z 2008 March | Olhômetro

Vale tudo

convitefrentenovo.jpgTô lendo a biografia do Tim Maia pelo Nelson Motta, chamada Vale Tudo. O livro me chamou atenção depois de uma folheada na livraria. Eu não lenbro do episódio da morte do Tim e isso é curioso. Me lembro bem do Senna, do Renato Russo, que foram figuras que morreram antes. Mas não lembro onde eu estava quando Tim Maia morreu.

Me pegar ouvindo Tim é algo inusitado. Minha formação é, essencialmente, roqueira. Por mais ‘eclética’ (sem o tom pejorativo que a expressão adquiriu, qualquer dia falo disso) que eu seja, dificilmente um cara que faz soul vai entrar no meu player. Eu até ouço eventualmente e aprecio. Se tiver tocando no rádio, não mudo e até batuco. Mas só essas biografias doidas pra me fazerem ouvir Tim Maia, cara.

Não me envergonho de dizer que não sabia nada da vida do Tim. Conhecia as músicas famosas, mais algumas nem tão famosas (se é que isso é possível), que ouvi bastante em viagens com os amigos e visitas a baladas de black music, e tudo isso provavelmente totalizava um CD, o suficiente pra eu saber que achava o cara bom e a música divertida, mas que onão era meu tipo de som. Normal. É como eu me sinto em relação a um monte de bandas.

Mas depois que a gente lê essas biografias com estórias legais, como a do Tim, passa a admirar o cara. É essa a pilantragem dos biógrafos, eles criam milhões de fãs paga-paus. Eu fico pagando-pau pros protagonistas das biografias que leio, não posso evitar.

Tim era gênio e o livro é animal mesmo se você não gosta das músicas del. O cara era malandro da mais fina estirpe, e isso já sevia quando ele comia parte das marmitas que entregava. Continuou quando feizsseuscorri pra ir pros EUA e se virou lá sem um puto na carteira, depois quando voltou pra cá e revolucionou a porratoda, que afinal Roberto e Erasmo já não tavam com nada. Jovem Guarda é coisa de maricas.

Leia Também:

March 31st, 2008 | 1 Comentário

Fazendo o Radiohead

Eu tava dando um rolê por aí (leia-se: tava fazendo nada em casa) e de repente me lembrei que, inicialmente, a idéia aqui era falar de música. Tipo, aqui. Olha só como esse mundão gira, né? Então, pra não ficar chato e ninguém achar que foi propaganda enganosa (não foi, gente, é que eu tô em outro momento - sempre quis dizer isso), achei que seria de bom tom dar duas novas diquinhas musicais pra mulecada. Essas duas tem algo de Radiohead, por coincidência (não confunda coinciência com destino, Locke diria):

Kashmir me foi apresentada pelo Pedro, que exageradamente garantiu que é a banda mais superestimada da última década. O Pedro diz que os CDs são bem diferentes um do outro (a banda existe desde 91!) e a Wikipedia diz que eles ganharam vários prêmios na Dinamarca, o país de origem. Os caras do Kashmir cantam em inglês e quando foram criados se chamavam Nirvana, mas tiveram que mudar por causa de uma banda que começou a fazer sucesso na época… bom, eu só ouvi um disco, de 2003, que se chama Zitilities e é excelente. Tem momentos onde Chris Martin encontra Thom Yorke, alguns onde é possível ouvir o Joy Division se els tivessem composto tudo em 2002 e outros que deixariam o Arcade Fire feliz e o In Rainbows soaria plágio (podem ouvir a música, chama The Aftermath). Não sei dos outros álbuns, mas esse é ótimo da primeira à última música. E o vocalista é absolutamente fazível. Eles são tão legais que não dá mesmo pra entender como não ficaram nem ligeiramente famosos. Talvez seja por causa do nome: Kashmir é o nome de uma música muito famosa do Led Zeppelin, de uma cidade e de um tecido. Já tem muita coisa chamada Kashmir… eles não são bons pra nomes.

Essa do vídeo, Surfing the Warm Industry, no Danish Music Awards 2004 (Uau, existe isso), é uma das mais legais do disco.

O Envy Corps eu conheci por causa do Indienation, o outro blog no qual eu não escrevo. Também tem uns momentos Radiohead, mas só de leve. A voz do cara lembra muito a do Thom Yorke, e a banda tem bons momentos, embora alguns sejam chatos - quero dizer, nesse disco que eu ouvi, o Dwell, de 2008. Eles têm mais um, de 2004, chamado Soviet Reunion. Tem uns pianinhos e é bem pop. Esse clipe engraçado de Story Problem simula aqueles programas toscos japoneses, com aqueles circuitos (que o Faustão imitava na década de 90) nos quais as pessoas tem que passar por rios enlamaçados, portas trancadas e tudo o mais. Ecos da ponte do rio que cai. Divertido, mano. Num sei de onde eles são e tô com preguiça de olhar na Wikipedia, brigada.

Se você gostou desse artigo, leia também:

March 27th, 2008 | 2 Comentários

Humanização

telemarketing-image.jpgEu sou uma daquelas pessoas antigas que não consegue falar com máquinas. Nunca deixo recado em secretária eletrônica (e se deixo, em casos nos quais não tem outro jeito, minha voz sai bem triste, desolada) e fico extremamente irritada quando ligo para centrais de atendimento que me obrigam a falar com o telefone. É ridículo.

Qual não foi minha surpresa ontem, contudo, quando resolvi entrar em contato com a “operadora” de internet e TV à cabo Net e seu novo e descontraído sistema de reconhecimento de voz.

Alguém deve ter avisado eles que as pessoas se sentiam intimidadas a falar com uma voz cuja origem humana inexiste, e seguindo tendências do mercado da robótica, a Net humanizou a mulherzinha-máquina que fala com você no atendimento.

O texto: “Eu posso te ajudar com várias coisas, (…), ou até comprar coisas, tipo filmes e canais.”
E daí, você fala as coisas pra máquina e ela te diz: “Uhm, entendi.” Sim, com aquela entonação de entendimento e comprensão tão calorosa. “Espera um minuto pra eu localizar o seu cadastro.”

“Então… sua área está com um problema no serviço de telefone. O problema é que a gente não tem previsão de retorno do serviço. Mas saiba que estamos fazendo o possível para que seu telefone volte a funcionar.”

Gostaria de frisar que o “Então” proferido pela gravação vem acompanhado do tom reticente, característico do “veja bem, amigo” e das falas coloquiais. Impressionante. Caloroso. Humano.

E extremamente assustador.

Fico pensando se, num futuro próximo e amedrontador, a gente iria na loja comprar a secretária eletrônica e poderia escolher, no catálogo, entre os diversos perfis, o mais adequado pra sua situação familiar (baseado sei lá em quê, mas enfim):

- Homem, 40 anos, bem sucedido, empresário de tecnologia. Tom de voz sensato e cordial. Fala pausadamente.

- Mulher, 35 anos, mãe de dois filhos pequenos. Impaciente mas prática. Tom de voz estridente e urgente.

- Homem, 65, aposentado. Meio gordo, problemas cardíacos e de pressão. Meio folgado.

Leia Também:

March 26th, 2008 | 5 Comentários

‘From UK’

Deu no G1 (sempre ele):

Ex-emos migram para a tribo adolescente ‘from UK’

(um dos meninos pediu pra retirar a foto daqui, e como eles são menores…)

Adoro essas matérias aleatórias de comportamento, que detectam ‘tendências’ mas que não detectam. Tipo, quando um veículo desse porte anuncia uma tendência dessa, mesmo que ela não exista, ela vai passar a existir.

O subtítulo: Cansados do preconceito, jovens criam novo rótulo inspirado na moda do Reino Unido.
Cabelão armado e popularidade na internet são preocupações dessa turma.

I mean, se eles são ex-emos, se a preocupação deles é o cabelão e a popularidade na internet, tipo, não foi uma idéia legal essa de mudar de nome, se eles tão cansados do preconceito. Todo mundo vai chamá-los de ‘emo’ mesmo. Pra ser franca, eu até queria que a moda da adolescência quando eu tinha 15 anos fosse uma coisa mais descolada assim, mas costumava ser axé. E acho que, se fosse a moda na minha época, eu acharia muito estúpido e pegaria raiva dos wannabe UK, o que seria um problema pros meus planos de conhecer o mundo.

Com uma pesquisa mais profunda, achei o fotolog http://www.fotolog.com/im_from_uk, que é uma espécie de certo e errado da Capricho adaptado para a moda From UK: eles analisam o visual dos outros membros da tribo(com direito até a tiração de sarro dos coitados que não sabem se vestir adequadamente, veja só).

A comunidade “A nova moda é From UK” já tem quase 1500 membros e é composta, pelo que pude observar - como em todos os casos de comunidades que satirizam tribos - de próprios membros das tribos que fazem a ressalva estando na comunidade. Tipo, a prerrogativa. Normalmente essas pessoas alegam que os ‘posers’ vieram e imitaram o visual que elas tinham há muito tempo (”me visto assim desde os 14!”), e que deram esse nome estúpido e fudeu tudo. Óbvio, eles são todos iguais.

E pelo que eu saquei, no geral, eles são basicamente uma evolução dos emos, mesmo. Porque tipo, normalmente esses movimentos são motivados pelo gosto musical, e o deles é uma coisa bem emo, foge do NX Zero e tal, mas ainda assim se resume nuns screamo zuados.

E não sou só eu que acho o corte de cabelo desses meninos bem semelhante ao dos pais de SandyJunior do Chitão e do Xororó.

Leia Também:

March 24th, 2008 | 6 Comentários

Passagens infelizes desse mundão

E chega o manobrista do estacionamento da faculdade:

- Vocês viram o que aconteceu em São Paulo, a manobrista que atropelou um casal?

- Não, não soube.

- Ela não tinha as manha de carro dramático e passou por cima de um homem e de uma mulher.

- Carro… dramático? O que é um carro dramático? (Eu, na minha santa ingenuidade, achando que provavelmente eu não entendia de, digamos… sei lá, termos emocionais relacionados a veículos automotivos)

- Ah, aqueles carros sem embreagem, sabe?

-

Fui com a minha mãe no colégio do meu irmão, pra assistir à reunião que passaria aos pais detalhes sobre a viagem de formatura. O destino, um belo resort no litoral de Santa Catarina, contava com todos os tipos de atrativos radicais possíveis. A reunião tinha, é claro, o objetivo de certificar todos os pais de que o referido hotel era um lugar seguro, tranquilo, cheio de lazer, que a escola sabia pra onde tava mandando os filhos deles, todas aquelas coisas. Fora o fato de que no vídeo institucional TODAS atividades radicais praticadas pelos jovens suscitavam intantaneamente o pensamento “puta merda, se ele cair daí quebra o pescoço certeeeeeeeeza”, a música que rolava de fundo, super animada, não podia ser mais inapropriada: ao som de uma batida technera bate-estaca (como diz meu vô), uma mulher cantava o refrão de maneira sexy: “DESTINATION UNKNOWN!!” Meio impreciso pra uma agência de turismo, I’d say.

-

Ao Marcus e aos outros reclamantes da queda de frequência postativa (!) do Olhômetro, argumento que sou uma folgada, preguiçosa e todo o resto. Argumento também, nesse caso a meu favor, que o serviço de internet da Abril, conhecido como Ajato, é um puta lixo de merda. De qualquer maneira, com o retorno quase integral da minha conexão, do meu bom humor, das minhas referências literárias e da minha disposição por fuçar em coisas musicais, as chances de que isso bata o recorde de postagens diárias do Chico Barney são grandonas. Boto fé.

Se você gostou desse artigo, leia também:

March 20th, 2008 | 3 Comentários

Perseguindo Britney: o horror

Eu assisto Pânico na TV. Acho que eles ainda têm algumas sacadas bem boas. Na maioria das vezes os quadros do Vesgo e do Sílvio já não dão mais muita coisa, mas aquele Christian Pior é bem engraçado, e alguns humoristas novos valem a assistida.

As piadas do Vesgo e do Sílvio são meio cruéis, depreciativas, mas eu as acho engraçadas, o que é bem triste. De qualquer maneira, ontem eu pude arranjar mais um motivo pra parar de assistir o programa. Todo mundo, eu inclusa, acha toda a confusão envolvendo a Britney um negócio bem engraçado de assistir de fora. Isso também é sadismo. Show de horrores. Curioso a gente ficar chocado quando descobre que no Coliseu as pessoas iam para assistir aos gladiadores sendo trucidados. Não é muito diferente do que a gente faz aqui, mas tá ok.

britney_spears.jpg

O Vesgo e o Sílvio foram pra Holywood pra ‘cobrir’ o Oscar e aproveitaram pra fazer esse ‘especial Britney’, no qual os dois acompanharam os paparazzi para tirarem, eles mesmos, uma ‘casquinha’ da B. Spears e entregar um presente misterioso a ela. A saga já dura umas três semanas no programa, e ainda não terminou - provavelmente só descobriremos que eles conseguiram entregar o presente na semana que vem. Pelo que eu soube, é uma peruca. Meio que pra sacanear a Britney. Como se ela precisasse de mais sacanagem.

Aí eu fiquei chocada com isso:

O cara que postou o vídeo se enganou: ela deu chilique foi com o segurança, e não com o Vesgo. Não me comove o discurso de que a Britney protege os fotógrafos e apóia o trabalho deles, sabe que eles têm que ganhar dinheiro. Isso não os torna os mocinhos da estória, embora eu tenha que reconhecer que eles também não sejam os vilões.

Esse vídeo retrata uma das coisas mais perturbadoras que já vi na vida, sério, comportamentalmente falando. Tipo, a mulher está louca, surtada por causa do showbizz, e por isso ela se torna um produto ainda mais apetitoso pro mesmo sistema, numas de ‘foda-se’ mesmo se ela tá ficando louca. Pelo que tenho lido, parece no mínimo transtorno bipolar. Acho que ela é a primeira paciente de uma nova moléstia característica do pós-moderno, a síndrome do E! Entertainment ou algo assim.

E os culpados, quem são? Não consigo apontar. Difícil dizer que é o público, que é quem demanda por esse tipo de coisa, apesar de ser o óbvio. A sociedade tá muito diferente, as maneiras de acessar informação mudaram muito e não é condenável que as pessoas se interessem pela vida de alguém famoso. A pessoa famosa escolhe ou não o caminho da exposição. Dizer que ela tá plantando o que colheu? Porra, eu não desejaria isso pra ninguém. É a subversão da notícia: qualquer ato minimamente cotidiano que envolver Britney Spears é um furo de reportagem.

Some isso a São Paulo parando, ao aquecimento global, ao não afetamento das economias menores pela crise americana e temos, comprovadamente, o fim dos tempos.

Salve-se quem puder.

Se você gostou desse artigo, leia também:

March 17th, 2008 | 4 Comentários

Síndrome do sábado à noite

É como eu batizo a depressão que me atinge se eu não sair de casa nesse fatídico dia da semana. Quero dizer, à noite.

Explico. Quando eu costumava trabalhar, a noite de sábado era a única da semana que antecedia uma manhã sem a necessidade de acordar cedo. Era óbvio que, como todas as pessoas normais, eu reservaria o período de horas compreendendo o fim da noite de sábado e o ínicio da noite de domingo para fazer o que eu não podia fazer a semana inteira: me divertir com meus bons amiguinhos.

A depressão de sábado à noite se manifesta quando essas pessoas não te ligam no sábado à noite - e quando você mesmo liga pra ver o que houve, descobre que elas tem outro programa e que ele não te inclui. Absolutamente. Tipo, com outros amigos.

E beleza, claro que você não é uma criança estúpida e mimada (?), e então você compreende porque seus amigos não são exclusivos, e você simplesmente desliga e liga pra outro amigo.

Que também vai sair com outras pessoas.

Mas não!, você é bravo. E maduro. Você sorri e respira fundo. Busca outro telefone, afinal, você tem muitos amigos. E liga. Pra descobrir que a terceira pessoa também tem outro programa.

Beleza, beleza. Então essa noite de sábado foi regada à terceira temporada de Lost, Lavanderia MTV e A Shot at Love, o programa da MTV cuja protagonista é uma mulher desinibida, bissexual e com nome de tequila. E bem, eu me diverti, e tentei não ficar paranóica, porque afinal, eu não posso desmonstrar cíumes e possessividade insatisfação com meus amigos - eles não têm culpa de nada.

Tipo, se você for parar pra pensar, isso é só uma tentativa minha de ser a amiguinha legal, madura e politicamente correta, mas está óbvio que na hora eu fiquei muito puta da vida com todos eles, que pensei todas as coisas horríveis, que jurei que ia ficar indiferente no próximo sábado… tudo isso é sintoma da síndrome. Sério. E, claro, todo mundo é meio que normal e se sente assim. E tem que assumir que ficou puto. Acho.

Só que um sonho relacionado, que eu prefiro não descrever o conteúdo, fudeu tudo. Agora, estou de mau-humor. Uma extensão, tipo um efeito colateral da síndrome de ontem à noite. Isso não tinha acontecido antes - se bem que meus domingos normalmente são uma droga se eu não saio de sábado…

Estou digredindo, óbvio, afinal estou meio com sangue nos olhos (porque sim, o domingo está sendo uma merda). Mas olha, acho que o único jeito é, por hora, mandar todos meus amigos insensíveis tomarem no cu. Vão tomar no cu! Sério, muito.

Outra saída é descolar um remédio pra TPM. Porque, vamos combinar, ficar pensando “ninguém gosta de mim” não é normal. Sério.

Se você gostou desse artigo, leia também:

March 16th, 2008 | 2 Comentários

Powered by WordPress | Blue Weed by Blog Oh! Blog | Assine o RSS dos artigos e dos Comentários.

Creative Commons License
Olhômetro by Ana Freitas is licensed under a Creative Commons Atribuição-Uso Não-Comercial-Compartilhamento pela mesma Licença 2.5 Brasil License.
Based on a work at www.olhometro.com.
Outros tipos de permissão? Me consulte através do http://www.olhometro.com/contato.
Fechar
Envie por e-mail