18.03
2009
2:54 pm
O tormento da tormenta (ou como fazer do limão uma caipirinha)
Postado em CrônicasDeve acontecer com todo mundo. Há um momento, uma situação específica, em que você se vê acuado. Sem ter o que fazer, sem opção (clique para ampliar):
Eu sou um pouco sádica. Tenho algo de tragicômico que é inerente à minha personalidade. Quando li essa nota, gargalhei e mandei para todos os meus amigos do ABC que ainda estavam em SP, para que eles gargalhassem junto comigo da situação bizarra em que nos encontrávamos. Nós não podíamos voltar para casa. NÓS NÃO PODÍAMOS VOLTAR PARA CASA, nenhum de nós.
Do ponto de vista de cidadania e de instituições sociais, é claro que uma coisa dessa só mostra o quão ridiculamente frágeis nós somos diante das ‘foooorrrrrrrrças da natureza’ - e nesse caso, nem foi um furacão ou um ciclone, só uma chuva de verão.
Do ponto de vista, digamos, da dignidade à qual todos nós teríamos direito - nós que (não) pegamos trens, nós que subimos no teto do carro, nós que nos agarramos em postes para não sermos levados pela correnteza - o episódio todo é só mais uma indicação de que a coisa está falida e que as opções são 1. fazer algo para reverter a situação 2. se mudar para o campo.
Mas essa discussão já foi feita à exaustão aqui, em outros posts. Vamos ao conto aquático de terça.
A certa altura, consegui falar com dois dos meus também quase afogados amigos - um ilhado na região da paulista, outra das 17h30 às 21h30 no Brás esperando os trens voltarem a circular - e tive uma fantástica idéia.
Fudido por fudido, com o perdão do termo, nos fuderíamos juntos e numa festa open bar.
No Astronete nesta terça, 17, dia de St. Patrick, a boo-box (empresa que disponibiliza o código pra eu colocar uns anúncios laranjinhas aqui embaixo) resolveu dar uma festa pra lançar algum produto (que ninguém soube qual é, perguntei pra todo mundo).
Levei meus amigos ilhados para a festa comigo, e concordamos que a melhor alternativa era ficar lá até as 4h pra esperar o trem abrir de novo - a outra seria ir para a estação de trem da Luz e conseguir pegá-lo, muito cheio, calculo que entrei meia-noite e uma da manhã. Na Luz não tinha open bar de Guiness e nem música, então concordamos que a primeira opção era mais conveniente naquele momento.
Lá, influenciada bem levemente pelo alto teor alcoólico da cerveja Guiness, que era gratuita, subi ao palco para participar de uma fabulosa batalha de iPods (que perdi, mas sem papo de perdedor, fiquei muito feliz só de poder tocar pras pessoas), dancei músicas que desconhecia, conversei com amigos de longa data (mas com os quais nunca tinha tido oportunidade de conversar por muito tempo), perdi meu único elástico de cabelo e me diverti como jamais seria possível numa terça-feira à noite de caos aquático em São Paulo.
Nós três (eu atrás da câmera) pegando o primeiro trem na Luz, às 3h59
No fim, nossa decisão foi acertada. Cheguei em casa às 5h, morta mas muito feliz. Podia ter chegado às 2h, morta e muito, muito puta da vida com o sistema e com a humanidade, sentimento que sempre me acomete depois de episódios absurdos como o de ontem.
Troquei o ativismo mental pela ignorância que sublima. Deixei de lado mais uma oportunidade de praguejar contra a fraqueza das nossas estruturas sociais e, pela primeira vez em muito tempo, optei por fingir que nada daquilo existia por algumas horas. Por algumas horas, esqueci que a cidade não funcionava lá fora, que o mundo era uma merda e que as pessoas eram ruins.
Ainda bem que, quando abri meu e-mail às 10h da manhã desta quarta, um cidadão me fez o favor de reavivar todos esses conceitos supostamente tão exagerados e pessimistas (clique para ampliar):
Só ajudando você a lembrar que existe gente escrota no mundo. Mas não precisa se abster das festas open bar. E eu sei que ressaca moral é besteira, mas aos amigos velhos e novos - se ontem disse algo um pouco extravagante, relevem. Foi sincero, mas relevem a extravagância.
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Tags: blog, boo-box, cotidiano; trolebus; historias;, pessoal e cotidiano, trens