Devo sim, e to pagando. Me desculpe. Quer um café?

Alguém teve uma idéia muito, muito assustadora, lá na Espanha. Já ouviu falar dos Cobradores de Fraque?

Cobrador de Fraque

Uma empresa disponibiliza uma série de sujeitos especializados em cobrar devedores de uma forma bem mais inteligente, específica e ’sob demanda’. Esses sujeitos, vestidos de fraque (de um jeito até meio circense), visitam os devedores que já foram cobrados pelos ‘métodos tradicionais’ mas ainda assim não pagaram a dívida.

O Cobrador tem como objetivo constranger o devedor. Ele vai até sua casa, te diz alegremente que você está devendo. Se você disser que vai pagar, e não pagar, ele volta e toca a campainha de todos seus vizinhos e os avisa que você está devendo, quanto e para quem. Se for o caso, volta para o escritório e faz um intenso trabalho de pesquisa para descobrir alguns de seus contatos profissionais, potenciais clientes e parceiros, liga para todos e conta tudo sobre sua dívida e a maneira como você não a paga desde 2002. A Band fez uma matéria sobre eles no fim do ano passado:

Na Espanha, a prática já está tão difundida que o cobrador não chega ao nível do ‘vou espalhar pra todo mundo’. Normalmente, a pessoa trata de pagar rapidinho se receber o cobrador em sua porta, que é pra evitar todo o resto. A idéia é basicamente o seguinte - se você deve, vou fazer com que todo mundo saiba disso. A probabilidade de que você pague é maior.

Os serviços estão funcionando, e a Cobrador recebe como pagamento parte da dívida paga. Em alguns casos, chega a comprar toda a dívida por um desconto, e quando recebe tem bons lucros. Apesar de estar se expandindo e abrindo filiais na Itália e em Portugal, no Brasil ela nunca vai chegar. O Código de Defesa do Consumidor veta qualquer tipo de ‘constrangimento’ público por parte de credores pra forçar o pagamento de dívida.

Bom para mim, já que ninguém me deve. Mas se devesse, eu juro que ia gostar de ter um serviço desse à disposição.

Muita gente deve desde sempre, a crise só intensificou a coisa. Tirando o possível aumento depois da invenção do cheque especial e do cartão de crédito, porque merda acontece, e às vezes você gasta com a certeza de que terá um dinheiro que por algum motivo não vem.

E ai começam as cobranças. Fica um fulano de uma financeira ligando pra você pra supostamente te lembrar o tempo todo que você deve, o que é absolutamente ineficaz. Normalmente ninguém que pretende pagar esquece que deve. A não ser que seja uma conta que você esqueceu de pagar, você sabe quando deveria ter pago algo e deliberadamente não pagou porque não teve dinheiro para isso. Acho que a maioria das pessoas normais é assim. E se você esqueceu que deve e precisa ser lembrado seguidamente, é provavelmente porque não tem intenção de quitar a dívida. Embora talvez Alzheimer também gere sintomas semelhantes.

De qualquer forma, o objetivo da mulher que te liga da financeira pra ‘te lembrar’ que você precisa pagar alguma coisa é te encher o saco até que você desista de ouvir encheção (e fique com medo de ter o nome registrado no SPC, também) e pague. Claro que há maneiras de contornar isso, o que torna o sistema todo ainda mais ineficaz. Você pode não atender telefones na sua casa, e pedir pra que ninguém te passe telefonemas provenientes do Banco Y; você pode instalar um bina e decorar pelo menos o prefixo do número que normalmente liga cobrando, daí não atende mais àquelas ligações; e, no último caso, se você quiser for do tipo estelionatário, não paga, deixa teu nome ir pro SPC e espera ele sair, três anos depois. A dívida continua existindo, mas seu nome não está mais sujo e você pode contrair mais delas.

Tudo isso, no fim, significa o seguinte: pagar uma equipe de telemarketing pra cobrar indivíduos devedores não compensa financeiramente. Quem quer e pode pagar não precisa ser cobrado duas vezes por semana. E quem não quer não vai fazê-lo porque tem uma mulher que fica ligando. Pros credores, uma empresa dessa é muito, muito mais eficiente. E destaca a bizarrice do sistema, que consegue capitalizar tudo, até mesmo a não-capitalização.

(Li sobre a Cobradores na piauí do mês de fevereiro, e boa parte das informações do texto vem de lá. Tem também uma matéria no G1, da qual eu tirei a foto)

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March 6th, 2009 | 1 Comentário

Comprovaram a relação entre mau-gosto e burrice. Sério

Ok, me crucifique. Eu sou a favor da tolerância, da amizade, da alegria, da aceitação, da igualdade. Mas no fundo, eu sempre achei que havia um motivo para debochar de quem gostasse de música ruim. Eu sempre achei que houvesse uma relação entre ‘música ruim’ e ‘gente estúpida’, mas nunca pude provar.

Claro que, com a noção de que isso era algo absolutamente irracional, embora obtivesse algumas provas da minha teoria no convívio social (com exceções, claro, o que só comprova a existência da regra), podei esse pré-julgamento absurdo depois que cresci, pra não prejudicar minhas relações e não me tornar uma pessoa detestável.

Como cientistas desocupados são a classe que, estatisticamente, mais cresce no planeta, alguns deles publicaram um estudo chamado ‘Músicas que te fazem ficar estúpido‘.

Eles compararam o gosto musical de alguns estudantes com as notas que esses estudantes tiraram no SAT, um exame que pode ser considerado o ‘vestibular padrão’ norte americano - testa mais ou menos as mesmas competências que o nosso - e descobriram que quem tirou as notas mais altas ouve Beethoven, enquanto quem tirou as mais baixas curte Lil’ Wayne. A vitória tardou, mas não falhou. Olho no gráfico (se você ouve Lil’ Wayne, essa é pra você - clica e amplia pra conseguir enxergar):

Música que te faz ficar estúpido

Não sei o que acontece se você for fã de dois artistas que estiverem em pontos muito opostos da tabela. Eu sei o que acontece se você for fã só de artistas que estão do lado esquerdo, mas vou te desafiar a chegar nessa resposta sozinho, vamos ver se você é capaz.

Também não sei o que acontece se você considerar que esses exames acadêmicos não medem nada senão sua capacidade de ir bem na escola, que todos nós sabemos, não está relacionada quase nunca com sua inteligência ou genialidade.

Mas ignoremos a verdade politicamente correta e nos atenhamos aos fatos, à comprovação científica - agora eu tenho argumentos sólidos para não me aproximar dos fãs de Reggaton ou de Aerosmith.

Claro que só o fato de você declarar, deliberadamente e com orgulho para um pesquisador, que é fã de Reggaeton e/ou de Aerosmith já denota algum grau de estupidez por si só. Espero que eles tenham considerado isso ao desenvolver o gráfico.

A questão principal é: será que esse tipo de música deixa essas pessoas estúpidas ou essas pessoas ouvem essas músicas por serem estúpidas? Ou então, mais alarmante ainda, a estupidez é uma acarcterística que alimenta o gosto por música ruim, e a música ruim aumenta sua estupidez, num ciclo sem fim que vai terminar com você babando e ouvindo a discografia do Latino?

Só ficamos na especulação, até que outro grupo de cientistas resolva responder essa. De qualquer forma, o mesmo site divulgou também a lista de Livros que te fazem ficar estúpido. Apesar de ser um conceito que eu considero paradoxal, porque acho que gente verdadeiramente estúpida não chega perto de livros, a tabela não deixa de ser interessante. Acompanhe (e clique, se você gosta de Aerosmith):

Livros que te fazem ficar estúpido

Observe ali no topo, do lado esquerdo, que há uma opção ‘Eu não leio’. E - veja você - quem lê a Bíblia, segundo esse incrível gráfico, é ainda mais estúpido do que quem não lê nada! Puta merda! E, pra que ninguém ofenda minha mãe, acho a Bíblia um grande livro. Mas é provavelmente o mais perigoso deles se cair em mãos (ou em olhos)… estúpidos.

E aí, nesse caso, será que é o livro que te deixa estúpido ou você que é estúpido e busca esses livros? Acho que temos uma resposta. E Harry Potter tá lá pro meio, o que me faz sentir tranquila neste momento.

Esse post serve basicamente pra você zuar aquele seu amigo que acha que o Dan Brown é o melhor escritor de sua geração e que Nickelback é genial (normalmente, essas características se cruzam nos mesmos tipos de pessoas, o que aumenta ainda mais a veracidade do gráfico). Mas acho que é importante dizer que… é tudo brincadeira. E na vida mesmo, acho que mais inteligente que o leitor de Cem Anos de Solidão ou que o ouvinte de Beethoven é quem, além desses, também leu a Bíblia e os livros do Dan Brown, e como se não bastasse também sabe cantarolar meia dúzia de canções do Lil’ Wayne e já ouviu um pouco de Aerosmith.

E se você perguntar ‘até a discografia do Latino entra nesse exemplo?’, eu vou ponderar, mas depois… pensa bem: se eu te disser, agora, rapidinho - ‘Oh Baby, me leva’ - quanto tempo você vai demorar pra tirar essa merda da sua cabeça?

Pois é. E você vai negar que exista algum tipo de genialidade - muito embora pareada com uma babaquice - em conseguir fazer músicas que sejam tão involuntaria e incessantemente repetidas pelo cérebro de todo mundo que as ouve, até de quem não gosta delas?

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March 4th, 2009 | 96 Comentários

Já participou da Promoção cujos prêmios não fazem sentido?

Hoje é o último dia pra mandar sua participação pra nossa fantástica promoção. Eu sei que o nome não encoraja muito as pessoas a participarem, mas os prêmios fazem muito sentido, sim! Olha só o que dá pra ganhar:

1º lugar: Vale-compras Submarino de R$100 + camiseta Mädels + Livro Antologia Casseta Popular

2º lugar: Vale-compras Submarino de R$50 + camiseta Mädels

3º lugar: Vale-compras Submarino de R$50 + camiseta Mädels

Para participar, é ridiculamente simples. Basta entrar na comunidade do Orkut e dizer de qual post do blog você gosta mais e de qual você gosta menos. Todas as instruções pra facilitar sua vida e regras da promoção estão nesse post, clique e leia.

Até agora, obtive pouco mais de 20 colaborações, o que eu considero um número fantástico - a última promoção que eu fiz aqui só teve, juro, três participantes. FAIL

Eu sei que sempre que alguém faz uma promoção que foi um fracasso, eles dizem ‘devido ao ENORME SUCESSO dessa promoção estamos prolongando o prazo para as participações’. E todo mundo na hora percebe que ninguém participou, e é por isso que eles estão aumentando os dias.

Mas vou aumentar o prazo dessa bagaça pra sexta-feira, 6, até 23h59. E incrivelmente não é porque eu acho que as participações foram poucas, é só porque eu dei falta ali de um monte de nomes que são recorrentes nos comentários. E 20 participações, diante do número de assinantes do feed, é nem 10%.

Assim, quem não participou ainda pode ter mais tempo para executar a TRABALHOSÍSSIMA TAREFA de colocar dois links num tópico do Orkut. :)

Corre que ainda dá, e o negócio e até bem simples de fazer. R$100 no Submarino dá até pra comprar um box de Lost na promoção.

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March 4th, 2009 | 4 Comentários

Sequestrador ameaçou polícia com pistola difícil de encontrar

Na semana passada, no município de Samambaia, no Distrito Federal, um senhor que responde pelo nome incomum de Bejamiro Emídio de Jesus, ficou bem louco num bar e decidiu que faltavam R$42 em sua carteira. Talvez ele tenha se dado conta disso depois de gastar R$42 em cachaça, mas isso não vem ao caso.

Eu nem preciso ficar bêbada pra abrir a carteira e perceber que falta bela muito, muito dinheiro. Mas Bejamiro não é homem que leva desaforo pra casa (quer dizer, ele levou pra casa, mas não pra dele): ele ponderou e decidiu invadir a residência de algumas das pessoas que estavam com ele no bar, para reaver os R$42 na marra, e fez quatro pessoas de reféns por cerca de 10 horas.

A polícia militar do DF prendeu Bejamiro, e divulgou as fotos da operação policial. Agora vamos brincar do jogo dos 7 erros, mas finja que você só precisa encontrar um deles (clique na imagem para ampliar).

Sequestro no DF com Light Phaser

Nada de errado? Ok, vou te dar uma dica. Leia este link na Wikipedia.

800px-sega_master_system_lightphaser

Sim, meu caro. Este senhor ameaçou a polícia por cima de uma mureta com uma pistola a laser usada no Master System, uma Light Phaser. Muita gente já falou desse FAIL policial, mas Bejamiro também portava facas quando foi preso, e em uma das fotos ele ameaça uma das reféns com uma faca, então ele não era de todo inofensivo.

O G1 conversou com alguns especialistas em games que deram quase 100% de certeza que é uma Light Phaser. Mas não precisa ser especialista em game pra reconhecer, comparando as duas fotos. A polícia disse que vai ‘periciar’ a arma pra descobrir se não é uma arma de verdade disfarçada de Light Phaser (tudo bem que seria extremamente engenhoso e, sem querer desdenhar de Bejamiro, não acho que ele perderia tempo construindo tal equipamento - ele é do tipo de pessoa que invade casa de gente aleatória supondo que roubaram-lhe R$42), e eu gostei da palavra ‘periciar’, porque ela concede um aspecto muito mais profissional e científico ao ato de olhar a parte da frente do cano da pistola e ver se ali tem um buraco por onde poderiam sair balas ou se tem um pedaço de plástico transparente.

O mais triste de tudo é que o o moleque (um dos sequestrados é um menino de 15 anos, que eu suponho que tenha herdado a raridade de outro deles, o irmão de 19) tinha um fucking Master System, um videogame que foi criado antes de eu nascer. Mas não era tão ruim - apesar dos gráficos pífios, ele tinha uma pistolinha de luz, que elevava a diversão e a interatividade da coisa a uma potência quase comparável a de um Nintendo Wii. E agora tudo que ele tem é um Master System.

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March 3rd, 2009 | 50 Comentários

Univerxadrez

E daí que cheguei na faculdade esse ano e encontrei os batentes das portas ornados por uma caixinha preta com um led que, dependendo da situação, era verde ou vermelho.

A única vez em que tinha me deparado com algo parecido foi quando me aventurava na Rússia soviética como agente secreta da coroa britânica. No Nintendo 64, jogando 007 Goldeneye - as caixinhas nas quais você deveria encostar as credenciais que abriam as portas eram iguaizinhas.

007

Normalmente a gente não precisa alvejar os soldados antes, mas acho que é uma das próximas medidas

Um pouco de conversa com os amiguinhos foi o suficiente para sacar que, muito embora eu não fosse mais agente secreta na Rússia soviética, aquelas caixinhas eram mesmo autenticadores de credenciais. As portas da universidade não usam mais o defasado sistema de chave na fechadura. As portas só se abrem com o professor passando o crachá.

Moderno, arrojado, primeiro mundo. Economiza tempo, porque o professor não precisa ir até a sala dos professores buscar a chave quando chega. E aumenta a segurança. Lindo.

Só tem uma coisa. Junto com as caixinhas pretas, veio uma nova política gatekeeper na faculdade - uma vez fechada pelo professor que entrou na sala, a porta não abre mais pelo lado de fora. Lá, encontra-se apenas uma maçaneta falsa, travada, pura ilusão para constranger o aluno que pegou recorde de trânsito em SP ou que só quis mesmo passar no bar antes de entrar - só pra ver se tinha alguém lá, sabe como é - ou seja lá o que for que fez o cidadão atrasar.

A política nova obriga ao aluno bater na porta e esperar que o professor abra. Toda vez em uma aula que um aluno chegar atrasado o professor será obrigado a parar a aula, desviar a atenção de toda a sala para o aluno em questão e abrir a porta pra ele. Para cada aluno atrasado. Todas as vezes que um aluno chegar atrasado, o professor terá oportunidade de olhar bem para a cara dele, pois terá sido ele mesmo quem abriu a porta. E como eu sei que tem uns professores bem loucos, tenho certeza que algum deles será capaz de negar ao aluno a abertura da porta.

Eu não consigo expressar minha indignação diante de tamanha… sei lá, catracalização. Porque quero usar palavra de redação da FUVEST. Porra, será que teve mamãezinha ligando e reclamando que o filho tava indopro bar? Estamos numa faculdade, não na oitava série. Daqui a pouco, a gente vai ter que pedir pra sair da sala se quiser ir no banheiro.

Fico imaginando sob qual pretexto um grupo de pessoas resolve tomar uma atitude dessa numa universidade. Tem lá a mesa diretora, com o reitor, o conselho educacional e sei lá. E alguém sugere inutilizar as maçanetas do lado de fora - como um grupo de pessoas concorda com isso? Que explicação eles pretendem dar aos alunos para justificar uma decisão dessas?

O mais frustrante é o contraste diante de uma situação recente - meu irmão, que passou na Unesp, veio com seu ‘Manual do Bixo’ para casa. O livro, que explica toda a dinâmica dos cursos, todas as atividades possíveis disponíveis aos alunos na faculdade, tudo mesmo, é escrito pelos próprios. Eles até falam mal da reitoria. E o livro é impresso na gráfica da Unesp. A diferença entre a minha e a dele podia ser só o ‘n’, mesmo. Pena que é mais que isso.

A única coisa que aluno imprime na minha faculdade é resumo de livro que não leu, 10 minutos antes da prova. Gráfica? A faculdade deve ter, mas alunos não usam, óbvio. O contato mais próximo que os alunos têm com organização espontânea de coisas dentro do ambiente acadêmico é a organização de festas, atividade desempenhada, aliás, com muita maestria.

Não bastavam as catracas na entrada e a obrigatoriedade de carteirinha pra uma delas, agora você precisa da permissão e da ação do professor pra entrar na aula. Aguardem o próximo capítulo, em que minha mãe terá que assinar com um visto de ‘ciente’ um bilhete escrito por um dos meus professores dizendo que eu não me comporto na aula. Pff.

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March 2nd, 2009 | 19 Comentários

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