29.05
2009
3:04 pm
Como redigir seu currículo: você quer ser um Futurólogo ou um Pai-de-Santo?
Postado em Brasil, Celebridades, Crônicas, Entretenimento, Há mais entre o céu...Eu percebi desde pequena que pra ser uma pessoa bem sucedida (na vida, mesmo) a fórmula a ser seguida é bem simples - você precisa sacar logo de cara o que as pessoas gostam de escutar e dizer isso pra elas. Demanda um pouco de empatia e inteligência comunicacional mas é sério, funciona em todos os campos dessa nossa vidinha. Venho aplicando desde que me dei conta.
Quando eu reclamei que tenho na faculdade uma matéria que avalia minha habilidade de argumentar bem, não considerei essa máxima da vida em sociedade. Faz todo o sentido - senão, não haveria toda uma etiqueta a ser seguida em entrevista de emprego, palavras corretas a serem empregadas em diversas situações e até os termos mais adequados pra um currículo.
É, porque se você não consegue emprego, tenha certeza que o problema não está em você na sua notável incapacidade, pobre infeliz analfabeto. Está na maneira como você (não) se vendeu no seu currículo. Os analistas de carreira (a propósito, que tipo de metaprofissão é essa?) dizem que você precisa, hum, ‘florear’ as coisas, mas sem mentir.
Tipo o Peter Pettigrew Nelson Rubens. Aumenta e não inventa.
Fica assim: se você, quando era criança, ajudou seu pai (que tem uma loja) a digitar no computador a ficha de todos os clientes, vai ficar muito mais atraente se você escrever que “ajudou a implementar e incluir dados de mais de X clientes no sistema de banco de dados da loja tal”.
Se você vendia limonada pros vizinhos, diz que era empreendedor em um pequeno negócio do ramo alimentício, que controlava desde administração de contas até projetos de marketing.
Até se você for analfabeto, cara, dá pra tornar a situação menos vexaminosa no currículo. Diga algo como “habilidade extremamente desenvolvida para analisar e observar figuras, imagens e ilustrações” (Lembra do “ler, ler eu não sei não, mas sei vê as figura”?). Resolvido.
E cara, isso é sério - funciona. Você já ouviu falar da profissão de Futurólogo?
Se não ouviu, te explico. Futurólogo é um cara pago pra dizer pras grandes empresas o que vai acontecer no futuro. Eles tem cargos de alta patente (e altos salários) nas maiores corporações do mundo. Se baseiam no que aconteceu no passado e nas tendências de mercado, além de cálculos envolvendo velocidade de aprimoramento da tecnologia, além de algo tipo ‘intuição’ (suponho), pra ‘prever’ coisas. Esses caras são ultra-respeitados, vivem dando entrevista pras publicações mais prestigiadas do mundo, e as previsões dele viram manchete.
E, me diga por favor, qual é a diferença entre esses senhores e a pobre Mãe Dináh? Eu lhes digo. Quando a Mãe Dináh entrou na Lan-House com a plaquinha ‘Faz-se currículo’ na porta ela disse pro moço - “digita aí que eu sou vidente. Isso, vidente. Búzios, tarot, astrologia, amarração. Pode colocar tudo isso aí. Ah, e põe um ‘H’ no fim do meu nome. Isso, ‘Dináh’. É, com acento mesmo. Pega bem, as minhas amiga vidente tudo tem nome exótico assim, diferente”.
O Futurólogo, que já começa com a vantagem de ter um Q.I. maior, foi lá e escreveu que ele é… Futurólogo. Pronto.
Os futurólogos acertam? Às vezes, sim. Às vezes, não.
Mas a gente tende a ignorar os erros, nesses casos, e exaltar os acertos. Logo, se o cara errar 10 previsões e acertar uma com certa precisão, ele vai ser lembrado por aquela previsão que só ele conseguiu fazer. É um belo emprego - basta ter imaginação fértil pra ficção científica, boa capacidade de redação e de comunicação, quem sabe habilidades como ilustrador… você será muito bem pago pra pensar no que vai acontecer daqui 20 anos. E se errar, tudo bem, porque não é exatamente como se você pudesse, digamos, prever o futuro, né? A Wikipedia ainda descreve a profissão como ‘não o trabalho de indicar o que vai acontecer, mas o que pode acontecer…’ - COMO ASSIM BIAL? O que pode acontecer? Tudo pode acontecer, cara. Na boa, ser Futurólogo é moleza porque sua função é pensar em 20 possibilidades de futuro. 20, 30, 40, 50, 60. Se você acertar UMA delas, já tá bem sucedido na carreira.
E os pobres pais-de-santo, quiromantes, astrólogos e toda sorte de profissões do ramo considerado ‘charlatão’ pelo cidadão-padrão? Continuam sofrendo preconceito aí, na marginalidade, na dorga, na postrituição, só por causa de um termo mal empregado. Eles não tem a chance de fazer 10, 20 previsões do que PODE acontecer. Pra ter prestígio, um profissional da área da adivinhação precisa fazer uma previsão só e ser bem firme em relação a ela. Se for bem sucedido, bom; senão, está fadado à desgraça.
Porque na prática os dois fazem exatamente a mesma coisa. Tudo nessa vida é marketing pessoal. Mãe Dináh e Walter Mercado - vocês poderiam ter construído belíssimas carreiras na IBM, HP, Intel, Microsoft ou Apple como Futurólogos. Deviam ter previsto isso.
Posts relacionados
» Gostou? Assine o feed RSS do blog. Não sabe o que é isso? Clique aqui!
» Receba as atualizações por e-mail!
» Entre na comunidade do Olhômetro no orkut!
Camila Reply:
June 2nd, 2009 at 12:50 am
Bosco,
a parte q mais gostei foi sobre o computador…falavam q quando o uso do computador fosse popular, teriamos mais tempo para tudo….mas hoje em dia parece q o dia tem 8 horas e não 24!
mto bom parabens!
Responder
Bosco Reply:
June 2nd, 2009 at 2:52 pm
Valeu, Camila.
Mas é isso mesmo: O problema não é a previsão em si, mas o que fazemos com ela quando torna-se realidade…
Gde abraço.
Responder