Ah, a honestidade. Bons eram os tempos quando ser honesto era considerado a regra. Era o que se esperava das pessoas. Hoje, a notícia é quando o faxineiro do aeroporto devolve a maleta cheia de dinheiro que achou no banheiro.
Eu acredito que boa parte da honestidade surja a partir da aceitação e compreensão do conceito de coletivo. Na vida em sociedade, organizada em um sistema democrático, é fundamental o reconhecimento do direito e do dever de cada cidadão. Quando um indivíduo reconhece e assume um senso de cidadania, ou seja, o reconhecimento dos direitos e deveres de cada um na sociedade, e resolve respeitar isso, a honestidade surge automaticamente.
A outra parte de ser honesto deve vir do caráter.
Digo isso porque não ser honesto resulta quase sempre em prejudicar alguma outra pessoa com os mesmos direitos e deveres que você. A consciência do igualitarismo e um bom-caráter entram em conflito desonestidade por princípio. Ninguém que sabe que todo mundo é igual e que não prejudica outras pessoas tira vantagem dos outros.
Como sabemos, nosso país carece dessa consciência do outro. Não vou nem me repetir no ‘jeitinho brasileiro’. Tirar vantagem do outro, quando possível, virou praxe. Como isso é desonesto, concluimos que desonestidade virou regra. Ou você não conhece gente que te acharia idiota se você devolvesse intacta ao dono uma carteira que achou cheia de dinheiro?
Vou ser bem sincera: esse é provavelmente um dos principais motivos pelos quais eu que eu quero sair daqui. Eu vejo centenas de exemplos de falta de cidadania todos os dias por todos os lugares que passo. E esse individualismo extremo bizarro, que grita ‘cada um por si e deus por todos na rua’ no metrô, no trânsito e em todos os lugares, que só prejudica, me deixa muito desesperançosa. O país nunca vai sair do lugar enquanto as pessoas acharem que é cada um por si.
O interney disponibiliza aqui um teste de honestidade. Clique, responda (amigo, seja sincero. Se você começar sendo desonesto num teste de HONESTIDADE é porque há algo errado) e veja se você é alguém em quem a sociedade pode confiar. Segundo o teste, eu sou uma pessoa super-honesta.
O CQC - o programa de humor mais legal da televisão brasileira, mas que sub-aproveita geniais Marco Luque e Rafinha Bastos - fez recentemente uma série de testes de honestidade. O repórter Danilo Gentili, conterrâneo desta que vos fala (Santo André é nóis), simulou uma série de situações nas quais a honestidade do povo de três capitais - Brasília, São Paulo e Rio de Janeiro - foi testada.
Preciso dizer que o resultado não me surpreendeu? Não me surpreendeu, mas me indignou, porque a capacidade de me indignar eu não perco nunca.
São Paulo:
Rio de Janeiro:
Brasília:
Não é prudente culpar os políticos por tudo, mas a deliberada falta de honestidade na política não pode estar servindo de mau-exemplo para essas pessoas? Do tipo ‘já que eles não pensam em mim, eu vou pensar’.
CLARO que isso não justifica nada. Os políticos são os mesmos para mim e eu não fico por aí pegando dinheiro de ceguinhos. Mas é algo a se pensar.
Aliás, você ficou chocado com o policial-ladrão de Brasília? (Sim, porque quem toma sabendo quem é o dono é ladrão)
Ele se arrependeu:
Justo. Todo mundo deve ter direito a uma segunda chance.
Quanto ao CQC, meu professor de crítica da mídia perguntaria ‘Mas… isso é jornalismo?’
Não que isso importe muito, mas não vou me arriscar a entrar nessa questão. Deixo para você.
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Tags: cqc, danilo gentili, honestidade, humor, marcelo tas, marco luque, Política, rafinha bastos, teste de honestidade