10.07

2008
5:19 am

Caia na real: somos todos tão impostores quanto Felix Krull

Postado em Literatura, Outros

O último livro que li (terminei esta semana) se chama Confissões do Impostor Felix Krull, do Thomas Mann. É um dos autores preferidos da minha madrasta, que foi quem me deu o livro no meu aniversário, em abril.

As confissões do impostor Felix Krull
Capas genéricas de livros não contribuem para ilustrar posts

É, parece incrível nesses dias agitados, mas a minha madrasta não me joga da janela na semana do meu aniversário. Ela me dá livros.

Esse menino do livro, o Felix Krull, é um grande sacana. O que rola é o seguinte: ele é do tipo super-bonito. De beleza hipnotizante. E inteligente, o moleque é muito inteligente. E isso basta para que ele seja um grande enganador de pessoas, como nós sabemos.

Todo o roteiro do livro é permeado pelas… ‘invenções’ do Felix. É assim que ele vive - fazendo as pessoas acreditarem nas coisas que ele cria e tirando proveito disso. Ele é tão bonito, tão simpático, educado e manipulador que todo mundo gosta dele.

E tem dois grandes trunfos do Thomas Mann aí. O primeiro é ele provar que quando você realmente acredita numa mentira que está contando, isso não é mais uma mentira por definição.

O segundo é provar que todos nós, no fundo, somos impostores. Camaleões sociais. E é assim que a gente convive em sociedade.

O Felix era o que ele precisava ser. E era daquele jeito que ele conquistava todo mundo. E a gente faz isso o tempo todo pra sobreviver. Todo mundo tem uma máscara diferente pra cada ambiente que freqüenta. Uma no trabalho, outra em casa, outra em um grupo de amigos A, outra no grupo de amigos B. A gente sabe ser 5, 6, 7 pessoas ao mesmo tempo, tudo isso pro bem-estar social. Pra ninguém achar a gente esquisito, pra gente poder ser bem aceito em todos nosso grupos.

Isso não significa que a gente não é honesto. É uma questão de manifestar ou destacar determinadas características que a gente já possui de acordo com o lugar onde a gente está. É natural, darwiniano até. Instinto de sobrevivência em grupo.

É por isso que é inadequado, quase injusto, criticar o ‘egoísmo’ e a camuflagem do Krull no livro. Ele é apenas uma caricatura do que todos nós somos todos os dias.

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3 comentários (Comente! Trackback)

  1. Thiago
    10/07/08 | 3:42 pm | #

    Me empresta o livro, Ana?!

    Resposta: empresto sim, Thi. Só me lembra de levar na próxima vez que a gente se vir (e não for por acaso, em shows do Interpol).

    Responder

  1. Eric Franco
    10/07/08 | 6:10 pm | #

    Já leu “O Apanhador no Campo de Centeio”? Tem um pilantra mentiroso lá também mas ele é mais legal porque é mais ácido e cínico (talvez tenha gostado porque se parece comigo… hehehe)

    Resposta: qual é, Eric? O Holden SOU eu! De calças. Ele, de calças, digo. Não que eu não use calças… Ok.
    E foi minha madrasta quem me deu esse, também, aliás… quando eu tinha 17.

    Responder

  1. Lili
    11/07/08 | 8:44 pm | #

    Taí, gostei da resenha.

    A palavra impostor, nesta obra do Mann, não tem mesmo essa conotação pejorativa.

    O Impostor Felix Krull é um fingidor, que acaba se adaptando às situações. Se ele tira proveito ou não, é uma questão de caráter…

    O Félix é apaixonante porque ele nos redime! Vamos ser mais impostores e menos hipócritas!

    Adorei, Tata, é por isso que gosto de te dar livros! Já estou pensando nos próximos…

    beijos da Lili , ‘A Madastra’ :)

    Responder

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