20.10
2008
2:46 am
Quais são os limites do humor?
Postado em Arte, Brasil, Celebridades, Crônicas, Internet, Pop, TVEu sempre fui a favor da piada acima de tudo. Defensora do humor incondicional, sempre achei que a piada nunca poderia ser perdida em momento algum, e que a diversão (e os risos e a alegria) provocada por ela sempre justificaria um possível ‘mau-gosto’.
Para algumas pessoas, é claro, falta humor. A elas parece, por exemplo, um pouco rude rir do vídeo da menina pastora. É, afinal, uma manifestação religiosa que deve ser respeitada.
Mas não sei quem foi que inventou que achar engraçada uma situação que apresenta uma comicidade, embora tenha sentido profundo para outras pessoas, é desrespeito.
Nesses casos, de coisas claramente muito engraçadas, acho inadequado esperar que as pessoas se contenham e não ‘façam piada’ a respeito do comportamento da menina. Parece cruel, e eu já ouvi que meu humor é cruel de muita gente, mas basta me conhecer um pouco para saber que não há, absolutamente, crueldade - há apenas uma capacidade de ver as coisas de um ângulo um pouco menos sério. Nesse caso, essa sensibilidade nem é necessária, já que a graça é bem explícita.
Recentemente, um blog brasileiro de origem árabe publicou algumas charges que faziam piadas desnecessárias com os atletas participantes das paraolímpiadas, e foi duramente criticado por um monte de gente.
Eu fiz coro à crítica, porque achei que as referências foram pesadas e forçadas, e as piadas, sem graça. Acho que em casos de humor politicamente muito incorreto, só vale quando a piada já vem pronta. Por exemplo: um nadador paraolímpico, que não tem dois braços e uma das pernas, se chama Christopher Tronco.
Veja bem - aí não há crueldade. A fina ironia da vida acaba tornando essa casualidade algo digno de nota. E se ele for um cara sossegado, provavelmente até reconhece que tem algo muito engraçado no fato de… bem, você entendeu.
Um exemplo recente é o vídeo aqui em cima. Eu não achei graça, mas posso reconhecer que ele possui elementos cômicos. O problema é que essa dificuldade de fala pode muito bem ter sido causada por um derrame, até onde eu sei - já que mudo é mudo, e não fica resmungando assim - e se esse for o caso, apesar de os elementos cômicos ainda serem proeminentes, a risada traz um pouco mais de culpa.
Outro que promete se tornar hit é esse. Vale rir de uma criança batendo na outra? E se fosse um adulto batendo numa criança, como nesse vídeo aqui?
Sou defensora do bom-humor acima de tudo porque acho fundamental a capacidade de não se levar a sério. Eu consigo apontar de longe as pessoas que se levam muito a sério e quase sempre elas são bem chatas.
Mas é realmente complicado ficar aquém do limite das piadas que podem causar constrangimento ou ofender, até porquê as pessoas são muito diferentes - algo que não ofende a mim pode ofender a você - e a maioria delas tem um senso de humor péssimo.
A própria sociedade desconhece esse limite, aliás. É permitido fazer piada do episódio Padre Baloeiro, que apesar da situação inusitada, teve uma morte supostamente sofrida e aflitiva, já que ou morreu afogado no mar ou congelado nas alturas, desesperado por não saber mexer num GPS.
E claro que não é algo passível de medidas, mas considero a morte do Padre dos Balões tão aflitiva ou mais até do que a fatalidade ocorrida com a menina Isabella, episódio esse que não admite nem a piada ‘o que entra pela porta e sai pela janela?’, sob o risco de olhares tortos dos presentes.
De qualquer maneira, ainda acho que o bom humor é o escudo mais eficaz contra a loucura nos dias de hoje. É fundamental que façamos piada até daquilo que não se faz, das tragédias e das tristezas. É a maneira mais rápida de se desprender disso e continuar vivendo. Não chega a ser bonito, nem louvável, encontrar meia dúzia de jovens esclarecidos fazendo piada com o caso Eloá num boteco na sexta à noite. Mas depois de um tempo eu percebi que mais do que alienação ou falta de sensibilidade, se trata apenas de um mecanismo de defesa. Porque nesses dias doidos, se eu me entristecesse e deprimisse com todos os episódios chocantes que acontecessem, e não conseguisse por um minuto que fosse transformar a tragédia em comédia, eu já teria pirado.
Posts relacionados
» Gostou? Assine o feed RSS do blog. Não sabe o que é isso? Clique aqui!
» Receba as atualizações por e-mail!
» Entre na comunidade do Olhômetro no orkut!
Tags: balões, bicha muda, bom humor, humor, isabella nardoni, liciane, maisa, menina louca, padre baloeiro, piadas
zeugmar Reply:
April 28th, 2009 at 8:21 pm
o seu nome é zeugmar!?
Faça contato.
Eu também me chamo ZEUGMAR.
Responder