos ignorar, também, o infortúnio da pequeneza. Quer dizer, é uma cidade grande. Mas o espaço urbano dos incluídos (gente, aprendi isso na faculdade) é restrito, freqüentado sempre pelos mesmos grupos. Ou seja: todo mundo se conhece. Não quer dizer que a cidade é pequena, porque tem um monte de gente que não faz parte disso, mas como não tem muitos lugares pra ir, a gente sempre conhece todo mundo nos lugares em que vai. O resultado era muito simples: sempre, SEMPRE que você conhecia alguém, essa pessoa era amiga de alguém que era seu amigo. Se não, no máximo em duas pessoas você já achava ligação. Não dava pra fazer nada sem que todo mundo ficasse sabendo. Não que aos 15 anos eu fizesse muitas coisas secretas. Só estou conjecturando.
“e daí?”

Primeiro, que eu tô com raiva de morar tão longe e ao mesmo tempo tão perto. É o ‘longe’ mais perto possível da capital. Mas não é a capital, e isso é claro em todos os aspectos: nos lugares que as pessoas freqüentam, nas maneiras como elas se portam e se vestem, nos olhares indignados diante de um casal homossexual, no jornalzinho provinciano e marrom que noticia a região. Ah, também diante da quantidade de emos. Tem muito emo no ABC. Um lugar assim não poderia ser uma cidade grande, nunca.
Segundo, não aguento mais uma pergunta muito, muito chata, e esse post todo é pra esclarecer só isso. Gente, o ABC é (11). Nem precisa discar 11, como em certas cidades do interior. Você geralmente disca direto o número de telefone. Não é fantástico?

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10 comentários (Comente! Trackback)

  1. Rodrigo Sampaio
    07/01/08 | 12:43 pm | #

    Sim, Ana esse é o nosso ABC, perto e longe, com o sensacional estância para os micareteiros, e cinemas que não passam filmes que eu quero assistir… pior pra mim que moro em SBC: nem trem tem! (hahaha, falado fica engraçada essa sequencia, eu acho). Eu tbm gosto daqui, mas não dá pra ser feliz sem carro pra ir a São Paulo… talvez essa infelicidade generalizada transformou tantos em emos por aqui…

    Responder

  1. Eric Franco
    07/01/08 | 3:40 pm | #

    Já fui muito pra Santo André. Tenho amigos que moram aí, mas que eu já não vejo a algum tempo. Nunca conheci o roteiro cultural da cidade e aparentemente não perdi nada.

    A menos que você considere um evento de animes e cosplayers como evento cultural, mas eu não gostaria de entrar em mais detalhes a respeito disso. :)

    Responder

  1. Lannes
    07/01/08 | 5:54 pm | #

    Oi! Ana, né?!
    Eu sou amiga do Rodrigo, cheguei aqui pelo blog dele.
    Muito bom o seu post…mas existem mais ‘discotecas’ além das que você citou…
    Duboiê toca rock. ;)
    Pousada do Pescador toca sertanejo. ;)
    AH, tem muitas outras…
    Não que eu seja baladeira (mesmo!), mas existem outras coisas por aqui bem legais…
    Moro no ABC dsd que nasci…já morei em SBC e em SA…
    E Rio Grande da Serra fica depois de Ribeirão Pires (trabalho lá, são 30 minutos de Santo André -centro- até lá.).
    Concordo com a parte dos emos. Deos como tem emo aqui!
    E ah, qto a não ser capital…eu já acostumei…trabalhei no Brás um bom tempo… “É logo ali”…rs…
    Bom, achei que valeria complementar teu post. ;]

    Responder

  1. anabsf
    07/01/08 | 6:07 pm | #

    Oi, Lannes.
    Valeu pela visita.
    O texto é uma hipérbole, uma caricatura. De qualquer forma, sim, tenho certeza que os bares daqui são bem restritos. Duboiê e os bares de rock tocam pop rock - metal - grunge, sempre essa tríade. Sertanejo, esse sertanejo popular, incluo nos gêneros que não me agradam e que, é claro, tocam por aí. Esqueci de incluir na lisa ta pq ele é menos recorrente, mas como vc pôde ver, mencionei o estância.

    Existe um mundo muito muito muito maior dentro do que é rock e do que é eletrônica, ou mesmo dentro do que é bar - pra sair e conversar. o ABC não abrange isso. Não existem casas segmentadas.

    Fora que comida japonesa no ABC é uma facada. Paga-se caro, come-se mais ou menos.

    Qto ao Rio Grande da Serra, era brincadeira tbm. Não sei ir de carro, ou a pé. Mas sei que é no final da linha de trem.

    Abs, volte sempre. =)

    Responder

  1. Nigel
    07/01/08 | 8:38 pm | #

    Hahaha fiquei horas parado no lucélia tentando lembrar da cara dela, ai consegui lembrar todo feliz e depois tinha uma foto dela… esforço inutil.

    Responder

  1. amilcar
    07/01/08 | 10:25 pm | #

    Po a Lucelia é maravilhosa,o ABC em termos de diversão é pobre demais,na Kenedy tinha o quiosque so tocava reagee,o Zuretas so tinha loucos e eu toquei lá em 2000,deve ter fechado já ,o mabalu fica ali do lado da Goiás ,pra ser sincero a referencia dele é o Zangão que fica de esquina ,dava raiva o pessoal querendo ser Cowboy parando carros com a porta aberta e tocando aquelas musicas chatas ……

    Na verdade vejo uma grande falta de identidade que assola o ABC,muita gente veio de fora é uma mescla de costumes e culturas que não deu liga,as opções de diversão são drogas e alcool, o Vitoria não é mais o mesmo, a Chaplin idem(pensar que ja toquei lá ),falta na verdade ai o que sobra aqui ,Praia,Deus deveria ter sido mais democratico com todos e dividido as prais com todos um pedaço pra cada cidade e to0dos seriam felizes .

    Responder

  1. Futbol Argentino Mexicano y espanol » Uma ou duas coisas sobre o Grande ABC
    07/01/08 | 10:57 pm | #

    [...] ficsummer Escribio un articulo buenisimo hoyAqui hay un pedazo del articuloOs principais são Santo André, São Bernardo e São Caetano. Podemos agregar levemente Diadema, Mauá e Ribeirão Pires. Logo, falta um. Eu (na minha perspicácia) diria que é Suzano, que eu descobri há pouco tempo ser ‘perto’ (quando fui … Lea el resto de este fabuloso articulo here Posted in Uncategorized Bookmark the permalink. Follow any comments here with the RSS feed for this post. Post a comment or leave a trackback: Trackback URL. [...]

  1. thi2net
    08/01/08 | 1:29 am | #

    Oi Ana! Nunca tinha vindo aqui, que feio da minha parte! Mas já dei um ctrl+D. Volto sempre agora. Arrasando na crítica social. Conheço a trilogia ABC e sei o seu drama. Mas admito que há casos piores.
    Bjos, parabens pelo blog e continue arrasando e me perseguindo pela net! hahahahahah
    Thiago Frias

    Responder

  1. Ian.
    08/01/08 | 9:33 am | #

    Olá, Ana.

    preciso muito falar contigo.
    tem como entrar em contato comigo, via MSN?

    obrigado

    Ian.

    Responder

  1. Bel Gasparotto
    01/03/08 | 3:35 pm | #

    Eu nem sei como cheguei aqui, mas adorei o texto. Moro em Santo André, só quem mora nessa terra de ninguém entende exatamente o que você falou… Já tentou comer algo depois das 3h da manhã em Santo André? Já precisou de dinheiro essa hora? Não é fácil não, rsrs

    Adicionei o olhômetro lá no meu blog, bj!

    Responder

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