02.08

2008
6:38 am

O dia em que eu quase conheci os caras do Muse

Postado em Crônicas, Música, Pop

Eu já falei uma vez sobre a energia em um show de rock. Um show de rock é sempre intenso se a banda e platéia estiverem na mesma sintonia. Mesmo pra aqueles que estão ali meio perdidos, sem saber direito o que está tocando e porquê, o show pode ser memorável porque a egrégora - o coletivo dos pensamentos compartilhados por muitas pessoas, em sintonia - do show acaba por influenciar mesmo quem não estava exatamente pensando a mesma coisa.

O show do Muse em São Paulo na última quinta, dia 31, foi um exemplo rico dessa situação. No começo do show, tinha bastante gente parada, perdida, sem cantar (mesmo com a letra aparecendo no telão, o que pra mim merece ser motivo de estudo antropológico). No fim do show, elas pareciam ter se encontrado.

(Se você quer uma resenha redondinha-jornalística-informativa do show, leia meu texto pro portal do Estadão)

Existem pessoas estúpidas em todos os lugares. Na igreja. Na praia. No campo. Na AACD. Na televisão. Nas favelas. No Morumbi. Na rua, na chuva, na fazenda ou numa casinha de sapê. Não importa onde você vá, do que as pessoas neste lugar gostam, como elas são: uma parcela delas sempre será estúpida. É estatística.

Os estúpidos do show do Muse estavam lá no meio, pouco atrás de mim, e acharam que seria divertido começar a empurrar de maneira deliberada, desmotivada e proposital quem estava na frente. Logo depois do empolgante bocejo show do Jay Vaquer.

(Parênteses: sobre o Jay Vaquer, só digo que foi uma escolha infeliz da produção. E também digo que é necessário respeitar o cara que tá ali fazendo o trabalho dele, seja chato ou não.)

Devido a porcentagem estatística de idiotas presentes no show do Muse, fiquei absolutamente sem ar bem, bem antes do show começar. Aí desisti e fui lá pra trás.

Láááá atrás tinha uma espécie de balcão. Era um espaço aberto, mais alto que o nível do chão e do qual era possível assistir o show de maneira extremamente satisfatória.

Os ets chegaram pouco antes do bis

Os ets chegaram pouco antes do bis

Duas coisas que me surpreenderam: ao vivo, as músicas deles poderiam muito bem ser dos Deftones ou coisa assim. É um peso absurdo, coisa que a gente não imagina que três caras consigam fazer. Além disso, eles têm uma porção de canções muito boas de cantar, porque têm falsetes e ‘Ôô’s e isso é tipo isca pra quem tá lá embaixo, assistindo. E são canções que funcionam ao vivo, porque utilizam a dinâmica ‘crescente’ de verso-e-refrão com muita, muita [créu] habilidadji [/créu]

É desses ‘Ôôs’ que eu tô falando. Arrepiô!

E o show foi indo de maneira bem satisfatória. Você sabe que um show tá legal quando as pessoas ao seu redor cantam todas as músicas e você está no fundo do lugar. Até que um cara cutucou minha amiga e entregou a ela um papel:

Ops, papel errado. Foi esse aqui:

MUSE SP AFTER SHOW PASS

MUSE S. PAOLO AFTER SHOW PASS

E de repente nos demos contra que tínhamos nas mãos um convite para a festa pós-show com os caras da banda. Tipo filme, sabe.

Tentei aproveitar o show até o final, mas a partir da oitava música não foi mais a mesma coisa. Ainda assim, aproveitei tudo e tal. Quando acabpu, depois de enfrentar descrença por parte da segurança (‘Você é de onde? Isso não serve pra nada’), insisti pra falar com a produção. Eles trataram bem, mas explicaram com certa impaciência que era realmente uma festa fechada com os caras da banda, que podíamos ir, mas ninguém mais poderia entrar com a gente (e estávamos com mais três pessoas). E estavam um pouco incrédulos com o fato de termos aquilo.

Ok, tínhamos contra nós o seguinte:

1 - Era a primeira vez na vida que eu dirigia em SP sozinha. Não sabia sequer voltar pra casa direito;
2 - Eu não sabia chegar até o local da festa (O Cafè de la Musique);
3 - Eu não tinha certeza, mas talvez tivéssemos que pagar pra entrar - e o Cafè é caro. Muito caro. Especialmente se o Muse estiver dentro dele, sabe;
4 - Eu tinha comigo, dentro do carro, três pessoas sem convites;

5 - Era noite e, se eu me perdesse, seria realmente difícil pedir informações;
6 - Eu estava de calça jeans e All-Star, sabe. Eu não poderia ir ao Cafè de la Musique de calça jeans e All-Star.
Beleza, seis coisas. Mas eu tentei, sabe. Eu até tentei. Só que perdi a entrada da avenida onde ficava o lugar e, na boa, estava chegando na Raposo Tavares e precisava voltar pra Santo André.

Consegui fazer o retorno e fui pra casa, triste por ter perdido uma oportunidade única nessa vida, mas crente que quando não é pra ser, não é.

Além disso, o show já valeu a pena por si só porque:

1 - Foi um bom show;
2 - Encontramos sósias do Macauley Culkin e do Christian Sheperd;
3 - Me confundiram com a Mallu Magalhães. Não vou comentar isso;
4 - Tenho em meu poder um papelzinho azul exclusivo do Muse, rabiscado por alguém do staff da banda, e dizendo que SE EU QUISESSE EU PODERIA IR A UMA FESTA COM ELES. Eu tinha a opção, sabe. O importante é ter a opção;
5 - Graças ao show, escrevi meu primeiro texto assinado no portal do Estadão.

Considero o saldo positivo. Pô, fui num puta show, de longe um dos melhores da minha vida. Vou ficar me queixando por causa de uma festa?

*Primeiras duas fotos por Ênio, o maluco loco de Curitiba. Veja os vídeos dele aqui.

**Se você não viu nenhum dos links, aqui tem minha resenha sobre o show no estadao.com.br e os vídeos que eu fiz do show no Youtube.

Posts relacionados

» Gostou? Assine o feed RSS do blog. Não sabe o que é isso? Clique aqui!

» Receba as atualizações por e-mail!

» Entre na comunidade do Olhômetro no orkut!

Tags: , , , ,

16 comentários (Comente! Trackback)

  1. Gisele
    02/08/08 | 11:37 am | #

    Pior que isso só o dia em que eu quase conheci os caras dos Strokes e do Arcade Fire. Fui para a festa pós-show do TIM Festival, mas estava TÃO bêbada que não vi nada, nadinha. Li tudo no jornal, no outro dia. Acho que isso é mais frustrante ainda: porra, não falei com os caras porque tinha abusado da champagne. Super te entendo! Mas outras oportunidades bacanas virão, tenho certeza!

    Beijo!

    Resposta: gisele, PUTIZ! Acho que eu me sentiria pior nessa situação, cara. Hhahahaha. E me lembro desse Tim (no meu caso em SP, né), eu tinha uns 16 anos, e fiquei lá e ouvi umas meninas mais velhas e descoladas conversando sobre a super festa pós-show com os caras da banda. E pensei ‘um dia tbm vou ser convidada’. Hhahahahah. Ei, nos vemos amanhã na estréia do Y!Posts?

    Responder

  1. César
    02/08/08 | 11:46 am | #

    Quem ligaria pra conhecer ou não o muse? Ninguém nem sabe quem é o Muse!

    Responder

  1. Rodrigo
    02/08/08 | 1:41 pm | #

    Eu comento o fato de terem te confundido com a Mallu, lembrando que certa vez eu disse pra vc que seu cabelo lembrava o dela.

    Resposta: cara, mas não justifica. Tipo, o cabelo? Fora que cortei desde então, sabe. Medo.

    Responder

  1. Eric Franco
    02/08/08 | 1:56 pm | #

    Já é segunda vez que quase acontece alguma coisa com você num show. E as duas não aconteceram de fato porque você mora longe (se bem que a primeira não seria nem quase se você não morasse lá, né?

    Resposta: precisamente, pequeno gafanhoto. Observação pontual do paradoxo… hahahaha

    Responder

  1. Eduardo
    02/08/08 | 3:28 pm | #

    No item 2 do “o show ja valeu apena por si só porque”, não seria “sócias” ao invés de “sósias”? =P

    Resposta: cara, na verdade, eram sósias mesmo. Tipo pessoas super-parecidas com eles. Mas valeu =)

    Responder

  1. Eduardo
    02/08/08 | 3:30 pm | #

    Ah, e bom artigo!

    Responder

  1. Lannes
    04/08/08 | 10:39 am | #

    Gostei do texto no estadão, srta jornalista. =)

    Vc tbm usa o termo: “pequeno gafanhoto?” Achei que eu e um amigo fossemos os unicos no mundo todo.

    Mallu Magalhães?! Taqueopariu. Dó de vc, sério. Mas relaxa,vc não tem NADA ver com ela. Tks God.

    E como todo mundo: outras oportunidades virão. =)
    Talvez acharam q vc era a Mallu, por isso ganho o pass! =P
    hahahahahhahahaha [/mau-muito mal]

    Responder

  1. nani
    04/08/08 | 3:40 pm | #

    explicação totalmente convincente…
    perdoada por ter perdido a balada,
    além do que, esse café de la musique é muito fresco parece, nem os caras do muse devem ter curtido… sabe lugar-socialite? então…

    Responder

  1. Camila Protazio Lima
    04/08/08 | 11:55 pm | #

    Olá!
    Pois bem, não se sinta mal por não ter ido ao Café de la musique! Eu fui no backstage por uma promoção que ganhei, e lá aproveitei o quanto eu pude, conversei, tirei foto, peguei autógrafo… Até abusei um pouco! rs Aí quando eu já estava sendo expulsa pelo organizador da promoção e estava saindo, voltou um cara do staff do backstage e me entregou um papel escrito: Cafe de la Musique. Não entendi o que ele disse (meu inglês ainda tá caminhando), mas deduzimos que a banda ia pra lá. Não pensamos duas vezes, eu e minha amiga pegamos um taxi e fomos direto, estávamos com visu pós show, acabadas - mas ainda assim nos deixaram entrar. rs Ficamos a madrugada inteira até de manhã naquele raio de lugar e nada da banda. E ninguém do local sabia de nada! Fiquei sem entender se eles não foram, se tinha um local VIP e não quiseram nos informar, ou o quê. Mas fico contente de saber que fui convidada pela banda p/ festa, mesmo sem sucesso!

    Reposta: claro que deve ter sido uma frustração pra vc, mas nem tanto, pq vc ja estava no camarim. Ainda assim, fico muito feliz de saber ! Desculpa, hahahahaha, mas a consciência fica menos pesada. Eu tbm achei estranho ser no Cafè de la Musique, que até onde eu sei não tem nada a ver com rock e tal. Mas não contestei. Eles devem ter mudado de última hora, mesmo. Fizeram bem. =)

    Responder

  1. Camila Protazio Lima
    04/08/08 | 11:59 pm | #

    Continuando: Pois é, acho que eles mudaram de lugar mesmo porque aquele lugar não tem nada a ver, nem comigo nem com o Muse!

    O lugar é fresco mesmo… Só quem eu encontrei lá foi a Hellen Ganzaroli (nem sei se é assim que escreve o nome daquela infeliz)!

    Responder

  1. Fresno x Chitaozinho e Chororó: a mistura mais lógica do mundo | Olhômetro
    11/08/08 | 5:08 am | #

    [...] conhece. Mas gosto de MÚSICA, respeito qualquer um que estiver em cima do palco tocando música (até o Jay Vaquer), sou eclética (no bom-sentido) e sou viciada em versões, remixes, arranjos diferentes e essas [...]

  1. Cegos, Surdos e Loucos - Agosto de A a Z
    31/08/08 | 11:24 pm | #

    [...] War - The Art of Title Sequence Morre Isaac Hayes - G1 Não vou no show da Madonna - Casa da Gabi O dia em que eu quase conheci os caras do Muse - Olhômetro Piranha filha da puta - Melhores do Mundo Quadrilha rouba equipamentos de Rita Lee - [...]

  1. ~Lê
    26/09/08 | 2:36 pm | #

    só digo uma coisa:

    fiquei com inveja, cara, de verdade!

    mas ah, como jornalista, você ainda vai ter a chance de ouvir a voz de Matt Bellamy pessoalmente, te concedendo uma entrevista! *-*

    [ei, eu quero isso pra mim também quando eu me formar!]

    Responder

  1. Lu
    02/10/08 | 2:02 pm | #

    Anaaaaaaaaaaaaaaaa
    adorei o post e a resenha no estadao.
    já ta motorizada? vai me levar pra onde ouvir um indie bom em SP? janeiro tô aí, me aguarde.

    vc vai longe, menina. mas isso eu já sabia.
    beijos saudosos da titia,
    Lu.

    Responder

  1. Stephen Dedalus
    24/03/09 | 8:37 pm | #

    Cara Ana,

    E eu perdi esse show pq tinha que trabalhar no dia seguinte… Fiquei morrendo de raiva! Mas agora descubro que o mundo é pqno mesmo, bem pqno.

    Um abraço!

    Responder

  1. Mauro
    06/08/10 | 1:20 am | #

    Sério!! Muse é uma droga… Jay vaquer é o melhor, o show vale por ele.

    Responder

Comente!

© Olhômetro (2007 - 2009) – Alguns direitos reservados: Licença Creative Commons (Outros tipos de permissão? Me consulte.) - Política de privacidade

  • Assine o Feed
  • Orkut
  • Wordpress
  • Ilustração por Rafael Nunes
  • Design Por Fabio Lobo