04.06
2009
5:15 am
Project Natal: parece que o futuro chegou, e eu tenho medo dele
Postado em Ciência, Crônicas, Entretenimento, Há mais entre o céu..., Internet, Pop, TecnologiaTá rolando a E3 nos EUA. Como sei que meu público é plural e diversificado, peço uma pausa para explicar aos não-nerds o que é a E3.
E3 é a maior feira de games do mundo, palco para as fabricantes apresentarem as tecnologias que possivelmente dominarão o mundo no ano vindouro.
Explico também ao leitor leigo que os videogames, antes considerados artigos de nicho, reservados somente a um grupo restrito de aficionados, acabaram popularizados entre todos os gêneros e idades pela Nintendo com o lançamento do Nintendo Wii, aquele videogame maneiro que tem um controle em formato de tijolo que reconhece os movimentos do jogador.
(Aproveitando, deixo um apelo: nunca joguei Wii. É, eu sei. Vergonhoso. Portanto, caso alguém esteja pensando em dar uma Wiiparty na Grande São Paulo, enviem o convite. Grata)
Obrigada pela paciência. Na E3, a Microsoft apresentou um esquema que chama Project Natal, um acessório para Xbox 360 que transforma o próprio jogador no controle.
Sim, aparentemente é tão preciso e assustador quanto o vídeo mostra. O acessório é capaz de reconhecer o corpo do jogador e transportar isso para dentro da interface do jogo, tornando desnecessário o uso de um controle plástico para direcionar seus movimentos. A idéia é - apenas faça o movimento e isso será replicado na tela.
Mais assustador ainda é o próximo vídeo, que dá uma dimensão de outra tecnologia de inteligência artificial que está sendo desenvolvida para funcionar junto com o Project Natal e que, tecnicamente, já poderia ser colocada a disposição para o consumidor final através de um console e do acessório necessário:
Nesta simulação (em inglês, e sem versão com legendas no YouTube, sorry), um personagem de dentro de um videogame conversa com alguém da vida real. Ele é capaz de reconhecer faces, então identifica quem essa pessoa é, e a chama pelo nome. Também é capaz de reconhecer expressões faciais e tons de voz, por isso, identifica a inclinação emocional da pessoa. Através de uma interação por câmera, a pessoa DESENHA ALGO EM UM PAPEL e mostra isso ao garoto do vídeo, que PEGA O PAPEL, olha o desenho, reconhece-o e comenta o desenho.
Parece filme de ficção científica daqueles que de tão exageradamente futuristas viraram trash-cult. Não são poucos os roteiros em que gente de verdade caminha e interage fisicamente dentro de um mundo virtual, e a concretização disso me parece, ao mesmo tempo que fantástica, assustadora.
Primeiro, tem a inteligência artificial dessa parada, que de tão próxima a nossa maneira de relacionar dá medo. Quanto mais próximo um organismo com IA é ao interpretar e responder a estímulos de seres humanos, mais a gente falha em reconhecer esse sistema como uma máquina desprovida de ‘personalidade’, ‘sentimentos’ ou seja lá o que isso for. A gente acaba atribuindo essas características àquilo sem querer, por instinto, porque bem ou mal aquela imagem ou robô se comporta como um de nós se comportaria.
Se isso já perturba pessoas que tem apenas leves desvios de personalidade (eu), imagina o que vai se tornar uma tecnologia dessa na mão das milhões de pessoas no mundo que tem problemas de interação social? Se você tem um computador que te trata melhor do que qualquer ser humano que você conhece, porque você vai tentar se relacionar com pessoas?
Pra pedir cigarros
Num mundo onde as pessoas estão gradualmente mais individualistas, mais mal-educadas, mais egoístas, nem vai ser muito difícil desenvolver um robô que seja mais educado e simpático que a maioria das pessoas que a gente encontra por aí.
E eu fico pensando nas consequências sociais. Na adolescência, o período difícil, é possível que os jovens se enclausurem mais dentro de seus quartos, na frente dos videogames. Vão aparecer aqueles casos bisonhos, de gente que se apaixona por Lucy, a moça de dentro do videogame; do rapaz que entrou em depressão depois que o Xbox 360 deu 3 red lights e ele não pôde mais papear com Fred, seu melhor amigo virtual (virtual de ‘não existir’, e não como aquele conceito antigo, que diz que amigo virtual é amigo feito pela rede), e uma série de outras esquitices dignas da editoria Mundo Bizarro do G1.
Meu parecer? Prato cheio pra pós-graduandos em psiquiatria, psicanálise e campo de estudos muito vasto pros profissionais dessa área (vão ganhar grana pra caramba). Ademais, estamos entrando numa era que muitos escritores de ficção científica previram, e que muitos de nós duvidaram que seria verdade - um tempo em que se tornará cada vez mais difícil distinguir máquinas de gente.
Pela minha idade (se eu ignorar os índices de criminalidade do Brasil, as possibilidades de morrer em catástrofes naturais e o próprio fim do mundo em 2012), provavelmente estarei aqui pra ver isso. No fundo tenho medo, mas quer saber? Mal posso esperar pra testemunhar a tecnologia que deve selar nossa ascensão ou destruição definitiva. Ou não.
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Tags: apocalipse, ficção científica, fim do mundo, futuro, games, microsoft songsmith, Project Natal, Xbox 360
Lucas Reply:
June 4th, 2009 at 5:02 pm
fanboy da nintendo detected. se bem que eu mesmo era um, até comprar um xbox 360 e notar que o mundo não é apenas pegar 8 moedas vermelhas, tocar ocarinas e atirar cascos em carts.
Responder
Enrique Reply:
June 4th, 2009 at 5:45 pm
fanboy da microsoft detected =P. Fazer demonstração é fácil; na época do lançamento do wii todo mundo ficou besta com as possibilidades, e no final o controle tinha lá suas várias limitações. Vai ser a mesma coisa com esse Project Natal, o que não significa que vai ser ruim. Enfim, quanto mais inovações, melhor. Embora ainda não seja chegada a época da singularidade técnologica ;P
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Oscar's Reply:
June 4th, 2009 at 11:46 pm
@lucas
nao adianta eu ficar empolgado com os jogos fodas de ps3/xbox se eu nao tenho um.
e sim, o wii tem muitas limitações. isso nao me faz deixar de ficar ansiosos pelos lançamentos.
e eu nao atiro cascos, o que pwna mesmo são as cascas de banana
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Mauro Reply:
June 5th, 2009 at 12:20 am
COMO ASSIM, “o mundo não é apenas pegar 8 moedas vermelhas”?!?!?!?!? AAAAAHHHH!! ISSO VAI CONTRA TODA A MINHA INFÂNCIA PERTURBADA!!
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Rubens Reply:
June 5th, 2009 at 2:24 pm
Incrivelmente, atirar cascos e pisar em tartarugas ou tocar ocarina ainda rende jogos que vendem como água.
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