Quando a data do festival se aproximou, eu fui tendo um ‘good feeling’ sobre ele. Mas eu tinha certeza que só estava tendo essa sensação por três motivos:
1. Queria ser otimista pra ver se conseguia aplicar O Segredo com sucesso na minha vida;
2. Imaginei que, depos do Fiasco Tim Festival 2007, os organizadores do Tera se preocupariam ainda mais com a organização do Festival, até para se aproveitar da situação favorável;
3. Mesmo que o motivo 2 não fosse verdade, dificilmente um festival teria tantos problemas quanto o Tim Festival teve, então qualquer coisa que viesse seria um lucro.
Minhas suspeitas se mostraram corretas.
O Festival Planeta Terra deu, ontem, um show de organização. Apesar do difícil acesso do lugar (ok, e daí se eu sou do ABC e me perco em SP? hein? hein?), o lugar é grande, espaçoso e tem um monte de ambientes legais além dos galpões.
Na entrada, mostrei meu ingresso quatro vezes, junto do R.G. original. Menor de idade não podia entrar de jeito nenhum - por exemplo, no Tim, comigo, entraram pelo menos três menores de 16. Nada contra a molecada - só quero demonstrar que a organização cumpriu o que estava estabelecido. Se menor não entra, não entra e pronto.
Câmeras digitais, celulares, tudo permitido. Não sei se era possível entrar com comida porquê não tentei. Dentro dos galpões, banheiros pra todo lado, cheios de ramos de eucalipto pra neutralizar o cheiro indesejável. Cheios MESMO - tinha até dentro dos boxes. Não era preciso andar quase nada pra ir até o bar, porque em todo lugar tinha um, o que não deixava as filas crescerem muito. Além disso, se você não quisesse pegar fila, podia dar a sorte de encontrar uma vendedora de fichas que ia até você. Preços acessíveis pra comida e bebidas (cerveja por 4,00 e água/refri por 2,00 reais, uma pechincha), fora as opções de alimentação (hot dog, salgados, pastel, pipoca, pizza e até Temaki. Sorvete rochinha também, por 2,00, com o adendo de um vendedor-personagem muito engraçado). As praças de alimentação contavam com mesas, várias, pra ninguém precisar comer em pé ou sentar no chão. Tinham até uns tiozinhos que vinham limpar a mesa/recolher o lixo de 10 em 10 minutos.
Os palcos, tendas e outras atrações (mercado mundo mix, terra sonora, terra tv, lambe-lambe) eram muito bem sinalizados. Seguranças e bombeiros por todo lado - chegava a ser chato, porquê no começo do show sempre tinha, digamos, uma meia dúzia de seguranças passeando no meio do público que tava na frente.
Vou falar dos shows, mas se vocês esperam setlist, dêem uma passada no site do Terra (lá não tem, eu já vi, hehe) ou algo assim. Não fui pra trabalhar e e além disso tenho problemas com nome de música, não sei nenhuma, porque normalmente deixo todas rolando no mp3 e nem sei como se chamam.
Em todos os concertos eu fiquei na frente, no máximo a tipo 10 metros do palco, e todas as atrações estavam bem tranqüilas (quanto a ser amassada pelas pessoas). Então, por ficar na frente, pode ser que as minhas impressões tenham sido melhores do que pra quem ficou atrás, onde costuma ser mais desanimado.
Não tirei fotos porque tô véia, com tendinite, e o braço fica tremendo, então nenhuma foto sai. Os vídeos tão tremidos, mas aí dá pra ver que é um vídeo e tal, mesmo tremido - foto tremida não salva de jeito nenhum. As fotos aqui no texto são todas do Terra, e se você colocar o mouse em cima ou clicar em ‘propriedades’ pode ler o crédito do fotógrafo.
Infelizmente, porque nos perdemos, não vi o Supercordas. Cheguei as 19h em ponto, quando o Pato Fú subiu no Main Stage, ao ar livre. Nada contra os mineiros, mas não sou fã nem nada e fui até o Indie Stage pra esperar o Tokyo Police Club, que tocou o primeiro acorde pontualmente às 19h30, como marcado na programação. O show foi intenso, desses pra gritar quando você sabe a letra. Quando eu cheguei não tinha muita gente, mas lá pro meio/fim, olhei pra trás e estava bem lotado. O TPC tocou os hits dos dois EPs (entre eles, que eu lembro, Cheer it On, Citizens of Tomrrow, La Ferrasie, If It Works, Be Good com palminhas e tudo) e cinco músicas novas, mas não passou de um concerto divertido de uma banda que pode ser maior quando tiver um CD, algo mais coeso, pra gente poder opinar. Um bom começo de carreira, ainda assim, com uma parte do público cantando os refrões, gritando os “heys!” (eles têm vários nas músicas) e antecipando as palminhas (também têm várias).
Tokyo Police Club - Cut Cut Paste
O próximo show que eu veria era o da Lily Allen, no Main Stage, as 22h - o TPC terminou lá pelas 20h30. Fiquei colando meus lambe-lambes nas paredes e conferindo as áreas de chill-out, uns espaços verdes com banquinhos pra sentar e desencanar um pouco, e fui pro palco principal pouco antes do início do show, que começou as 22h em ponto, de novo. Lily é uma graça no palco. Fuma e bebe e pula, descalça, esbravejando impropérios e fazendo gestos obscenos pra falar do presidente americano. Pra quem pensava que aquela voz era, sei lá, pro-tools, ela segura muito os vocais no microfone verde limão. Lily canta bem e o show é divertididíssimo, e nada além disso - nada épico, memorável, nada daqueles shows de você sair se perguntando quem é e onde está -, mas vale a diversão sim. Ah - ela estava bem bêbada e esqueceu as letras de umas 4 ou 5 músicas. Eu não ligo muito, afinal, aprendi a ouvir música com o Pearl Jam, que tem nos vocais um cara que esquece 9 entre 10 letras nos shows. Mas , se no começo foi engraçado, lá pela quarta música o pessoal já tava um bufando um pouco… Foi o último show da turnê de Alright, Still. Teve LDN, Smile, Friday Night, Not Big, Shame For You, covers do Specials e do Keane e algumas outras.
Lily Allen - LDN (só um trechinho)
Corri pra ver o fim do CSS. Peguei umas três músicas e saí quando começou Music is My Hot Sex porque de lá onde eu tava (uns 30 metros do palco, calculo), até tava cheio de gente, mas tava bem desanimado. Entendi a Lovefoxxx mais como performática do que carismática. Ela pula, grita, se joga, mas não tem aquele lance de ter o público na mão, ao menos aqui não. E continuo não indo com a cara daquele Adriano. Mas tenho respeito pelo CSS anyway, apesar de não entender onde a música deles é tão genial. É legalzinha, divertida, mas não passa disso, na minha opinião. E o show aqui nem foi incendiário como relata a NME, de onde eu pude notar, apesar de ter visto tão pouco.
Eu fiquei em dúvida sobre o que ver em seguida. Gosto mais do Rapture do que do Devo, mas sabia que o show dos tios ia ser um puta espetáculo. Decidi pelo Rapture mesmo, no Indie Stage. E olha, falaram que o show do Devo foi fantástico, e eu não duvido, mas não me arrependo de ter escolhido o Rapture, porque aquilo foi pra mim o grande show do Festival, em termos de catarse coletiva. Pô, não duvido que o do Devo tenha sido maior, mais intenso, mas eu não estava lá, então vou falar do que vi.
Sabe aquele negócio que dizem que existe, uma tal de new-rave, em que eu, francamente, não acredito? Pois bem. Se a new-rave existe, ela é aquilo que aconteceu no show do Rapture. Uma hora de show pra dançar, todas as músicas eram hits cantados arduamente pelo público, samba suor e saudade no meio da galera. Não assistia a um show incendiário assim desde o Nirvana, em Seatle, um show de 94. Ok, eu não vi o Nirvana em Seatle em 94. Eu tinha 6 anos. Mas o palco virou uma pista de dança sem dúvida nenhuma, e foi ali que eu entendi de fato que, apesar de existir uma diferença muito pequena entre o rock’n'roll, o punk e a música eletrônica, poucas bandas conseguem chegar no limiar dos três gêneros sem soar ruins, ou poluídos, ou bregas, ou sem graça, ou pretensiosas. O Rapture é provavelmente uma delas - se a gente colocar tudo num balde e chamar de electro, eles dão um pau em Klaxons, em CSS, em New Young Pony Club, em tudo isso, muito fácil. Ao vivo o Rapture soa pesado, marcante, o bumbo até meio sufocante. Tocaram coisas do Pieces of People We Love e do Echoes, todas recebidas com igual entusiasmo, uma emendada na outra, sem tempo pra conversa ou enrolação. Saí dez minutos antes do horário marcado para o show do Kasabian pra ver que o Indie Stage tava bem cheio, com gente pulando e dançando beeem lá pra trás. O negócio tava bom mesmo. De todas, o Rapture é a banda da qual eu menos conhecia, menos sabia os nomes, menos sabia cantar e mesmo assim foi o show em que eu mais me diverti. Eu só conheço o Pieces of People We Love.
The Rapture
O último show foi o único a atrasar entre todos que eu vi. O Kasabian entrou no palco 1h30 da manhã e abriu com Shoot The Runner, em versão explosiva, com o público cantando junto. O frontman, Tom Meigham, que parece uma mistura do meu primo com o Tobey Maguire, tem uma síndrome de ‘quero ser uma banda de arena’, porque é daqueles que não param de dizer ao público o que fazer e, ali, não tinha tanto controle ainda sobre a platéia, então chegou a ficar chato algumas horas (pra ele, e pra mim, com vergonha alheia). Tocaram muitas coisas do Kasabian e do Empire, todos eles muito entusiasmados, e o Peter Parker não parava de pular e rir um segundo. Uma hora, ele começou a falar os nomes de jogadores de futebol - Kaka, Ronaldinho, Pelay, - e até fez uma brincadeira com a propaganda do Viagra do Pelé, Eu Recomendo, lembra? Não lembro exatamente o que ele disse, mas tava bem informado porque zuou o Pelé sobre a ereção de 62 horas ou algo assim. A última foi L.S.F, sensacional, com AaaAAAaaaAAaaa orquestrados pelo Tobey e cantados pelo público de lá, de cá e tal. Ele até voltou depois do fim da música pra pedir mais AaaAAaaa. Por isso que eu disse que ele tem síndrome de Eddie Vedder, quem viu Daughter dia 3/12/05 em SP entendeu, mas tudo bem. Um dia ele chega lá (?). Apesar do ‘quero ser grande’ do Kasabian, eles são bem legais e fazem um show muito legal também, têm muitos hits. O público não tava empolgaaado e nem tinha tanta gente (muios foram embora assim que o Devo acabou), mas o show é bem redondinho, tem o peso certo pra entusiasmar até quem conhece pouquinho e dá pra se divertir bem. No final eles agradeceram juntos e tudo mais.
Kasabian - Me Plus One
Pra além disso, nem cogitei ver Datarock porque eu não gosto, mas várias pessoas falaram que foi fantástico. Pena. Não dá pra ter tudo. :/
Tim Festival 2008 que se cuide. A não ser que traga o Radiohead, duvido que alguém ainda vai querer saber dele.
O suficiente por hoje né? Amanhã eu volto, acho que a gente merece tipo uma ‘coletânea planeta terra’, com várias músicas de vários caras que tocaram ontem.
Editado: Confiram a cobertura do grande César Marcio, do Indienation, que está bem completa (e bem mais técnica que a minha, aliás).
Editado - 16/11: o Ilustrada no Pop fez uma cobertura respeitável do Festival, daquelas que ensinam a gente a fazer na faculdade de jornalismo. Achou irregularidades graves na organização, sem esquecer da música. São 3 posts falando, inclusive na caixa de comentários, de problemas de estacionamento, menores barrados na porta mas podendo comprar ingresso, VIPs e VIPs não tão VIPs assim e tal. Vale à pena.
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Tags: Festival Planeta Tera, indie rock, Kasabian, Lily Allen, The Rapture, tokyo police club